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CORRE Coletivo Cênico estreia o primeiro espetáculo presencial

Grupo baiano tem quatro anos de estrada

Publicado terça-feira, 17 de outubro de 2023 às 01:30 h | Autor: Eugênio Afonso
Elenco representa um misto de curadores, mediadores culturais e obras vivas
Elenco representa um misto de curadores, mediadores culturais e obras vivas -

Museu do que Somos, peça de teatro do CORRE Coletivo Cênico, em cartaz na Sala do Coro do Teatro Castro Alves até 22 de outubro – de quinta a domingo – convida o público a experienciar o lugar de curador de uma exposição e construir um museu novo que possa espelhar, revelar as narrativas e memórias que não estão nos espaços convencionais ou hegemônicos da história. Onde os corpos dissidentes – LGBT+, pretos, interioranos, indígenas etc. – ainda não são devidamente reconhecidos e representados.

Com direção e dramaturgia de Luiz Antônio Sena Jr., a obra mistura teatro, performance e museologia para discutir questões sociais. Interativa, ela conta com a participação da plateia, que é decisiva para a construção da narrativa.

“A gente convida o público a ser curador desse museu. A peça tem a perspectiva de colocar as pessoas em movimento, de modo bem afetivo, sensorial”, explica o diretor.

“A gente é aberto à performatividade do encontro com o público. Ele vai dizer como a peça se constrói. Gosto de pensar a ideia de museu pela perspectiva das nossas presenças, do agora. A gente está construindo espaços de afirmação do imaginário dessas pessoas para as gerações que virão”, complementa Sena Jr.  

Performatividade

Em cena, três atores – Rafael Brito (Desviante, Afronte-Akulobee, PARA-ÍSO), Anderson Danttas (Ruína de Anjos, Flor de Julho, Dandara) e Muri Almeida (Banzo, Lola Apple) – atuam como um misto de curadores, mediadores culturais e obras vivas.

“O espetáculo não tem personagens, tem a performatividade do ator. Assumimos personas a partir do que somos. Há vários momentos em que vivenciamos histórias nossas. O tempo todo estamos em cena como curadores desse museu”, salienta Rafael Brito.

Para ele, este é um espetáculo de questionamentos. “Como é o seu museu, que peça ele expõe, qual história da sua vida está sendo contada nele? O espetáculo perpassa também por esses lugares de narrativas dos corpos que compõem o CORRE”.

Presencialidade

Mesmo sem nenhum financiamento, Museu do que Somos marca a estreia oficial do coletivo nos palcos, ainda que o agrupamento se dedique há quatro anos em criar experiências de afirmação das incontáveis materialidades.

“Nem todo mundo quer apoiar um grupo que fala de dissidência, LGBT+, que afirma questões raciais, de território, de corpos que vivem com HIV, da mulher preta. A gente sabe ainda o Brasil que temos, de um conservadorismo muito ferrenho”, admite Sena Jr.

O diretor explica que o grupo surgiu em 2019 e acabou ficando na virtualidade por três anos. “Nós somos artistas da presença. As artes cênicas acontecem no encontro com o público e ainda não tínhamos feito isso. Este espetáculo é a primeira obra do CORRE que acontece na presencialidade, por isso a gente diz que é nossa estreia oficial nos palcos da Bahia”, informa.

Ainda de acordo com Luiz Antônio, esta é uma peça construída no limite, na margem. “Ela fica na fronteira. Ela é teatro, mas ao mesmo tempo performance. Ela tem traços biográficos e ao mesmo tempo, camadas ficcionais. Ela fala de geologia, patrimônio. A gente acaba trazendo questões que ainda estão, de alguma forma, na margem. Vamos contar a história das pessoas que não têm suas histórias escutadas”, finaliza.

Em Museu do que Somos, Luiz Antônio Sena Jr. também assina a cenografia. A iluminação fica a cargo de Marcus Lobo, e o figurino de Guilherme Hunder – criado em parceria com o elenco – traz elementos cotidianos, como roupas, cadeiras e luminárias feitas com panelas.

Museu do Que Somos / 19, 20, 21 e 22 de outubro / quinta a sábado, às 20h, e domingo, 19h / Sala do Coro do Teatro Castro Alves / R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia) - Sympla e bilheteria do local

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