TELEVISÃO
Humberto Carrão: "o tempo atual cobra mais sobre o que você pensa"
Por Isabel Rodrigues | Estadão Conteúdo

Intensidade é uma palavra apropriada à vida de Humberto Carrão. O ator começou o ano envolvido com as gravações do filme brasileiro Aquarius, do diretor Kleber Mendonça Filho; estreou como diretor de cinema ao fazer dois curtas – À Festa, à Guerra e Regeneração – e interpreta o jovem Tiago, em A Lei do Amor, novela da faixa das 21h da TV Globo.
Na trama de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari, o personagem interpretado por Humberto Carrão vive às voltas com dilemas. A família é envolvida com negócios suspeitos, mas ele não quer participar disso. Ele ainda foi noivo de Letícia, vivida por Isabella Santoni, mas se apaixonou por Isabela, de Alice Wegmann.
"Ele não é bobo, não é ingênuo. Só não percebeu ainda muitas coisas que acontecem", observa o ator que, na vida real, é conhecido por defender suas posições políticas. Leia a entrevista completa.
Tiago se apaixonou pela Isabela quando ainda era noivo da Letícia. Terminou o noivado e fez sua escolha. Ainda assim, você acha que o público tende a torcer mais pela Letícia por causa da doença dela?
Não sei. Ele se apaixonou. E acho que demorou para conseguir assumir isso, para ter coragem de romper o noivado. É uma história bonita dos dois, porque ela tinha acabado de se curar de uma leucemia, eles são muito amigos... A decisão dele é para poder ser feliz e não só fazer o que mantém as aparências.
Mas ele não é mau-caráter por isso...
Não! Ele se apaixonou. E eu não estou defendendo ele. É uma história de amor. E histórias de amor podem ser conturbadas também.
Como você descreveria o Tiago?
Ele não é bobo, não é ingênuo. Só ainda não percebeu muitas coisas que acontecem. E na vida é assim. Me interessa nele a ideia de ser um mocinho sem necessariamente ser aquela coisa definida. Claro, ele faz parte de uma história romântica da trama, mas sem necessariamente ser aquele mocinho do bem. Acho que o que acontece com ele, de se apaixonar por outra, pode acontecer com qualquer um.
Ele começa a desconfiar de algumas atitudes tomadas pela família, principalmente pela avó...
A família toda dele está envolvida com política e ele começa a perceber algumas coisas que antes não percebia. Até onde eu sei, o Tiago não se envolve nessa questão, não assume um cargo público. A história dele é um processo de percepção da vida, da sociedade, e ele é um cara muito do bem.
Antes de começar a gravar A Lei do Amor você esteve em Aquarius, um filme que foi destacado pela crítica e pelo público. Qual o balanço que faz deste trabalho e o que tirou da parceria com a Sonia Braga?
Eu acho que estamos vivendo um momento muito lindo e muito importante ao ver essa volta da Sonia em um filme brasileiro, feito por um pernambucano (o diretor Kleber Mendonça Filho) e não em um filme americano. É um trabalho que ganhou essa força, que foi para o Festival de Cannes, não é qualquer coisa. É muito bonito, me dá orgulho... Ah, a Sonia Braga é uma instituição. Já no primeiro contato ela quebra o gelo, ela fala 'me dá um abraço, vamos conversar'. Qualquer possibilidade de estranhamento é rapidamente quebrada.
Acha que está no auge de sua carreira artística?
Eu não acho que tenha a ver com auge ou com um momento em especial. Acho que a vida são momentos especiais e a sequência deles. Eu fui muito feliz com Aquarius, fui muito feliz com dois curtas que acabei de dirigir e foram para alguns festivais (e foram premiados). Tenho muita vontade de continuar trabalhando como diretor. Acho que o momento é de seguir, e de pensar, trazer coisas novas para a cabeça, e vontade de trabalhar com outras coisas.
Tiago vem de uma família poderosa e envolvida na política, mas ainda não se colocou no assunto. Você é bem politizado e diz o que pensa. Acha que isso te atrapalha ou ajuda de alguma forma?
Acho que o tempo atual cobra mais sobre o que você está pensando. E isso nem é uma questão de lado. Eu, assim como qualquer outra pessoa, tenho o direito de me expressar, de dizer o que estou pensando. Se estamos vivendo esse momento, é natural que as pessoas tenham interesse em saber quem é aquele ator ou atriz que admira. Acho que não se posicionar também é uma responsabilidade que se assume. Se amanhã alguma pessoa não quiser trabalhar comigo porque eu penso à esquerda, provavelmente não me interessa trabalhar com essa pessoa. Assim como eu já ouvi falar de várias pessoas que não trabalhariam com determinados atores que se posicionaram a favor do impeachment. E eu também acho errado, porque é uma patrulha para o mesmo lado. Não faz sentido não trabalhar com uma pessoa porque ela pensa diferente. Acho que qualquer sociedade, qualquer relação, se desenvolve com o encontro de diferenças, no diálogo.
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