CULTURA
De vermelho e branco, fiéis reforçam devoção à Santa Bárbara
Por Thais Seixas

As cores vermelha e branca ganharam o Largo do Pelourinho na manhã desta quarta-feira, 4, quando é celebrada a Festa de Santa Bárbara, reconhecida como Patrimônio Imaterial da Bahia desde 2008.
A programação incluiu uma missa campal, às 8h, de onde os devotos partem em caminhada até o Corpo de Bombeiros, passando pela Baixa dos Sapateiros (JJ Seabra).
Antes das 7h, alguns fiéis já aguardavam o início da celebração, como a autônoma Iza Nascimento, que já participa da festa há alguns anos. "Antes, eu ia à Igreja da Liberdade, mas depois comecei a vir aqui para o Pelourinho e, este ano, trouxe minha cunhada. Tenho muita fé em Santa Bárbara, que me concedeu muitas graças. Uma delas foi o meu filho, que nasceu no dia 6 de dezembro", ressalta.

Para muitos fiéis, a motivação da festa é Santa Bárbara, mas para os adeptos do candomblé, a data é dedicada a Iansã, que foi associada no processo histórico do sincretismo religioso.
Patrimônio imaterial da Bahia
O registro da Festa de Santa Bárbara, como patrimônio imaterial da Bahia, foi dado no início em 2004, mas o tombamento definitivo só aconteceu em 2008. A festa é a primeira manifestação litúrgico-popular de Salvador a entrar no processo de salvaguarda em nível estadual. A celebração acontece desde os anos de 1980, na Igreja Rosário dos Pretos, localizada no Largo do Pelourinho. Desta forma, a capela ficou associada à atual Festa de Santa Bárbara.
A devoção começou em 1641, no século XVII, quando um casal de europeus que veio morar no Brasil trouxe a primeira imagem para capital baiana e construiu uma capelinha para abrigar a imagem no bairro do Comércio, de acordo com pesquisas do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac).
Corpo de Bombeiros
Padroeira do Corpo de Bombeiros da Bahia, a devoção começou no início do século XX. A relação entre a corporação e a santa teria começado após um grande incêndio provocado por uma explosão de fogos, provavelmente, em 4 de dezembro de 1908, que destruiu lojas no bairro do Comércio. Todos os anos a instituição oferece o tradicional caruru durante a festa.

A turismóloga Nira Cabral já participa da festa há 15 anos e trouxe as duas filhas, Maria Morena e Maria Antônia, de 5 e 4 anos, respectivamente. Ela explica que tenta passar a mensagem de fé para as meninas, a questão do sincretismo e, principalmente, o respeito entre as religiões.
À reportagem, ela contou que a primeira filha nasceu justamente em dezembro e vem desde a barriga da mãe para a festa, enquanto a mais nova está vindo pela primeira vez. "Passo principalmente a mensagem da fé, do agradecimento em termos de saúde, de união e de harmonia. Essa é a importância que eu transmito a elas, que o sincretismo religioso é o respeito pelo estado onde elas nasceram", frisou.
Confira a saída da procissão:
Riqueza imaterial
Ao Portal A TARDE, o diretor do Centro de Culturas Populares e Identitárias (CCPI), André Reis, falou do processo de reconhecimento imaterial do festejo. Conforme ressaltou, a riqueza do evento serviu de exemplo para governo português, em 2006.
"Quando [os portugueses] viram todo este cenário, a riqueza da festa patrimonializada, eles levaram isso e homenagearam no dia seguinte, na maior festa que ocorre no Governo de Lisboa, em homenagem à Festa de Santa Bárbara, que são as Marchas Populares. Isso mostra a importância de uma festa como esta, que está relacionada com fé e devoção", pontuou, ressaltando que baianos e turistas entendem "que esta festa abre o ciclo de todas as festas da Bahia até o Carnaval".
Iansã
No Candomblé, Santa Bárbara é conhecida como Iansã. Os fiéis que participam da festa aproveitam a celebração para recorrer aos pais de santo que ficam em frente à Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos.

"Tenho mais de 30 anos que bato folhas nos devotos de Santa Bárbara, que vem para a festa. Dou paz, bênção, saúde, sossego e prosperidade. Santa Bárbara no Candomblé é Iansã. Tem muitos fiéis que vem celebrar Iansã, porque no candomblé, ela é guerreira, do raio, do fogo, que ajuda os devotos", explicou o pai de santo Roberto dos Santos, conhecido como Pai Roberto de Ogun.












Compartilhe essa notícia com seus amigos
Cidadão Repórter
Contribua para o portal com vídeos, áudios e textos sobre o que está acontecendo em seu bairro
Siga nossas redes