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MÚSICA

Paquito lança Xará, disco com canjas de Caetano, Gerônimo e outros

Por Francisco Castro Jr | Foto: Sora Maia | Divulgação

29/10/2019 - 10:57 h | Atualizada em 29/10/2019 - 11:08
Paquito nas águas do Porto da Barra, onde vai todo dia
Paquito nas águas do Porto da Barra, onde vai todo dia -

Às vezes – às vezes – a primeira impressão é a que vale. Com seu físico franzino e óculos inseparáveis a lhe conceder um ar intelectual, qualquer um diria que Paquito é um sujeito muito educado e de modos delicados (no melhor sentido).

Pois ele é exatamente isso. E é essa delicadeza que se sobressai como a maior características de sua obra. Xará, seu novo álbum, transborda essa delicadeza em todas as suas vinte – sim, vinte – faixas.

Ao violão e um piano eventual, ele apresenta Xará em show hoje, na Sala do Coro do Teatro Castro Alves. Há alguns meses, ele já havia feito uma prévia do novo trabalho no mesmo local, quando lançou o single Monstro (sobre vocês sabem quem), parceria com Chico César.

E “parceria” é a segunda palavra-chave de Xará. Muitíssimo bem relacionado, Paquito reuniu ao seu redor, da forma muito discreta que lhe é característica – um elenco de estrelas no novo disco.

Tem dueto com um certo santo-amarense de prenome Caetano (Barulhento), Gerônimo (voz e assovio em Porto de Chegar), Livia Nery (voz em Igual Você), Cândido Amarelo Neto (violão slide), Morotó Slim (guitarra baiana), o Kid Abelha Bruno Fortunato (guitarra), o velho parceiro dos tempos de Flores do Mal Eduardo Luedy (baixo) e outros. Tudo amarrado pela produção exata (e eventuais intervenções instrumentais) do mestre Tadeu Mascarenhas.

Enfim, tá uma joia. “Desde o disco anterior, Bossa Trash (2008), tenho usado meu violão e canto como uma base pro trabalho, em vez do padrão de uma banda. E a música que amo ouvir é econômica e sutil: João Gilberto, as demos de John Lennon, Dorival Caymmi, Caetano, Gil, Johnny Cash: um(a) cantor(a) e seu violão”, afirma Paquito.

“À medida que a coisa foi acontecendo, foram se chegando os afetos e a celebração das parcerias e participações de cantores e instrumentistas: Lívia Nery, Morotó, Tadeu, Caetano, Gerônimo, Cândido, Eduardo Luedy. O cantor não está só. A gente sempre precisa do outro”, acrescenta.

Afetos, desamor, perigo

Entre Bossa Trash e Xará, mais de uma década se passou. Podia ser menos tempo, mas as contingências de uma carreira 100% independente assim demandam: “Como sou artista alternativo e independente, o que significa ser mesmo ‘dependente’, é uma doideira a batalha pra conseguir realizar um projeto a contento. A canção Caro Canto expressa isso: ‘pra você eu faço um preço mais barato/ há tantos cantores no mercado’. Mas no fim, é meu caro canto, mesmo contaminado, e até por conta disso, mais que puro”, diz.

Mas ainda que seu canto e instrumental sejam doces e delicados, as letras dão vazão à uma ampla gama de sentimentos. “O Bossa Trash é um disco só com canções de amor. Esse é mais multifacetado. Continuam as canções de amor, acrescidas das canções de ‘desamor’, da barra pesada que temos vivido. Mas olha só, no meio disso tudo, tem uma canção sobre pertencimento e a exaltação disso, que é a que eu e Gerônimo fizemos pra praia do Porto da Barra, onde vou todo dia e amo estar”.

Além de Gerônimo, uma participação que certamente deixou Paquito muito feliz foi ter Caetano Veloso em Barulhento, uma divertida observação sobre o estilo naturalmente ruidoso dos soteropolitanos: “Caetano, como diz (o escritor Ricardo) Cury, ‘de perto é normal’. Pela ligação da tropicália com o rock, pela interpretação que ele tem do legado de joão Gilberto, e pela própria obra, Caetano é uma referência pra mim. Depois, ele escolheu uma canção em que peço silêncio aos roqueiros e à axé-music – na verdade, aos excessos e barulhos de uma cidade como Salvador”.

“E ele fez, na gravação, um canto muito sertanejo, de cantador. Ficou bala”, afirma.

No show hoje, Paquito conta com a participação preciosa de Morotó Slim, que o auxiliará a executar ao vivo as canções de Xará, mais Brisa (sobre poema de Manuel Bandeira, versão gravada por Maria Bethania) e Bossa Trash, parceria com Arto Lindsay.

“A gente faz discos pra sair cantando por aí. E amo estar no palco. Antes de subir num palco pela primeira vez, aos 15 anos, eu era um adolescente tímido e introspectivo. Subir num palco mudou minha relação com o mundo pra melhor. Por isso eu insisto. Quero ir pro interior e pras capitais, ‘correr mundo, correr perigo’, como diz Caetano”, conclui Paquito.

Confira a entrevista completa

Porque tanto tempo entre um disco e outro?

Paquito: Contingência. Como sou artista alternativo e independente, o que significa ser mesmo “dependente”, é uma doideira a batalha pra conseguir realizar um projeto a contento.

A canção “caro canto” expressa isso: “pra você eu faço um preço mais barato/ há tantos cantores no mercado”. Mas no fim, é meu caro canto, mesmo contaminado, e até por conta disso, mais que puro. E das contingências sai um disco pleno de afetos, parcerias, com um desenho que veio dar vazão a algo que tava guardado, represado, urdido na quietude, e agora veio à luz.

Os arranjos são bem econômicos e sutis. Foi algo pensado para unificar a estética do disco ou simplesmente foi assim que rolou no estúdio?

Paquito: Desde o disco anterior, “bossa trash”, tenho usado meu violão e canto como uma base pro trabalho, em vez do padrão de uma banda. E a música que amo ouvir é econômica e sutil: João Gilberto, as demos de John Lennon, Dorival Caymmi, Caetano, Gil, Johnny Cash: um(a) cantor(a) e seu violão. À medida que a coisa foi acontecendo, foram se chegando os afetos e a celebração das parcerias e participações de cantores e instrumentistas: Lívia Nery, Morotó, Tadeu, Caetano, Gerônimo, Cândido, Eduardo Luedy. O cantor não está só. A gente sempre precisa do outro.

Além da unidade estética, você diria que este disco tem uma unidade conceitual? Rola uma narrativa temática ao longo do disco?

Paquito: O conceito vem a posteriori e não a priori. Se as canções são sólidas, um conceito se desenha naturalmente a partir daí. Gosto quando Lennon questiona o conceito do Pepper dos Beatles, e diz que as canções não foram feitas pra seguir aquele conceito, eles foram ajustando e a coisa se deu, aliás, maravilhosa. Um dos poucos exemplos de música cheia de elementos que curto é a fase psicodélica dos Beatles que, mesmo colorida, não cede ao excesso. No mais, o menos é mais. O “bossa trash” é um disco só com canções de amor. Esse é mais multifacetado. Continuam as canções de amor, acrescidas das canções de “desamor”, da barra pesada do que a gente tem vivido. Mas olha só, no meio disso tudo, tem uma canção sobre pertencimento e a exaltação disso, que é a que eu e Gerônimo fizemos pra praia do Porto da Barra, o lugar onde vou todo dia e onde amo estar. No fim, são sempre canções de amor ou desamor, num sentido lato. E a palavra “xará” tem um sentido de busca do outro, e buscar o outro, mesmo sendo um xará, é lidar com a diferença. O disco também tem muitas referências à minha relação cultural com a religião, já que me considero ateu. Mas sou um ateu devoto de Santo Antônio. Principalmente, depois que compus a canção “xará”, é inevitável rezar pra Antônio quando desço a ladeira da Barra e avisto a igreja dele. E muitas das canções do disco são orações, meio sarcásticas, mas, de todo modo, orações pra tratar do meu (nosso) deslugar.

Como foi o trabalho no estúdio com o produtor Tadeu Mascarenhas e as participações?

Paquito: O trabalho começou sob a direção de Cândido Neto, o Amarelo, que não pôde finalizar o trabalho, mas contribuiu enormemente, me fazendo transpor alguns limites meus. No meio do processo, gravei “O monstro” com André T., e acabei gravando e finalizando o cd com Tadeu na Casa das Máquinas, onde já havia gravado também o Bossa Trash, há dez anos.

Tadeu e eu amamos coisas antigas, livros velhos, instrumentos ancestrais, a poeira parece que atrai a gente, e nos entendemos bem. Ele me encorajou a tocar piano no estúdio, eu cheguei meio tenso - pois a demora em terminar o disco me deixou inseguro - e ele foi me animando, me soltando, é um produtor tranquilo e um músico talentoso, tanto que tocou sanfona em várias faixas. Tadeu e Cândido, cada um do seu jeito, me botaram pra frente nesse disco.

As participações: Gerônimo é um parceiro mais recente, já fizemos cinco canções, ele me contamina de baianidade no que esta tem de melhor. Pra fazer uma canção sobre uma praia, tinha que ser ele, que entende de mar e de compor. Eu, o falso baiano, na verdade, sou profundamente baiano, e um sertanejo (nasci em Jequié) contaminado de recôncavo., pois vim cedo pra Salvador, com dez anos. Já tinha trabalhado com Livia Nery, e ela é uma musicista sólida, canta e compõe lindo, tem expressão. Então chamei pra cantar uma canção de amor simples e meio doida, “Igual você”, sob uma aparência de docilidade. Chamei a minha sobrinha Tata Honorato, de 11 anos, pra cantar comigo “O melô do aquecimento global”, porque é uma canção sobre um futuro tenebroso que fizemos pra esses jovens , então tinha de ser uma adolescente pra dizer que “o culpado é o animal que ajoelha, reza e crê”, é um samba com letra punk. Chamei Eduardo Luedy, meu parceiro mais antigo, pra tocar slide e violão numa valsa meio caipira- “por encanto”- que fizemos. E tem Morotó Slim em duas faixas. Morotó é a nossa Bethânia do rock, uma força da natureza, além de ser um super músico. Ele tinha participado do “falso baiano”, meu primeiro cd. E tocamos juntos nos 7 cabeludos, banda dedicada ao repertório de Roberto Carlos.

Como rolou essa participação com o Caetano? Vocês são amigos há algum tempo já, correto?

Paquito: Caetano, como diz ( o escritor Ricardo ) Cury, “de perto é normal”. Pela ligação da tropicália com o rock, pela interpretação que ele tem do legado de joão Gilberto, e pela própria obra, Caetano é uma referência pra mim. Depois, ele escolheu uma canção em que peço silêncio aos roqueiros e à axé-music, na verdade, aos excessos e barulhos de uma cidade como Salvador. Portanto, Caetano escolheu tocar num ponto de tensão que já gerou conversas e discordâncias entre nós . Ou seja, a admiração e afeto que sinto por ele também reside e resiste nas diferenças. E, além disso, tem o fato de estar ouvindo nossas vozes na gravação soarem juntas, aí é uma emoção muito forte. E ele fez, na gravação, um canto muito sertanejo, de cantador. Ficou bala. Conheço Caetano há tempos e, nos anos 80, tempos do Camisa, pegava mal pra um roqueiro baiano( eu tinha banda de rock, a Flores do Mal) curtir Caetano, mas nunca liguei pra isso.

Além de lançar em Salvador, pretende levar seu show a outras praças - interior, outros estados?

Paquito: Sim, claro! A gente faz discos pra sair cantando por aí. E amo estar no palco. Antes de subir num palco pela primeira vez, com 15 anos, eu era um adolescente tímido e introspectivo. Subir num palco mudou minha relação com o mundo, pra melhor. Por isso eu insisto.(rs). Quero ir pro interior e pras capitais, “correr mundo, correr perigo”, como diz Caetano.

Você diria que este é seu disco mais político, digamos assim? É difícil fugir disso hoje em dia, correto?

Paquito: Sim, mas eu procuro não fazer panfletos, busco que as canções permaneçam em sua integridade estética. “Barulhento”, que trata da poluição sonora, é um lamento lírico.

É orgânico a gente se posicionar. Escrevi a letra de “O monstro” em 2015, quando o fascismo começou a se mostrar e ficar na moda no Brasil. E os fascistas costumam se dizer democratas, quando são uma ameaça à democracia. Tenho horror a essa gente, se dizem cristãos e família, mas são semeadores de ódio. É terrível como pessoas que se dizem de bem podem se alinhar com um discurso desses, de não aceitação das diferenças e de apologia da violência. Dia desses, fui à comemoração dos 100 anos de Martin Gonçalves na escola de teatro da UFBa e amei ver as pessoas se expressando, reagindo com coragem e alegria a essa barra pesada. Tinha um astral nesse dia, mostra que é possível a gente se contrapor a esse estado de coisas. Amei ver Paulo Paiva abrindo a noite, um ator que é o teatro em essência.

Mandei a letra de “o monstro” pra Chico César, outro amigo de muito tempo, e ele fez a música. As parcerias nesse disco são nove, com parceiros distintos como Tony Lopes e Álvaro Lemos, da turma do rock. Rogério Duarte e Capinan, assim como Caetano, fazem parte do meu lastro, minha base. E Agostinho da Silva, o filósofo português que musiquei, vem reforçar isso do encontro, busca do outro.

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