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CULTURA

Diretora rebate críticas ao "sotaque" Ó Paí Ó

Por Lucas Cunha

29/03/2007 - 20:54 h

Às vésperas da estréia do seu terceiro longa, “Ó Pai, Ӕ, a diretora baiana Monique Gardenberg mostra estar preparada para o que ela chama de "preconceito" de acordo com a recepção inicial do filme e que deve crescer ainda mais a partir desta sexta, quando as suas 100 cópias chegam aos cinemas de todo o país. Em entrevista, Monique parte para o ataque daqueles que criticam o chamado "marketing agressivo" que envolveu desde a poderosa produção de Paula Lavigne, o apoio da Globo Filmes e até um trio elétrico em pleno domingo de Carnaval em Salvador com chamada direta para o jornalístico Fantástico dizendo que “enquanto as pessoas pensarem pequeno, não vão sair do lugar”.



Além disso, Monique rebate aqueles que não encaram “Ó Pai, Ӕ como uma produção baiana - desde que o filme fora exibido em primeira mão em Salvador, na Concha Acústica, a discussão tomou fôlego entre realizadores, devido à permanência da diretora no Rio de Janeiro -, indo além e se incluindo entre os nomes do novo cinema baiano: “Me orgulho em dizer que faço parte, talvez, de um movimento muito forte do novo cinema da Bahia. Mas se não me quiserem, tudo bem”.



Mesmo com esse discurso ríspido, Monique ainda encontra em sua nova produção uma leveza que diz não ter encontrado em seus trabalhos anteriores, tendo conseguido uma espécie de libertação para conseguir trabalhar com o humor, sem deixar de trabalhar o lado político/social, que a diretora faz questão que esteja presente em todos seus trabalhos. É com essa visão que Monique exalta seu mais novo trabalho e aponta o seu provável próximo projeto, sobre garotas judias que se faziam passar por polonesas para ajudar no levante de Varsóvia. Tudo sem perder a leveza e o humor: “Por mais que você esteja no epicentro da desgraça humana que foi o holocausto não era impossível que tivesse humor”.



Leia, abaixo, a entrevista:



A TARDE On Line - Como foi a recepção de “Ó Paí, Ӕ nas pré-estréias em outras capitais?

Monique Gardenberg:
A grande dúvida era como o filme iria se comunicar fora da Bahia, se iam compreender aquele universo... mas foi incrível. Tanto em São Paulo quanto no Rio, as pessoas saíram bem impressionadas do cinema. Estavam diante de um filme que tem pessoas pobres e negras, mas alegres, divertidas e humanas, com questões parecidas com as de todos. Cada um tem um sonho: sua questão de sobrevivência. Ao mesmo tempo é um filme que usa o riso, mas fala o tempo inteiro da condição social da nossa sociedade. É interessante porque as pessoas saíram comovidas e instigadas, presas com tanta vida pulsando na tela. Um comentário que eu ouvia muito era que "essa gente parece de verdade", que sempre foi isso: essa crente, a baiana de acarajé... parece que sempre foi assim. O maior elogio que eu posso receber é dizerem que foi retratado da forma mais verdadeira possível.



Atol - Em listas de discussão fechada sobre cinema baiano houve uma polêmica se “Ó Pai, Ӕ pode ser chamada de uma produção baiana, já que boa parte da equipe veio de fora. O que acha disso?

Monique -
Eu acho isso um pensamento estreito. Esse filme vai ser vítima de muito preconceito. Eu já sabia disso quando eu fiz e vou continuar enfrentando alguns preconceitos até na Bahia. Sou baiana, é o lugar que eu amo, um lugar que eu quis homenagear. “O Paí, Ӕ é uma história feita por um grupo de teatro da Bahia, que se passa no Pelourinho, encenado por atores baianos, dirigido por uma diretora baiana e cuja a equipe, se você for contar, tinha tantos baianos quanto cariocas e paulistas. Você condenar um filme ou você negar sua pátria a ele porque não usou a equipe da Bahia é um absurdo. Equipe de cinema é algo que você tem sua identificação, você trabalha com as pessoas que já tem um diálogo. Esse filme eu estava realizando com R$ 1,4 milhão. Eu tinha que filmar tudo em três semanas e meia. Era quanto podia pagar de equipe, alimentação, negativo, câmera, de equipamento, de maquinário e de elétrica. Mais do que nunca tinha que ir com uma equipe afiadíssima, que tivesse acostumada a trabalhar comigo. Se eu fosse assim, eu nunca teria chegado aonde eu cheguei... Se o Caetano, Gil e Brown fossem assim, eles não teriam chegado aonde chegaram. Então quer dizer que se você grava em estúdio americano, como o da Universal, como o Caetano grava, não é mais baiano? Acho isso pobre, empobrece a Bahia e a nossa união. Eu me orgulho em dizer que faço parte, talvez, de um movimento muito forte do novo cinema da Bahia. Mas se não me quiserem, tudo bem também. Estaremos sendo vítimas do mesmo preconceito que o filme expõe. É um preconceito ridículo, pensamento pequeno vindo de pessoas que trabalham com cinema, o que horrível. O outro aspecto disso que também é muito lamentável é um pensamento ainda meio "xiita" que a gente tem: acho que esse tipo de visão de preconceito contra a Globo e contra a produção sempre muito forte da Paula Lavigne não traz nada de bom para o cinema. No cinema, não basta você ter talento. Você precisa ter a propaganda para chegar até o público. Senão você morre na primeira ou na segunda semana como está acontecendo com a maioria dos filmes brasileiros.



O lance é o seguinte: a gente está lançando “Ó Pai, Ӕ com 100 cópias enquanto “300” está saindo com 500 cópias. Você tem que chamar a atenção para si. O grande desafio no cinema é conseguir chamar atenção para seu filme em meio a tantos filmes americanos e um público viciado na produção americana. Eu vi em um site aí da Bahia um curta-metragista [referência ao texto de Daniel Lisboa publicado no blog do dez dia 27/03] falando que não viu e não gostou por causa do trio elétrico. O que é isso, gente? Ao contrário, a Bahia tinha que estar feliz da gente estar conseguindo chamar atenção através de um trio elétrico que se colocou na Bahia para poder ter um link no Fantástico e que com esse link falasse pro Brasil inteiro de “Ó Pai, Ӕ. Essa foi uma estratégia extremamente esperta. O filme fala de negro, personagens que de outra maneira nunca seriam protagonistas, estariam sempre como coadjuvantes ou talvez figuração. Pela primeira vez você tem um filme que tem isso exposto de uma forma nacional. Não mudamos o nome, muita gente mudaria. Teve um artigo no "O Globo" enorme, do Arthur Xexéu, dizendo que o filme está fadado ao fracasso por causa do título. Nada foi concedido nesse sentido artístico, eu fiz da maneira mais legítima e fiel que eu pude fazer. Não concordo com esse pensamento, lamento e acho uma pena porque só demonstra um pensamento pequeno que eu conheço que tem na Bahia, na minha família, nos meus amigos. Enquanto as pessoas pensarem pequeno não vão sair do lugar.



Atol - Durante a exibição na Concha Acústica, um momento bastante aplaudido foi uma forte cena entre os personagens do Lázaro Ramos e Wagner Moura, onde há uma manifestação de racismo e uma forte resposta a esse discurso? Como surgiu essa cena? É adaptada de algo da peça?

Monique -
O personagem do Boca [Wagner Moura] não existia na peça. O Roque, personagem do Lázaro Ramos, é a mistura de duas personagens que tinham na peça, a Mary Star, que era uma menina do interior que vinha para tentar fazer sucesso como cantora, mas ela era totalmente ignorante. E a graça dela estava na sua ignorância. E também o Severino, um lixeiro que gostava de Roberto Carlos. Em ambos os casos, eram personagens muito ignorantes e no caso de Roque eu dei a ele um pouco de erudição, na medida que ele quer ser cantor e compositor. Ele é poeta, gosta de ler, gosta de escrever. Esse tipo de característica que o Roque tem permite um de discurso na hora do racismo. A idéia do Boca surge justamente para expor o racismo que muitas vezes está escondido, pelo menos disfarçado, enquanto você não cruza uma linha. Se aquela pessoa não cruza a linha então ele é aceito e tolerado. Se ele cruza a linha e apresenta qualquer contrariedade ao estabelecido, aí pronto: o racismo explode com força total. É um assunto tão delicado que muitas vezes até abordá-lo fica sendo perigoso. Mas eu achei que era importante nesse filme. A gente está falando de uma população mais pobre, portanto quase toda negra ou mestiça. Era importante colocar isso às claras. O filme no fundo está falando disso. A gente aborda diversas condições delicadas de forma muito cômica e divertida, mas está o tempo inteiro tocando em assuntos complicados. A grande beleza de “O Pai, Ӕ é que você é conduzido ao riso o tempo inteiro, no entanto aquela obra toda é para lhe causar espanto diante do seu próprio riso.



Atol - Seu filme se trata de uma adaptação do teatro para o cinema. Na próxima semana, estréia mais uma adaptação dos palcos para as telas de cinema, que é “Caixa 2”, texto do Juca de Oliveira. Você tem acompanhado esses filmes? Qual você achou que foi mais bem sucedido?

Monique -
Eu não gostei das adaptações que eu vi. Eu achei “A Máquina” [2006] enquanto peça muito mais forte do que o filme. Eu assisti e produzi “A Máquina” aqui no Rio, que foi justamente a primeira vez que eu assisti ao trabalho de Lázaro, de Wagner, de Wladimir Brichta. Era estupenda, magnífica a peça. E o filme não é.



Atol - O diretor da peça é o mesmo diretor do filme. Por que você achou que não funcionou?

Monique -
O domínio da linguagem é o maior problema. Ele [João Falcão] tem o domínio muito grande do teatro e talvez no cinema era o seu primeiro trabalho, era natural que também houvesse um tipo de insegurança.



Atol - Você achou que houve então uma evolução em “Fica Comigo Esta Noite” [outra peça de João Falcão que foi adaptada para o cinema]?

Monique -
Esse eu não assisti. Assisti a "Irma Vap", que eu também não gostei, e assisti a “A Máquina”, que perdeu o vigor que tinha na peça [cuja montagem é de 2000]. O filme é uma fábula bem comportada e ao mesmo tempo perde um pouco da magia que tinha no livro da Adriana Falcão. Era tão bonito aquilo de você gostar de alguém que quer ir para o mundo e então você resolve trazer o mundo para ela. Eu acho que isso não ficou tão claro no filme. Esse é o pressuposto mais bonito do livro.



Atol - E sua experiência de transformar uma peça em um filme, como foi?

Monique -
Foi difícil. Eu tive medo, tentei fazer isso duas vezes antes e desisti porque “Ó Paí, Ӕ é uma peça muito verborrágica. Acho que o cinema é mais pleno justamente quando ele não usa nem a palavra para se comunicar. Com o som e a imagem, você diz tudo. Eu comecei a esboçar um caminho quando eu escrevi a primeira cena do filme, que é quando a Emanuelle Araújo chega na oficina para pedir para ser pintada. Na verdade, eu tinha me perguntado como eu poderia explicar algo que no primeiro instante a pessoa entendesse o que é “Ó Paí, Ӕ. Isso pra Bahia é muito fácil, mas para o resto do pais não é. Até hoje, as pessoas falam errado aqui, mesmo depois de assistir ao filme. Então eu queria uma cena que explicasse de cara isso. Eu achei divertida essa idéia porque imediatamente já estabelecia duas coisas: o tom da brincadeira, da safadeza que o filme ia ter, além da sensualidade do homem e da mulher negra. E traz também a música, outro elemento que eu queira que fosse forte.



Atol - Você usou no filme atores do Bando de Teatro Olodum. Houve algum problema em trabalhar com atores acostumados ao teatro no cinema?

Monique -
Eu queria, se possível, que todos os atores fossem baianos. Quem ia fazer o Seu Jerônimo era o Marcio Meirelles [um dos diretores da peça, que estreou em 1992], mas ele teve uma hérnia de disco durante os ensaios e não conseguiu se recuperar até o final das filmagens. Ele só apareceu rapidamente em dois dias de filmagem. Uma semana antes de começar a filmar nós convidamos o Stênio Garcia. Já a Psilene eu sempre imaginei para a Dira Paes porque, como é uma pessoa que vem de fora, eu achei que ia ser bacana que fosse alguém de fora que viesse pra ali, que já viesse não tão baiana e que também tivesse uma experiência grande com cinema. Então, através dessas quatro figuras (Lázaro Ramos, Wagner Moura, Stênio Garcia e Dira Paes), o bando pode conviver com pessoas habituadas a fazer cinema, a trabalhar com um tipo de interpretação mais próxima ao naturalismo do cinema do que a maneira de se exprimir do teatro, sempre com a voz muito projetada. O Bando é um grupo que trabalha com a voz muito projetada. Então teve todo um trabalho de reeducação que era pedir para os mesmos atores falarem os mesmos diálogos, mas de outra maneira.



Atol - Teve alguém que lhe surpreendeu com o resultado final?

Monique -
Quem eu já conhecia só reafirmou a minha admiração. Como a Luciana Souza, que faz a D. Joana [a beata], Tânia Tôko como Neuzão, Rejane Maia como a baiana do acarajé, Edvana Carvalho como a baiana estilizada de porta de loja. Agora foi bacana conhecer os novos membros do Bando. Erico Brás, que faz o Reginaldo, é estupendo. A Auristela Sá, que faz a Carmen, irmã de Psilene, que não era irmã na peça. Já tinha visto aquele povo todo na peça, em 94, eu assisti à peça cinco vezes. Muitos deles trabalharam comigo em “Jenipapo”. Engraçado que a mesma coisa acontece com “Jenipapo”, muita gente diz que não é um filme brasileiro, porque ele é falado em inglês. Eu trabalhei na Bahia, tratei a cultura da Bahia, usei o bando, mas essa discussão não tem jeito. A mesma coisa é alguém dizer que a obra de Jorge Amado foi escrita com uma caneta que ele comprou em Paris ou com uma caneta que ele comprou em Cuba. Será que é menos baiana a obra dele por isso?



Atol - Pegando o gancho sobre o que você falou sobre o não-êxito do filme “A Máquina” por uma falta de habilidade cinematográfica, por ser o primeiro filme do João Falcão....

Monique -
Eu não sei se foi ele quem escreveu o roteiro [o roteiro é, sim, de João e Adriana Falcão]. Ele é bem dirigido, mas o roteiro não consegue reproduzir a matéria que tinha na peça.



Atol - No kit de divulgação para a imprensa tem um trecho seu dizendo: “"No teatro, shows ou videoclipes eu tinha a sensação de que exercia minha arte com liberdade. (...) Mas no cinema, nunca. Tinha mão pesada. Um dia perguntei isto ao Zé Celso (Martinez Corrêa, diretor de teatro). E ele disse: "é teu lado judaico, sua culpa, seu peso". Foi como se ele tivesse colocado um espelho na minha frente. Acho que me libertei (...)”. Você se refere a essa “mão pesada” até seu último filme, "Benjamin"? O que em “Ó Pai, Ӕ lhe libertou desse peso?

Monique -
Tanto “Jenipapo” quanto “Benjamin” tinham quase nenhum humor. Em “Ó Paí, Ӕ eu descobri que é possível abordar assuntos sérios e delicados sem necessariamente pesar a mão, sem perder a alegria. São dois movimentos: um de tentar, a partir desse conselho do Zé Celso, realmente me policiar em relação a algo que tem em mim e eu não gosto, que é um certo sentimentalismo... “Ó Paí, Ӕ foi a possibilidade de romper com isso de uma vez por todas, já que o baiano é debochado, debocha da própria dureza da vida. Isso era muito importante pra mim, espero não perder isso de vista em um próximo trabalho; e a outra coisa é que muitas vezes o cinema é como uma camisa-de-força em vários sentidos. Sua estrutura é muito grande. Normalmente, a equipe é enorme e tem o custo que isso representa. É uma arte pré-concebida, antes de estar ali em frente ao ator, em frente da câmera. Outra coisa é a quantidade de caminhões envolvidos, você não pode virar a câmera que enquadra alguma coisa indesejada. Esse tipo de camisa-de-força que virou o cinema através do custo, através da quantidade de caminhões, storyboards que você tem para fazer um filme, eu tirei. “Ó Paí, Ӕ não teve nada disso. A gente trabalhou com uma equipe pequena, o prazo que eu tinha era pequeno. Então, para a agilidade que eu precisava, foi uma maravilha. Não fiz storyboard, a gente trabalhava muito na base do improviso. Cada dia que eu chegava no set era um touro que eu tinha que olhar e ver a melhor maneira de encará-lo.



Atol - Você pretende adotar esse método de agora em diante?

Monique -
Acho que sim, a menos que eu faça alguma coisa que exija um outro tipo de filosofia. O Brasil precisa fazer um cinema mais barato, de sobrar mais dinheiro para mais filmes serem feitos. Com um orçamento super justo, mas podendo trabalhar com liberdade e improviso, porque aí você incorpora uma fala que o ator falou ali na hora. O ator começa a dançar e você: "Péra aí, Wagner, você sabe cantar "Lili", do Edson Gomes? Sabe? Então péra aí gente. Desfaz tudo e vamos montar um trilho maior, o Wagner vai cantar também." Foi tudo super simples. Essa liberdade é importante para o cinema, senão fica tudo preso. Como eu queria retratar o jeito de ser da Bahia, precisa aprender a ter essa ginga.



Atol - Sobre a série de ‘Ó Pai, Ӕ na TV, como vai ser?

Monique -
Na série, eu faço o papel de direção-geral e dirijo um dos episódios. Além de mim, vai ter o Sérgio Machado, a Olívia Guimarães, que era quem ia dirigir o filme quando eu desisti, Márcia Faria, que foi minha assistente, Guel Arraes e Carolina Jabour. A autoria dos episódios será em conjunto do Bando, Márcio Meirelles, Jorge Furtado e eu. Eu já fiz o esboço de um episódio e o Jorge já está trabalhando em cima de um capítulo chamado “Bye Bye Pelô”.





Atol - A série será mais voltada para o humor ou também terá essa crítica social?

Monique -
Sempre com visão social. Toda minha obra - seja no teatro ou cinema - tem uma motivação política. O bom do filme é que ele vai te manipulando. Ele me lembra um pouco - na verdade, isso é mérito da peça que adaptei - “Dogville”, do Lars Von Trier. Porque ele tem o poder da manipulação. Ele vai fazendo você rir e rir para no final mostrar: olha só do que você riu? Ele é engraçado, mas tem mais alguma coisa aí. Que vida fodida que esse povo leva! Que situação esse povo tem que encarar diariamente para estar no Carnaval segurando corda de bloco para ganhar R$ 14, ou tendo que tirar crachá para poder catar latinha. Você ri, mas quando acaba o filme você diz: é triste. Isso é que é o grande barato de “Ó Paí, Ӕ. A tristeza pode até ser causada pelo desfecho, mas o desfecho faz você chorar pelo filme inteiro. Pelo sonho de Roque, pela ilusão de poder de D. Joana. A reação das pessoas é o que tem me deixado mais feliz.





Atol - Seu próximo projeto é um tema mais pesado, sobre garotas da época do Holocausto. Como está o andamento disso?

Monique -
Esse projeto chegou às minhas mãos através da tese de uma australiana que falava sobre “The Couriers”, ou seja, “As Mensageiras”. Ela demonstrava a existência de um grupo de meninas polonesas que não tinha a aparência judaica, de meninas como eu: narigudas, magras e morenas. Então as meninas loirinhas de olhos azuis e nariz pequeno tiraram partido exatamente desse estigma e se faziam de meninas polonesas do lado de fora do gueto, em Varsóvia. Elas entravam e saiam do gueto, com a principal missão de armar o gueto para a revolta, o Levante de Varsóvia. Tinham obrigações como receber e distribuir dinheiro em casas de poloneses que cobravam uma fortuna para esconder judeus atrás de paredes, armários, coisas que a gente já viu em “A Lista de Schindler”. É a uma história de heroísmo. Mas dessas meninas pouco se sabe, a história é machista. Na época, eu fui contratada pela Fox, e cheguei a dar um primeiro tratamento no roteiro. Mas não dei segmento porque minha irmã ficou doente e eu preferi ficar no Brasil. Agora vou retomar essa história. Quando escrevi o primeiro tratamento, sentia falta de mais humor. Por mais que você esteja no epicentro da desgraça humana que foi o holocausto não era impossível que tivesse humor. E a courier que eu encontrei em Nova Iorque me contava tudo sempre sorrindo ou morrendo de rir. Eu pensei: “Cadê esse meu humor, onde ele está?”. Eu sou uma pessoa engraçada, gaiata, mas na hora de fazer cinema a minha mão pesava. Eu não sei se era porque as minhas histórias eram coisas muito autobiográficas e traumáticas: “Jenipapo” é a busca do pai, da presença paterna, e “Benjamin” é a dor da perda de uma pessoa querida. Eu aprendi muito com ‘Ó Paí, Ӕ com o jeito do Lázaro, do Wagner, e com essa idéia de brincar em cima das coisas.



Atol - Vai você retomar esse projeto com a Fox?

Monique -
No momento eu chamei o Marcelo Coelho, um jornalista da área de Cultura, para participar do roteiro comigo. O que aconteceu é que durante o lançamento de “Benjamin”, o Marcelo participou de um debate aberto ao público no qual ele foi o mediador. Ele falou coisas sobre o filme que se eu tivesse acesso antes talvez tivesse feito diferente. Fiquei muito impressionada com a visão dele. Então mandei o tratamento que eu tinha feito em 97 pra ver se ainda tinha algum sentido contar mais uma história sobre o holocausto. Ele me respondeu com vários pontos de vista que pôde perceber no roteiro. Então eu o convidei e ele topou. Até mandamos o contrato para ele essa semana. Quando passar tudo isso, vou retomar o projeto sem ansiedade. Eu sei que não é projeto de curto prazo. Se demorar muito, é provável que eu faça algo que leve menos tempo no Brasil.



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