POR AMOR
Novo disco da cantora Bebel Gilberto homenageia o baiano João Gilberto
Cantora canta as músicas do pai, que é considerado o fundador da Bossa Nova
Por Eugênio Afonso

“O disco é uma carta de amor para meu pai, mas é também um registro da minha imensa admiração por ele. Se eu não fosse filha, seria fã, a obra dele é maravilhosa”, confessa a cantora Bebel Gilberto, 57, sobre o álbum João, que acabou de lançar em homenagem a João Gilberto (1931-2019), pai da bossa nova.
Filha também de Miúcha, portanto sobrinha de Chico Buarque de Holanda e amiga de Cazuza, Bebel, desde a infância, anda muito bem acompanhada, afinal é íntima de uma ala nobre da boa música brasileira.
Nascida em Nova Iorque com o nome de Isabel Gilberto de Oliveira, Bebel reuniu, no novo álbum, um coletivo de músicos que ocupam um lugar especial em sua vida, como atesta a presença do primo (em segundo grau) Chico Brown na bateria.
Para os ouvidos bossanovistas, sobretudo, o repertório de João é um bálsamo.
Tem Adeus América (Geraldo Jacques / Haroldo Barbosa), Eu vim da Bahia (Gilberto Gil), É preciso perdoar (Alcyvando Luz / Carlos Coqueijo), Undiu (João Gilberto), Ela é carioca (Tom Jobim / Vinicius de Moraes), O pato (Jaime Silva / Neuza Teixeira), Caminhos cruzados (Tom Jobim / Newton Mendonça), Desafinado (Tom Jobim / Newton Mendonça), Valsa (João Gilberto), Eclipse (Margarita Lecouna) e Você e eu (Carlos Lyra / Vinicius de Moraes).
Bebel conta que, para chegar a essas 11 canções, privilegiou dois discos do pai: João Gilberto, de 1973, conhecido como o ‘Álbum Branco’ do artista, e Amoroso, de 1977.
“O critério foi totalmente afetivo. São canções que ouvi a minha vida inteira, tem muito da minha memória nesse disco. Eu não queria registrar apenas os clássicos, pelo contrário, evitei alguns deles, como Chega de saudade. Não quis ser óbvia”, justifica.
Referências musicais
Com projeto gráfico de Giovanni Bianco e produção musical do pianista estadunidense Thomas Bartlett (já presente no álbum anterior, Agora, de 2020), esta é a primeira vez que a cantora se arrisca a gravar os clássicos do fundador da bossa nova.
“Eu costumo dizer que só fiz esse disco agora porque ele não está mais aqui. Acho que essa homenagem em vida seria mais difícil de realizar. Fica aqui minha carta de amor e tenho certeza que ele está ouvindo, esteja ele aonde estiver”, declara a filha de João.
Ela observa ainda que não se preocupou em criar releituras completamente diferentes do estilo do pai, e confessa que é praticamente impossível não haver referências ao canto característico dele.
“Até porque também trago isso no meu DNA, mas eu quis fazer do meu jeito, com as minhas divisões, até porque é impossível cantar como papai. Eu não queria que fosse um disco de covers, sem identidade, queria que tivesse a minha cara, dialogasse com a minha trajetória e com a grande obra que meu pai deixou”, explica a sobrinha de Chico.
Segundo a cantora, a bossa nova não é importante somente para a sua carreira, mas para a música do mundo: “Não à toa é tão cultuada nos Estados Unidos, na Europa, no Japão. Eu trouxe a bossa nova para o meu trabalho, mas aponto para outros lugares. Ela é uma base fundamental para tudo que eu crio”.
E diz ainda que sua relação com o pai era de muito amor. “Nem sempre estávamos muito próximos, mas nos últimos anos acabei ficando mais ao lado dele”.
Tanto que voltou ao Brasil diversas vezes, como curadora, para acompanhar mais de perto a saúde de João Gilberto, que faleceu em 2019.
De volta ao Brasil
Estas idas e vindas acabaram fazendo com que a cantora optasse por voltar a morar no Brasil. Depois de 20 anos vivendo em Nova Iorque, Bebel decidiu pousar de vez na capital fluminense.
“Eu amo Nova Iorque, acabo tendo que estar lá sempre também por causa das minhas turnês internacionais, mas minha casa agora novamente é o Rio de Janeiro. Minha e da Ella, minha cachorrinha que tem viajado comigo o tempo todo”, ressalta Bebel.
E depois de 40 anos de carreira - dez discos, sendo nove de estúdio e um ao vivo - e quatro indicações ao Grammy, Bebel reconhece que seu trabalho ainda é mais festejado lá fora.
“Eu acho que a minha carreira aconteceu primeiro no exterior. Tanto tempo (primeiro disco) foi um marco, apresentou meu trabalho para o mundo e isso repercutiu no Brasil. Mas sempre me apresento no meu país, tenho um público muito bonito e a recepção a esse disco novo prova que cada vez mais os brasileiros têm gostado do meu trabalho”, finaliza a cantora.
Além da divulgação de João – já disponível nas melhores plataformas de streaming de música –, também está nos planos da cantora uma turnê mundial em que deve percorrer cerca de 14 países, incluindo o Brasil.
Além disso, deve vir por aí um álbum de composições inéditas de sua autoria e outro de remixes.
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