A primeira coisa que precisa ser dita sobre A Fórmula é: se trata de uma comédia. Esperar complexidade e reflexão de uma trama do gênero talvez não seja o melhor caminho. Seu objetivo máximo é fazer rir e, no caso da nova minissérie da Globo, a premissa é bastante clara.
Escrita por Mauro Wilson e Marcelo Saback, a série se define como uma comédia romântica ao apresentar a história do casal Angélica e Ricardo e o sonho em comum de estudar e fazer pesquisa em Harvard.
A fotografia da produção é muito bonita e isso se revela logo nos primeiros minutos do piloto. Esse traço está principalmente nas cenas que antecedem o ponto de partida da trama, com os tons pastéis indicando que aquilo aconteceu há muitos anos.
Isso porque A Fórmula acontece em dois tempos: no passado, quando o casal Angélica (Luisa Arraes) e Ricardo (Kleber Toledo) sonhava em morar fora, e no presente, trinta anos depois. Na fase madura, os protagonistas ficam na pele de Drica Moraes, cuja carreira é marcada pelas comédias, e Fábio Assunção.
A distinção é importante mais do que para sinalizar a passagem dos anos. No passado, o casal apaixonado vivia o dilema do que fazer caso um dos dois não conseguisse a bolsa de estudos. É aqui que a série fica um pouco problemática.
Quando jovens, eles são apresentados como extremamente apaixonados: café na cama, romance, beijos à esmo e o pacote completo. No futuro, sabemos que algo deu errado e impediu que Angélica e Ricardo vivessem tão felizes para sempre quanto possíveis.
Bom, no meio do caminho tinha uma bolsa para Harvard.
Chuva de spoilers
Não tardamos a descobrir duas coisas sobre Angélica: a primeira é que ela é descrita como mais inteligente e talentosa no ramo da ciência do que o namorado. E a segunda é sobre o fato de que ela gosta muito mais dele do que é recíproco.
Tanto que é a garota quem recebe a bolsa e vê o namorado ser rejeitado. A série envereda pelo óbvio: ela desiste de Harvard em nome do relacionamento. E vai então mais uma vez para o caminho do previsível: a vaga vai para Ricardo, que a aceita sem pensar duas vezes.
O clichê é ruim? Não necessariamente, considerando ser A Fórmula uma comédia. No entanto, o recurso usado pela narrativa é pouco substancial e francamente revoltante. A piada vem pronta.
Os anos se passam e lá estão os dois em um congresso científico: Angélica tentando viabilizar patrocínio para a sua pesquisa, enquanto Ricardo apresenta uma palestra que mais parece um show de pop.
O contraste entre eles é proposital e, mais uma vez, serve para sentir um misto de raiva e pena pelo personagem de Fábio Assunção – um cinquentão obcecado por parecer jovem e que estrela as propagandas de sua pesquisa, angariando fãs que querem fotos e autógrafos.
É a primeira vez que os dois se encontram depois do término do relacionamento e ele parece bastante decepcionado com a aparência da cientista. Oi? É sério isso?
A futilidade de Ricardo é a mesma de quando abandonou o suposto “amor da vida” sem pensar duas vezes ou conversar com ela sobre o assunto. Só que a coisa piora. Não apenas por Angélica se importar com a opinião do ex-namorado, mas pelo modo como a questão da idade é conduzida na série.
O discurso central é o medo de envelhecer. Na pesquisa de Ricardo, isso é combatido com aplicações, cremes e todas as medidas possíveis para retardar o tempo. Na de Angélica, é por meio de uma injeção que faz com que suas células voltem ao que eram na casa dos 20.
Quando um possível investidor reclama do tempo para concluir a pesquisa – afinal, as pessoas querem ficar jovens para sempre o mais rápido possível –, a cientista decide testar as fórmulas da juventude em si mesma para acelerar o processo.
Dá certo ao ponto de ela nem perceber. E aí vem outra parte problemática do piloto. Angélica esbarra com Ricardo sem saber que seu estudo deu certo e ela tem a mesma aparência de quando eles namoravam. Na ótica de Ricardo, no entanto, ela é uma completa desconhecida que parece com a ex.
E então eles se agarram. Assim do nada e de um modo bastante desagradável. Depois, ao invés de comemorar o sucesso da pesquisa de uma vida toda, a protagonista bola um plano de vingança para o antigo amor que só a deseja enquanto está com a aparência jovem (que, por sinal, não dura para sempre nem com a fórmula milagrosa, então Angélica é vivida pelas duas atrizes).
O problema maior aqui é na perseguição pelo ideal da juventude. Se a intenção era fazer uma crítica bem-humorada à isso, a execução foi falha. É difícil sentir empatia pelos personagens e o discurso utilizado.
Baseado no piloto - isso tudo acontece em 32 minutos –, o seriado da Globo faz mais torcer o nariz do que rir. Acreditar no casal, como é a proposta da comédia romântica, é difícil.
O destaque merecido vai para Luisa Arraes, cuja atuação, principalmente nas cenas em que vive a cientista no retorno ao corpo jovem, é excelente.
Os episódios de A Fórmula estão disponíveis no Globo Play e, às quintas-feiras, na televisão. É ruim? Não. Mas envelhecer também não.