DIA DO ARTISTA DE TEATRO
O teatro resiste: em meio a desafios, artistas baianos celebram dia 19
Dia do Artista de Teatro é comemorado neste sábado; Portal A TARDE conversou com cinco nomes da arte no estado
Por Franciano Gomes*

Mesmo com o avanço tecnológico e o crescimento dos streamings, o teatro ainda continua tirando pessoas de casa para viver experiências em diversos espaços espalhados pelas cidades. Existem muitas pessoas que mantêm suas vidas através desta arte, como única ou principal fonte de renda, em cargos que vão desde ator e diretor, passando por cenógrafo e coreógrafo. Este sábado, 19, é uma data de comemoração para estes profissionais, pois marca o Dia do Artista de Teatro.
A homenagem surgiu a partir do Decreto de Lei nº 6.533, de 24 de maio de 1978, que regulamenta as profissões de artistas e de técnico em espetáculos de diversões. Apesar da lei ter sido criada no dia 24 de maio, só entrou em vigor em 19 de agosto daquele ano, por isso, a escolha para celebrar os artistas.
Quem está na plateia, em meio a sorrisos, lágrimas e diversas outras emoções, muitas vezes não consegue imaginar o trabalho que estes profissionais tiveram para fazer o espetáculo acontecer. São dias trabalhando com som, iluminação, cenário, figurino, direção e atuação. Horas de dedicação que são traduzidas na montagem que ali se apresenta para todos os espectadores.
Para homenagear esses trabalhadores que, com criatividade e expressão, dão vida à arte cênica soteropolitana e levam o teatro baiano para todo o país, o Portal A TARDE conversou com alguns artistas e os convidou a compartilhar suas experiências.
O ator e diretor da Cia. Baiana de Patifaria, Lelo Filho, é um dos grandes nomes do teatro baiano. Com uma carreira de mais de 40 anos, ele já percorreu todo o país com o espetáculo "A Bofetada" e chegou até Nova York, nos Estados Unidos, com o musical “As Noviças Rebeldes”.

Lelo conta que assistiu a virada dos anos 80 para 90, quando o público deixou de prestigiar apenas produções de fora e passou a valorizar o ouro da casa. Ele pontuou que o Dia do Artista de Teatro é importante para enaltecer também os profissionais que atuam nos bastidores e para o público entender sua importância na manutenção desta arte.
"É um momento de reflexão, para o público entender que esta conexão entre palco e plateia continua existindo. Então, prestigiem, assistam, compartilhem, divulguem, falem, pois o teatro baiano é rico, poderoso, plural, e tem teatro para todos os gostos sendo produzido aqui".
O dramaturgo, ator e diretor de teatro Aldri Anunciação é autor da peça "Namíbia, Não!", que originou o longa-metragem 'Medida Provisória', dirigido por Lázaro Ramos. Ele atualmente está em cartaz com o espetáculo "Campo de Batalha", no Teatro da Cidade do Saber, em Camaçari.

O artista pontua que o teatro é uma das manifestações artísticas mais genuínas que há no Brasil. "É uma das expressões mais humanas, mais presenciais, mais importantes e necessárias, porque a gente está ali presente, faz parte de uma uma elaboração de pensamento e esse pensamento vem de forma divertida, em forma de comédia, de drama", afirma.
Aldri frisa que, apesar da beleza, a arte enfrenta várias dificuldades para seguir existindo. "Os desafios são muito grandes porque as produções exigem muitos recursos, muito tempo e energia de quem está ali na frente fazendo esses espetáculos".
Ele considera que o teatro tem como principal diferencial a aproximação com o público e deixa uma dica aos iniciantes. "Estude o mundo, as sociedades, as relações humanas, procure ouvir, é muito importante ouvir no teatro, não é só falar. Ouvir muito e entender o que está sendo dito, compreender, saber lidar com as discordâncias um do outro. Teatro é isso, é conflito bem regulado, é conflito, ouvido, é conflito transformado em positividade".
Ator, dramaturgo, diretor de teatro e cenógrafo, Fernando Santana, que começou na carreira trabalhando em sua comunidade, coleciona diversas peças, atuando como ator e diretor. Ele faz parte também do Colectivo Âmbar: Rede de Artistas da América Latina.

Neste ano, Fernando ficou em cartaz até o mês de junho com o espetáculo "Mais pra lá do que pra cá", dividindo o palco com o ator Daniel Calibam. O artista se diz grato pelo teatro resistir e persistir com o passar dos tempos.
"É com muito orgulho que fazemos teatro nessa cidade chamada Salvador. É com muito empenho. Aqui, sim, temos o celeiro dos grandes artistas que já enquadram esse cenário nacional e internacional com seu talento, com seu brilho, com seu jeito baiano de fazer teatro, de fazer cinema".
Fernando ressalta que o teatro sempre se reinventa. "Quantos períodos difíceis nós passamos, quanta coisa complicada nós tivemos que enfrentar e se reinventar...mas é isso, o teatro resiste e continua brilhando e abrilhantando o coração de muita gente".
Também atuantes no cenário teatral baiano, as atrizes e arte-educadoras Emillie Lapa e Natalyne Santos atuam e dirigem juntas o espetáculo musical “Mariar um mar de poesias”, que presta uma homenagem a mulheres marisqueiras, em especial do município de São Francisco do Conde. A dupla assina ainda a direção musical de "Dandara na Terra dos Palmares", trazendo canções inéditas com influências dos ritmos afro-brasileiros nas criações.
Emillie e Natalyne Santos reforçam as várias funções que desempenham durante a montagem e execução de um espetáculo, como produção, direção, textos autorais, canções e iluminação. “E esse é um grande desafio dos artistas e dos artistas negros e negras, principalmente na cidade de Salvador, cenário soteropolitano. A gente se autoproduz e é preciso que a gente faça tudo isso, pra fazer as coisas acontecerem”, diz Natalyne Santos.

As artistas ainda reforçam a necessidade de se acreditar nos projetos, para que eles possam acontecer. “E acreditem que vocês podem ser protagonistas das histórias que vocês vivenciam, a gente tem os desafios, os sabores e os dissabores, mas a arte nos movimenta, a música, a teatralidade, a produção, tudo isso nos impulsiona", afirma Emillie.

*Sob supervisão de Bianca Carneiro
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Siga nossas redes