TEATRO
Espetáculo Gota d'Água tem estreia on line nesta quarta-feira
Por Eduarda Uzêda

O clássico Gota d'Água, de Chico Buarque e Paulo Pontes (1940-1976), ganha versão baiana. A peça, direção de Vinícius Lírio (Ruína de Anjos), com os atores Evana Jeyssan (A Confraria/ Teatro La Independência) e Augusto Nascimento (O Mundo das Minhas Palavras / Propriedade Condenada), estreia nesta quarta-feira, 25, e fica em cartaz até sábado, 28, às 19 horas.
O texto, escrito em 1975 em plena ditadura, originalmente é ambientado nas favelas do Rio de Janeiro. Nesta leitura é transportado, através de elementos simbólicos, para o subúrbio ferroviário de Salvador. A peça pode ser conferida gratuitamente no YouTube (https://bit.ly/3bZTUfR).
Vinícius Lírio informa que o projeto foi idealizado por Augusto Nascimento, que assinou a codireção no ano passado. “A ideia era montar a peça integralmente com 14 atores, mas em função da pandemia tivemos que restringir a produção para dois atores”, destaca.
“Não é uma montagem realista. O texto não é linear. A abordagem que adotamos é de dança-teatro. Optamos pela partitura corporal. A estética é da periferia. O subúrbio ferroviário de Salvador, especialmente o Porto das Sardinhas, em São João dos Cabritos, é lembrado a partir de cores, formas e texturas”, diz Lírio.
No cenário, o público verá bacias e baldes, além de areia. A areia, inclusive, está no solo e nos baldes, que, em determinados trechos do espetáculo, é derramada sobre os intérpretes com diferentes metáforas. O encenador afirma que “a intenção é criar um ponto de identificação com a cidade”.
Corpo negro
A atriz, vencedora do Prêmio Braskem 2015, Evana Jeyssan fala da construção da personagem Joana. “Na minha concepção, ela é uma mulher intensa, batalhadora, que vive marginalizada, como aquelas que moram na periferia, mas que tem muita verdade e força. As experiências da vida fazem com que eu consiga trazer essa Joana, que não é tão longe da realidade da mulher negra, favelada”, diz.
A intérprete acrescenta que um dos seus objetivos foi encontrar este corpo negro em pouco tempo de ensaio. A partitura exigida pelo diretor, de acordo com a atriz, tem movimentos contidos, “o que ajuda a manter uma energia viva que não é superficial”, salienta.
Evana fala da coragem de fazer uma personagem que já foi interpretada por ninguém menos do que uma das grandes damas do teatro, Bibi Ferreira. Ela destaca que, além da pandemia, um dos desafios que enfrentou foi mostrar o canto, já que não é cantora. Se depender da opinião de seu colega de cena, Augusto Nascimento, ela cumpriu o objetivo.
“Evana é uma atriz de muita carga dramática. De grande intuição cênica”, frisa o intérprete, que foi contemporâneo da atriz na universidade e desfruta de sua amizade há dez anos. Augusto fala também da construção de seu personagem Jasão, que tem perfil bastante humanizado com várias camadas de leitura.
“Geralmente, as pessoas acreditam que Jasão é apenas um malandro, um macho escroto, mas nesta montagem ressaltamos as diversas nuances de sua personalidade. Ele tem seus defeitos, mas também tem uma certa ingenuidade e imaturidade para lidar com determinadas situações”, pontua.
Dramaturgia brasileira
Para o intérprete, que está codirigindo pela primeira vez, o problema de Jasão é não se dar conta do sistema capitalista. “Ele sente saudade do seu povo, mas não quer abrir mão da nova realidade de regalias”, salienta.
Augusto fala do objetivo da nova companhia. “Queremos apresentar ao público textos brasileiros que, normalmente, até por questões econômicas, só são vistos em escolas de teatro”, revela e informa que “ainda tenho o sonho de montar o texto da peça integralmente e sem cortes”.
Gota d’Água é baseado no clássico grego Medeia, de Eurípides. Chico e Paulo atualizaram o drama, transportando-o dos arredores da cidade grega de Corinto, em 431 a.C., para o Rio de Janeiro, com grande sucesso de público e crítica.
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