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CULTURA

Gravado no isolamento caseiro, o álbum Pelespírito traz Zélia Duncan triste, porém esperançosa

Por Isadora Melo*

25/05/2021 - 6:00 h
Zélia trabalhou sua música em casa pela primeira vez: “Eu, sozinha, me gravando, me emociono” Foto: Denise Andrade | Divulgação
Zélia trabalhou sua música em casa pela primeira vez: “Eu, sozinha, me gravando, me emociono” Foto: Denise Andrade | Divulgação -

Em casa, na causa, longe de tudo – mas sem tirar os olhos do mundo. É assim que Zélia Duncan se apresenta na primeira faixa que dá nome ao álbum. Fazendo referência ao termo “perispírito”, cunhado por Allan Kardec para definir o envoltório semimaterial que une corpo e alma, Pelespírito é um sentimento que ”significa solidão, medo e, ao mesmo tempo, vontade de alguma leveza que a gente não estava encontrando. A pele repuxada de tantas perguntas, e o espírito procurando por alguma elevação no meio do caos. Pelespírito é o sentimento de que algo te puxa para baixo e, ao mesmo tempo, para cima. É a morte e a vida”, reflete Zélia.

Disponível nas plataformas de streaming desde sexta-feira (21), o álbum é resultante do trabalho entre a cantora e os compositores Juliano Holanda e o baiano Webster Santos, que assinam a produção.

“Trabalhamos juntos, mas separados, cada um na sua casa. Foi uma troca incrível, o álbum é bem literal”, conta.

“Onde é Que Isso Vai Dar é um diálogo entre eu e Juliano. Ele disse: ‘A nossa parceria tá me salvando, tá sendo tão bom pra mim’, e aí eu disse pra ele: ‘Te digo o mesmo. Você me provoca, e eu adoro um desafio’”, relata.

As 15 canções, que passeiam entre folk, country, rock ‘n’ roll, blues e sertanejo nordestino, foram gravadas a distância, e foi a primeira oportunidade em que Zélia se autodirigiu durante a gravação.

“Foi tão louco. Eu sou uma pessoa alegre, tento ser engraçadinha, faço meus amigos rirem, mas eu cultivo (muito bem cultivada) certa melancolia. Um lugar onde eu me sinto inspirada, onde eu acho que enxergo melhor as coisas”, reflete. “Eu, sozinha, me gravando, me emociono”, diz.

Zélia conta que se lembra do que passava na sua cabeça enquanto gravava, em plena solitude, Pelespírito: “Me lembro da hora em que estava cantando... Estava com uma pena da gente, sabe? Estava pensando: ‘Pô, cara, a gente precisa conseguir ir pra um lugar, dentro de nós, onde a gente possa esperar alguma coisa do Brasil’”, e, em consonância com sua alma ativista, critica: “O Brasil nunca foi justo, nunca foi um lugar amistoso pra todos nós. Apesar disso, é a primeira vez que eu estou sentindo uma ode à ignorância. A impressão que eu tenho é a de que o Brasil, que a gente ama, tá cercado. Quando eu fui cantar Pelespírito, fiquei sentindo essas coisas. ‘Caramba, a gente tá tão pequenininho, a gente tá reduzido a isso aqui: uma pelezinha, um espíritozinho’. Eu fiquei nessa, e foi assim que eu gravei o disco todo: com a alegria de estar fazendo, e com uma certa tristeza cultivada, também”.

Pandemia e criatividade

Para Duncan, o álbum contempla uma boa dose de solidão. Criar, produzir e lançar neste período oferece percalços inéditos, e, sobre estes, conta: “Eu aprendi a gravar minha própria voz – coisa que não fiz em 40 anos de carreira –, num computadorzinho pequenininho... Foi uma experiência muito nova pra mim, e solitária. Acho que o disco tem esses questionamentos de quem está ali, sozinho, perguntando alguma uma coisa – e este alguém, na verdade, somos todos nós, eu acredito”.

Todo desafio exige uma força motriz, que, para a cantora, é o amor pelo seu ofício: “O meu ofício não me abandonou. Tantos colegas ficaram paralisados no meio disso tudo, sem conseguir produzir muito, e eu fui na contramão, fazendo milhares de coisas”.

Sua perspectiva é que existe uma solidão boa, “que é quando você se faz companhia sem dor. Eu tenho vida interna, tenho coisas que povoam a minha cabeça. Um repertório que me faz companhia quando estou sozinha – e este repertório é a arte. Esta é a importância da arte neste período de isolamento social: ela nos faz companhia”.

Zélia afirma sentir muita falta do contato próximo, cara a cara, com o público: e é a partir deste sentimento que surge a música Eu e Vocês, onde exprime sua “saudade apertada” e fala diretamente com a plateia em versos como: “Vontade de cantar / Num coro essa canção / Com voz de coração / Eu e vocês”. A cantora, emocionada, afirma que “nada substitui eu e vocês. Vocês e eu, juntinhos”.

Além de expressar sua nostalgia referente aos tempos em que aglomerações ofereciam bons momentos, o álbum transita por outros assuntos delicados, como em Você Rainha, que promete ser um local seguro para as mulheres presas com seus algozes durante o isolamento social.

“É para que essas mulheres saibam que não estão sozinhas e que sempre terão uma saída. Juntas somos mais fortes e podemos nos ajudar”. O disco é finalizado com a canção Vai Melhorar, que conta com a participação de Ézio Filho no contrabaixo e percussão e oferece um momento para acalentar os corações aflitos com um voto de esperança.

Zélia pós-‘Pelespírito’

Sob a perspectiva de que toda obra lançada representa um parto, existem mudanças de comportamento e pensamento geradas a partir deste “nascimento”.

Quando perguntada “Quem é Zélia depois de Pelespírito”, ela responde: “Junto com este lançamento, eu estou comemorando 40 anos de carreira. Acho que eu sou total uma sobrevivente da minha história, por vir de onde venho, por ser dessa comunidade LGBTQIA+, por ser mulher, cantora, não ter um artista na família pra me ajudar. Com a idade chegando, a gente vai tendo uma noção de tudo a que sobrevivemos. ‘Nossa, aquilo ali foi tão feio’, ‘nossa, ali foi por um triz, também’. Então agora, aos 56 anos, eu canto ‘tô por um fio dessa minha blusa’, e sei quantas vezes eu já estive por um fio. Zélia pós-Pelespírito é uma sobrevivente”.

Sobre as sequelas sociais da pandemia, Zélia diz com pesar que “todos mereciam ser sobreviventes desta situação. O meu disco entra neste contexto com a intenção de ser um espaço nosso: de compartilhar angústias, questionamentos, dúvidas, mas acima de tudo compartilharmos amor e o alívio de termos um ao outro”.

*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.

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