CÊNICAS
‘Espetáculo-debate’ de Aldri Anunciação reflete sobre conflitos
‘O Campo de Batalha’ volta a cartaz esta semana em Lauro de Freitas, e na próxima em Salvador
Por Israel Risan*

Uma mistura envolvente de entretenimento e reflexão a partir do teatro chega a Salvador e Região Metropolitana com o espetáculo O Campo de Batalha, drama criado pelos baianos Aldri Anunciação, Lázaro Ramos e Márcio Meireles. A peça estará em cartaz em Lauro de Freitas, no Cine-Teatro Lauro de Freitas, nesta sexta-feira, 22, e sábado, 23. No final de semana seguinte, 29 e 30, no Teatro SESI Casa Branca, na capital. As apresentações acontecem sempre às 19h.
Desde sua estreia em 2015, este espetáculo tem percorrido diversas cidades brasileiras, conquistando o público com sua abordagem provocativa sobre um futuro hipotético, marcado pela escassez de água e uma Terceira Guerra Mundial. “Toda peça de teatro é impulsionada por grandes perguntas, que se tornam conflitos na cena. O contexto escolhido, que também traz um figural temático em relação à sustentabilidade do planeta, é a escassez das águas”, contextualiza o dramaturgo Aldri Anunciação.
“A falta de água no contexto mundial, dentro da história de O Campo de Batalha, se configura não só pela razão do surgimento de uma inimizade mundial, no caso da terceira guerra mundial, como também contextualiza uma secura das personagens ali, prontas ou preparadas para batalharem. Mas não há mais munição, porque não há pólvora, a natureza não está produzindo o elemento necessário para a sua fabricação”, acrescenta.
A trama se desenrola em um momento de "hiato de guerra", um período de pausa forçada no conflito global devido à falta de munição, resultante de uma crise industrial. É nesse cenário que os protagonistas, interpretados por Aldri Anunciação e Danilo Cairo, se encontram como inimigos que não podem se atacar.
Essa situação surreal desencadeia uma aproximação entre eles, questionando a natureza das polarizações e inimizades que muitas vezes são institucionalizadas. “O tema do espetáculo é a gênese da inimizade, de onde ela surge, para além da superficialidade de você estar agredindo um ou outro, a inimizade parece que surge de algo muito mais profundo, contextual e cultural”, observa Aldri.
“E a escolha da terceira guerra mundial, como espaço dramático para abordar esse tema da inimizade, é porque eu acredito que as grandes guerras podem funcionar de forma muito alegórica para entendermos a constituição das inimizades num termo macro e também aproximando os personagens desses lugares, dessas guerras, entendemos um pouco também esse lugar, esse microcosmo do inimigo”, explica o ator / dramaturgo.
Fernanda: voz da guerra
O espetáculo se destaca por sua pesquisa dramatúrgica inovadora desenvolvida por Aldri, conhecida como "A Dramaturgia de Espetáculo-Debate", uma abordagem que busca unir o entretenimento teatral à reflexão filosófica, incorporando interações midiáticas durante a peça. “A pesquisa se pauta justamente no uso do teatro, cinema e literatura como espaços de debate e exposição de contradições de pensamentos. A dialética agindo como grande alimentadora da história e a diversão da cena se pauta na contradição de pensamento entre os personagens. O Campo de Batalha talvez seja um resultado prático desta pesquisa”, considera o artista.
A renomada atriz Fernanda Torres empresta sua voz à personagem da guerra, monitorando os soldados e influenciando a narrativa por meio de gravações reproduzidas por um DJ/VJ. “A personagem da Fernanda, que é denominada como a voz da guerra mediadora, é uma personagem bastante intrigante, porque ela entra com uma função quase que imparcial, e a gente começa a desconfiar dessa imparcialidade. A mensagem que a peça passa através disso é que reflitamos sobre aquelas figuras que entram como mediadoras entre conflitos entre inimigos, essa é a reflexão proposta”, aponta Aldri.
O Campo de Batalha já conquistou mais de 100 mil espectadores em sua trajetória e recebeu três indicações nas principais categorias do Prêmio Braskem de Teatro: Melhor Texto, Melhor Direção e Melhor Espetáculo. A peça faz parte da Trilogia do Confinamento, que inclui também as obras Namíbia, não! e Embarque Imediato.
O Campo de Batalha / Em Lauro de Freitas: Sexta-feira (22) e sábado (23), 19h / Cine-Teatro Lauro de Freitas / R$ 20, R$ 10 e R$ 29 (casadinha) / Em Salvador: Dias 29 (sexta-feira) e 30 (sábado), 19h / Teatro SESI Casa Branca / R$ 20, R$ 10 e R$ 29 (casadinha) / Vendas: Sympla
* Sob a supervisão do editor Chico Castro Jr.
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