TEATRO
Pesquisadora fala sobre platéia de teatro e Shakespeare
Por Eduarda Uzêda

A inglesa Bridget Escolme, professora de artes dramáticas da Queen Mary University of London e pesquisadora de história do teatro e produções contemporâneas está pela primeira vez em Salvador. Ela participa do Fórum Shakespeare, que acontece desde segunda-feira e até domingo, no Teatro Vila Velha.
Membro da International Shakespeare Association, a estudiosa conversou com a reportagem de A TARDE sobre pesquisas desenvolvidas por ela sobre performance e audiência na produção de Shakespeare, o trabalho que desenvolverá com atores baianos e a atualidade do dramaturgo inglês.
Bridget, que também é membro-fundadora da rede Shakespeare in Performance (um seminário internacional para críticos de performances de obras hakespearianas), também falou sobre as primeiras impressões sobre a cidade de Salvador, que a impressionou pelas cores e mistura da arquitetura.
E não se furtou a falar de curiosidades como a recente ossada de Ricardo III, o rei que teria governado a Inglaterra entre 1483 e 1485 e que também foi personagem de Shakespeare.
A senhora participa do Fórum Shakespeare, intercâmbio artístico e educativo entre o Brasil e o Reino Unido, que tem o objetivo de celebrar o legado do bardo inglês. Além da participação em inúmeras palestras, também realiza um workshop com jovens atores baianos. Qual é o foco deste trabalho?
Trabalho com a obra Hamlet, de Shakespeare, focalizando duas coisas: a relação entre ator e a plateia e personagem fictícia e plateia. O que temos que lembrar é que a plateia de Shakespeare deve ser vista. Para o teatro contemporâneo é muito fácil fingir que a plateia não existe. Na época de Shakespeare, isto era impossível. É interessante que os jovens que vão trabalhar com personagens de Shakespeare percebam a existência da plateia. E que façam referência ao próprio teatro onde a obra de Shakespeare é apresentada.
A senhora, inclusive, publicou recentemente o trabalho Talking to the Audience, que explora a relação entre a performance e a audiência na produção de Shakespeare. Poderia falar sobre esta pesquisa?
Nos textos modernos, aparecem as rubricas e apartes, mas na época de Shakespeare eles não existiam. Muitos momentos do texto eram falados para a plateia. O que é incrível em Shakespeare é que os personagens eram construídos junto com a plateia. As identidades dos personagens não são fixas. Elas são construídas no processo da peça. E esta ideia de identidade construída no processo teatral em Shakespeare é muito interessante. Já meu segundo livro trata do excesso emocional no palco elizabetano. Na época de Shakespeare não era tão maravilhoso expressar as emoções.
As obras de Shakespeare cada vez mais são estudadas e ganham novas leituras e versões para o teatro, cinema e televisão. Shakespeare é sempre atual, não?
Todas as peças de Shakespeare trazem questões universais. O que faz a atualidade é o processo da dramaturgia, que é utilizado para explorar estes temas. Shakespeare faz importantes transições, por exemplo, entre o indivíduo e o coletivo, entre o pessoal e o político. Mas eu imagino que para um jovem ator seja dificil fazer estas transições rápidas.
Observamos que a senhora participa de vários seminários no Fórum Shakespeare, inclusive um cujo tema é Shakespeare e a construção do futuro - Shakespeare na educação. Poderia falar de sua experiência nesta área?
Comecei como professora na escola pública aos 23 anos. Ensinei 10 anos em escolas de 2º grau. E Shakespeare é obrigatório nas escolas da Inglaterra. A linguagem de Shakespeare é difícil. A descoberta é permitir que as peças pareçam estranhas. Quando se trabalha Shakespeare com o adolescente, não tem que vender o peixe como algo acessível. Em alguns momento o jovem se identifica com Shakespeare e em outros, não.
Que obras de Shakespeare a senhora, pessoalmente, mais gosta?
Hamlet, Troílo e Créssida e Medida por Medida
Recentemente foram descobertas as ossadas atribuídas ao Rei Ricardo III, que Shakespeare retratou exagerando-lhe as características físicas de feiúra e ambição....
Há em Londres a sociedade Ricardo III que quer proteger a reputação do rei contra Shakespeare. Para a sociedade, a descoberta foi maravilhosa (risos).
Que achou do Teatro Vila Velha?
Márcio Meirelles me explicou a história do teatro, que nasceu da iniciativa de atores. A paixão deste grupo é a mesma dos artistas da época de Shakespeare
Que impressão inicial teve de Salvador?
Uma cidade com muitas cores, muita cultura e com arquitetura diversificada.
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