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26/06/2021 às 6:00 - há XX semanas | Autor: Eugênio Afonso

TEATRO

'O convívio com a máquina pública requer humor e uma pitada de revolta', diz Ana Paula Bouzas

'Seguimos porque sem arte não tem mundo', diz nova diretora artística do BTCA | Foto: Fábio Bouzas | Divulgação
'Seguimos porque sem arte não tem mundo', diz nova diretora artística do BTCA | Foto: Fábio Bouzas | Divulgação -

A atriz soteropolitana Ana Paula Bouzas, 49, tem um currículo vasto e uma alma pulsante, como todo artista inquieto. Agora em junho, Bouzas, que também é coreógrafa e dançarina, toma posse como diretora artística da mais importante companhia de dança oficial da Bahia, o Balé do Teatro Castro Alves (BTCA).

Com formação em licenciatura em dança e pós-graduação em preparação corporal em artes cênicas pela Faculdade Angel Vianna (RJ), Ana Paula assume o cargo com a saída do ator Wanderley Meira – que permaneceu por dois anos no posto – e, além de outros desafios, vai precisar encarar e driblar esses duros tempos pandêmicos em que estamos atolados desde março do ano passado.

Ana Paula já tem intimidade com a casa, afinal foi integrante do corpo de baile do BTCA e, no final do ano passado, assinou a coreografia do filme Abraço no Tempo, realizado pela equipe do próprio Teatro Castro Alves.

Na trajetória artística, a atriz, que já soma mais de 30 anos de carreira, acumula vários prêmios e atua também como diretora cênica e de movimento, além de preparadora de elenco em teatro, dança, cinema e televisão.

Já trabalhou em novelas, especiais e minisséries, como Sob Pressão, Malhação, Saramandaia, Cheias de Charme, Escrito nas Estrelas, Perigosas Peruas e O Sorriso do Lagarto, além de vários filmes nacionais: Marighella (Wagner Moura), Urubus (Claudio Borrelli), Medida Provisória (Lázaro Ramos), Pixinguinha (Denise Sarraceni), Dona Flor e Seus Dois Maridos (Pedro Vasconcelos), dentre outros.

Para Ana Paula, estar à frente do BTCA é uma oportunidade única de lidar com tantas histórias plurais. Ela acredita que um dos grandes desafios talvez seja gerenciar sonhos individuais e coletivos em tempos tão sem horizonte. Mas acha importante frisar que tanto o TCA quanto o balé têm um valor humano altíssimo e que trabalhar em equipe faz toda a diferença.

De volta a Salvador, depois de quase 30 anos vivendo no Rio de Janeiro, Bouzas conversou com o Caderno 2+, por e-mail, sobre projetos para a gestão à frente do BTCA, política cultural, importância da arte em sua vida, a volta para a capital baiana, produção na pandemia e o estigma de ser nordestina no ‘sul maravilha’, dentre outros temas.

Como será sua gestão à frente do BTCA? Quais seus planos?

Gostaria primeiro de dizer que me sinto muito feliz e honrada em receber esse convite. Chego com vontade de agregar com as minhas experiências num espaço que faz parte da minha vida. Esta gestão do BTCA inicia dando continuidade à gestão anterior e se construirá, no decorrer do tempo, pelo meu encontro com o balé de agora, com o TCA de hoje, e tudo o que compõe essas relações: o contexto presente da Bahia e do Brasil de 2021, mas também o exercício do olhar sobre essas trajetórias e o desejo de futuros possíveis. Os planos estão nascendo, temperados por sonhos e realidade. Um desejo grande é o de que o balé se aproxime mais da população e que ela possa se reconhecer nesse corpo artístico.

Qual será o grande desafio de dirigir artisticamente o BTCA?

Um dos grandes desafios talvez seja gerenciar sonhos individuais e coletivos em tempos nos quais nos falta horizonte. Mas é importante dizer que temos um valor humano altíssimo ali no TCA e BTCA. Estamos em equipe e isso faz toda a diferença. Trabalhar em equipe é coisa que me alimenta e encoraja.

Teremos novas coreografias e apresentações do balé ainda este ano?

Sim! Celebramos em 2021 os 40 anos do BTCA! No projeto comemorativo que vem sendo pensado com muito carinho desde a gestão anterior de Wanderley Meira, teremos a participação da população da cidade na criação da obra. Desejamos muito que a cidade venha com a gente. Importante dizer que trabalharemos dentro das possibilidades desse nosso contexto.

Como é para uma artista como você estar nesse lugar de gestora, de estar à frente de um trabalho mais burocrático?

Há tempos, nós artistas enfrentamos a tarefa de saber gerir o nosso próprio trabalho e não lembro de ter sido diferente no meu percurso. A situação aqui é outra, claro, e traz novas demandas. Dentro disso, penso que o convívio com a máquina pública requer vigilância, criticidade, persistência, coragem... mas, sobretudo, humor, respiração, desejo e uma pitada de revolta. Estou reunindo esses ingredientes.

Qual o lugar da dança na sua vida?

A dança é a minha nascente e está no princípio, meio e fim de tudo no meu fazer artístico.

Como tem sido criar e produzir na pandemia?

Não vejo romantismo. Há dureza e aridez. Há escassez, fome, dor e desatino na tragédia. Estamos em tragédia, em colapso. Mas há sobrevida entre nós porque há algo, também, de uma outra ordem talvez, que nos impulsiona a mover e seguir. Seguimos dando conta do impossível, tentando produzir beleza, reflexão, expansão, conversa e abraços possíveis. Seguimos porque sem arte não tem mundo. Arte é condição para a existência humana.

Como a atual política cultural do governo federal tem impactado a vida dos artistas?

Para mim, não há política cultural federal. Ou é como se ela não existisse, porque uma política cultural deveria propiciar o fomento da criticidade, da liberdade de expressão, dos amores, da vida. A política do governo federal para a cultura, como para todo o resto, segue outro caminho. Na verdade, o que vejo claramente é um plano violento de desmonte de conquistas realizadas até então. Mais ainda, um plano de extermínio.

Por que voltar para Salvador depois de tantos anos vivendo em uma cidade onde as oportunidades artísticas são mais abrangentes? Como é estar de volta ao lar?

O Rio de Janeiro é uma cidade muito sofrida há décadas. Talvez seja hoje das mais adoecidas deste país adoecido. Mas vivi no Rio por anos trabalhando de modo incessante e foi muito, muito rico. Nesse tempo todo sempre busquei estar aqui, fazer coisas aqui, trocar com minha gente daqui. E sempre desejei algum dia estar de volta. Chegou a hora. Estou feliz por isso.

Como foi (ou é) trabalhar na TV Globo, sonho de milhares de artistas em todo o país, sobretudo em função da visibilidade que gera.

É trabalhar em uma empresa que tem interesses próprios dentro do sistema. Aliás, como qualquer empresa. E entender que esses interesses, em alguma medida, também são os seus. Se existem pontos em comum, perceber qual o valor disso pra você no momento. Esse movimento às vezes leva tempo, as respostas oscilam e requer esforço, atenção, discernimento, enfrentamentos. E também gera provocações importantes, como pensar se você realmente deseja essa visibilidade, muitas vezes acima ou antes de tantas outras coisas.

Tem acompanhado a dança e o teatro na Bahia? O que tem achado?

Gostaria de estar mais atualizada, porque meu interesse e desejo de interagir são vorazes. Sigo tentando agarrar as oportunidades que surgem de reencontrar minhas fontes de inspiração, conhecer outros artistas, conectar, reconectar. O que sei é que a Bahia sempre teve uma produção artística em dança e teatro de muita qualidade, e continuo vendo isso. O que nos falta é mais espaço, incentivo financeiro e reconhecimento.

Ser uma atriz baiana no eixo Rio-São Paulo ainda é muito estigmatizante?

Eu penso e sinto que sim, infelizmente. Existem variantes, é claro. Por muitas razões, nem todas atrizes baianas são estigmatizadas no chamado eixo. Mas meu incômodo é perceber a persistência desse quadro. A cada dia que passa, seguimos testemunhando e vivendo a profundidade abissal das estruturas arcaicas e colonialistas em nossas realidades, e o circuito das artes não está fora disso. Seguimos em revolução para abalar e alterar essas estruturas e relações, mas precisamos de tempo. Precisamos também de coletivos nesse processo.

Que tipo de artista é você e em que palco se sente mais confortável?

Eu sou a minha história e ela é bem diversa. E intensa. E cheia de conversas com a diversidade artística. Penso que o palco hoje é qualquer espaço em que a gente possa "jogar" com alguém que esteja presente e troque conosco sobre nossas proposições, reflexões, percepções sobre a vida, o mundo. Apenas isso e tudo isso. Paixão, comprometimento e suor são necessários. Sendo assim, se tem uma espectadora, um espectador, e estamos nesse jogo desse jeito, eu sou livre. A cena, onde quer que se dê, me oferece sempre a liberdade maior.

Como você quer que a sua gestão à frente do BTCA seja lembrada?

Sou inquieta. Talvez seja um traço. Mas gosto muito de escutar. Esse é outro. Veremos o que virá dessa mistura.

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