TELEVISÃO
O peso de um erro
Por Débora Rezende l Especial para A TARDE l e-mail e Instagram (@rezendebs)

Séries sobre a rotina de um hospital não são novidade no universo da televisão - de House e seus mistérios médicos até os dramas românticos de Grey’s Anatomy, para citar apenas as produções mais recentes, muito tem sido veiculado nas telinhas sobre os jalecos brancos.
Nesse cenário repleto de sangue, doenças e relacionamentos pelos corredores, é difícil surpreender. A novata The Resident, que estreou na última quarta-feira no canal FOX, tenta. E com sucesso.
Os pacientes aparecem, as cirurgias, casos amorosos e disputas de poder como em qualquer outra produção dramática que tenta sustentar seus 40 minutos de episódio. Aqui, no entanto, há um elemento central na narrativa: o erro médico.
A série ousa em trazer a negligência dos profissionais de saúde - uma das principais causas de morte hospitalar nos Estados Unidos, país de origem do seriado. The Resident mostra, desde o seu primeiro momento no ar, a frequência com a qual isso acontece e o fato de que, muitas vezes, é encoberto e o fato manipulado para não parecer que houve um erro humano.
A história se passa no Chastain Memorial Hospital, onde o famoso chefe de cirurgia, o Dr. Soloman Bell (Bruce Greenwood) é o primeiro grande personagem que conhecemos. Como? Porque, em uma simples cirurgia - na qual a equipe se divertia fazendo selfies -, ele acaba cometendo um erro com o bisturi, acertando uma artéria importante e causando a morte do paciente.
Isso acontece nos primeiros cinco minutos da série e dita o tom do que veremos a seguir - toda a situação é manipulada para fazer com que o caso pareça um ataque cardíaco fulminante. A prática, como percebemos, é comum. Para proteger as estrelas do hospital e livrar médicos de processos, a ética profissional (e humana) é posta completamente de lado.
A discussão é extremamente interessante: até onde se vai para não admitir uma falha e aceitar o peso das consequências? Aqui, não é apenas a ética de um médico sobre a qual estamos falando, mas a moral das relações humanas, tão facilmente corrompida quando há uma ameaça.
Esperanças em jogo
O residente primeiranista Devon Pravesh (Manish Dayal) entra nesse hospital cheio de sonhos, como descobrimos também logo no primeiro episódio. Aparece como o típico médico iniciante: louco para colocar a mão na massa, achando que sabe de tudo e sem querer ouvir a voz dos mais velhos.
Seu “mentor” é um residente mais velho - Dr. Conrad Hawkins (Matt Czuchry), apresentado como aquele cara chato, arrogante, metido, mas muito bom no seu trabalho. E ex-namorado da enfermeira Nicolette Nevin (Emily VanCamp), que passa a guiar o novato e dar conselhos.
A estrutura não é extremamente diferente do que já conhecemos: médicos que se envolvem e protagonizam cenas de romance nas salas de descanso, pacientes e suas histórias tristes, a equipe se envolvendo e trazendo o aspecto humano.
Além da moral duvidosa que a série põe em discussão, há outro ponto extremamente interessante. Enquanto o manipulador chefe da cirurgia é venerado pela imprensa, a equipe e as mídias sociais, uma médica nigeriana, a Dra. Mina Okafor (Shaunette Renée Wilson), não tem nem metade desse destaque,
A desculpa é a sua falta de empatia com os pacientes, mas o fato de ser mulher e negra mostra que seu pouco reconhecimento envolve questões mais complexas do que o modo como ela se relaciona com os outros.
The Resident é uma série que veio e merece ficar. Ela vem no hall das séries que partem de uma rotina simples para entrar em pontos delicados da essência humana. Se não viu ainda, corrija o lapso.
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