CULTURA
Exposição de Francisco Brennand entra em cartaz na Caixa Cultural
Por Roberto Aguiar*

Aos 90 anos de idade, o pernambucano Francisco Brennand produz artes em diversos suportes. Escultor, desenhista, pintor, tapeceiro, ilustrador e gravador. Obras e a trajetória de vida desse homem múltiplo e um dos ceramistas mais importantes do mundo serão expostas ao povo baiano a partir desta terça-feira, 15, na Caixa Cultural, através da inédita mostra Francisco Brennand – Mestre dos Sonhos.
Com curadoria e projeto expográfico assinados por Rose Lima, a exposição conta com 31 obras do acervo original do artista, criadas em diversas fases da sua carreira. "Resolvemos contar a história de vida de Brennand através de uma linha do tempo, desde seu nascimento aos dias atuais. As obras acompanham esse percurso", explica Rose Lima.
Fotografias, aúdios e vídeos serão utilizados na mostra. "Teremos um painel com auto-retratos desenhados e pintados entre 1947 e 2016. Vamos exibir o documentário Francisco Brennand , produzido por sua sobrinha Mariana Brennand, e uma entrevista que ele nos concedeu em maio deste ano", acrescentou a curadora.
Relação com a Bahia
Em entrevista ao A TARDE, Francisco Brennand revelou que está feliz e honrado com a exposição e que o evento não é por acaso, está relacionado ao seu forte laço com a Bahia.
"O convite para a exposição não foi mera causalidade, teve antecedentes. Posso afirmar que tenho ligações remotas com a Bahia. Fiz uma exposição em 1961 no Teatro Castro Alves com curadoria da Lina Bo Bardi, arquiteta com quem comecei uma relação ainda em São Paulo. Acompanhei a reforma do Solar do Unhão. A Lina, entre todas as pessoas que conheci, foi a mais apaixonada e a que mais compreendeu o artesanato brasileiro", disse o artista plástico.
O pernambuco começou seu trabalho inspirado na cultura popular nordestina, mas foi na Europa, através da obra arquitetônica e escultórica de Antoni Gaudí e a cerâmica de Pablo Picasso, que definiu o caminho de sua arte.
"Logo no começo a cultura popular foi muito importante, mas tive contato com a educação europeia, aos 21 anos de idade quando viajei para Paris. Nem que eu não quisesse, certos elementos literários tiveram supremacia no meu espiríto e no processo de inspiração. Vieram temas diversos, ausentes de influência da cultura popular", ressaltou.
Brennand fez questão em afirmar que sua arte não se enquadra no Movimento Armorial, iniciativa artística cujo o objetivo seria criar uma arte erudita a partir de elementos da cultura popular do nordeste brasileiro, que teve o escritor Ariano Suassuna como um dos fundadores.
"A suposta relação minha com o Movimento Armorial é um mito. É um equívoco que tem se prolongado. O que existia entre mim e Ariano era uma grande amizade que veio dos bancos escolares que durou 30 anos. No ponto de vista estético nunca fui um artista armorial".
E seguiu, "de uma certa maneira, eu pintando o mural da Batalha dos Guararapes, em 1971, me antecipei ao Movimento Armorial. Ariano bebeu muito naquilo que eu fiz no sentido da pintura. Na literatura já foi eu que bebi das águas de Suassuana".
Com influência popular e europeia, Brennand é um dos maiores nomes da arte brasileira. É um artista múltiplo. "Um escultor como coração de pintor", como auto define-se.
"Se existe um espírito contraditório é o meu. Não me incomodo se a minha cerâmica caminha em uma direção e a pintura, em outra. Nós somos vários, já dizia Fernando Pessoa. Somos muitos e infindáveis criaturas", concluiu.
A visitação para a "Exposição Francisco Brennand – Mestre dos Sonhos" acontece de terça a domingo, das 9h às 18h, até o dia 1º de outubro. A entrada é gratuita.
*Sob supervisão do editor-coordenador Marcos Casé
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