TEATRO
CORRE Coletivo Cênico estreia o primeiro espetáculo presencial
Grupo baiano tem quatro anos de estrada
Por Eugênio Afonso

Museu do que Somos, peça de teatro do CORRE Coletivo Cênico, em cartaz na Sala do Coro do Teatro Castro Alves até 22 de outubro – de quinta a domingo – convida o público a experienciar o lugar de curador de uma exposição e construir um museu novo que possa espelhar, revelar as narrativas e memórias que não estão nos espaços convencionais ou hegemônicos da história. Onde os corpos dissidentes – LGBT+, pretos, interioranos, indígenas etc. – ainda não são devidamente reconhecidos e representados.
Com direção e dramaturgia de Luiz Antônio Sena Jr., a obra mistura teatro, performance e museologia para discutir questões sociais. Interativa, ela conta com a participação da plateia, que é decisiva para a construção da narrativa.
“A gente convida o público a ser curador desse museu. A peça tem a perspectiva de colocar as pessoas em movimento, de modo bem afetivo, sensorial”, explica o diretor.
“A gente é aberto à performatividade do encontro com o público. Ele vai dizer como a peça se constrói. Gosto de pensar a ideia de museu pela perspectiva das nossas presenças, do agora. A gente está construindo espaços de afirmação do imaginário dessas pessoas para as gerações que virão”, complementa Sena Jr.
Performatividade
Em cena, três atores – Rafael Brito (Desviante, Afronte-Akulobee, PARA-ÍSO), Anderson Danttas (Ruína de Anjos, Flor de Julho, Dandara) e Muri Almeida (Banzo, Lola Apple) – atuam como um misto de curadores, mediadores culturais e obras vivas.
“O espetáculo não tem personagens, tem a performatividade do ator. Assumimos personas a partir do que somos. Há vários momentos em que vivenciamos histórias nossas. O tempo todo estamos em cena como curadores desse museu”, salienta Rafael Brito.
Para ele, este é um espetáculo de questionamentos. “Como é o seu museu, que peça ele expõe, qual história da sua vida está sendo contada nele? O espetáculo perpassa também por esses lugares de narrativas dos corpos que compõem o CORRE”.
Presencialidade
Mesmo sem nenhum financiamento, Museu do que Somos marca a estreia oficial do coletivo nos palcos, ainda que o agrupamento se dedique há quatro anos em criar experiências de afirmação das incontáveis materialidades.
“Nem todo mundo quer apoiar um grupo que fala de dissidência, LGBT+, que afirma questões raciais, de território, de corpos que vivem com HIV, da mulher preta. A gente sabe ainda o Brasil que temos, de um conservadorismo muito ferrenho”, admite Sena Jr.
O diretor explica que o grupo surgiu em 2019 e acabou ficando na virtualidade por três anos. “Nós somos artistas da presença. As artes cênicas acontecem no encontro com o público e ainda não tínhamos feito isso. Este espetáculo é a primeira obra do CORRE que acontece na presencialidade, por isso a gente diz que é nossa estreia oficial nos palcos da Bahia”, informa.
Ainda de acordo com Luiz Antônio, esta é uma peça construída no limite, na margem. “Ela fica na fronteira. Ela é teatro, mas ao mesmo tempo performance. Ela tem traços biográficos e ao mesmo tempo, camadas ficcionais. Ela fala de geologia, patrimônio. A gente acaba trazendo questões que ainda estão, de alguma forma, na margem. Vamos contar a história das pessoas que não têm suas histórias escutadas”, finaliza.
Em Museu do que Somos, Luiz Antônio Sena Jr. também assina a cenografia. A iluminação fica a cargo de Marcus Lobo, e o figurino de Guilherme Hunder – criado em parceria com o elenco – traz elementos cotidianos, como roupas, cadeiras e luminárias feitas com panelas.
Museu do Que Somos / 19, 20, 21 e 22 de outubro / quinta a sábado, às 20h, e domingo, 19h / Sala do Coro do Teatro Castro Alves / R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia) - Sympla e bilheteria do local
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