CULTURA
Hora de retornar à terra natal
Por Daniela Castro, do A Tarde
Quem foi atrás do trio elétrico nos saudosos carnavais do final da década de 80 com absoluta certeza balançou ao som de A Terra Tremeu, tema do bloco afro Muzenza, que em 1989 virou clássico na voz de Simone Moreno, então vocalista da banda Doces Bárbaros.
Esses mesmos foliões também devem ter se rendido ao suingue do samba-reggae Ê, Moça – composição do então marido Saul Barbosa –, outro sucesso estrondoso, que marcou a folia de Momo anos mais tarde, em 1994.
Quinze anos depois, é hora de uma sessão flashback. Simone Moreno está de volta à terra que a revelou artisticamente e não só para passar férias, como vem fazendo desde que que se mudou para o Rio de Janeiro – época em que viveu com Pepeu Gomes – e, em seguida, para Estocolmo.
“Eu precisava de um tempo. Já tenho um público do outro lado do oceano, que eu não posso abandonar. Mas minhas raízes continuam aqui. Agora, estou sentindo que é hora de voltar”, diz a artista, que vive na capital da Suécia desde 2001.
O sonho do recomeço dá seus primeiros sinais de realização no sábado de Carnaval, quando a moça divide um trio elétrico independente com outros dois artistas, no circuito Barra-Ondina, com apoio da Saltur (antiga Emtursa). Antes, ela ficou de esquentar as turbinas ontem, no Largo de Tereza Batista (Pelourinho), participando do ensaio do bloco Muzenza, junto com Ilê Ayê, Olodum, Malê Debalê, Cortejo Afro e Filhos de Gandhy.
Mas ela quer mais. A vontade é morar na Suécia somente metade do ano. Na outra metade, ela estaria em Salvador, se dedicando ao seu segundo filho predileto, que é a música – sim, porque há um ano e quatro meses o campeão de audiência é Rufos Antonio, fruto do casamento de Simone Moreno com o músico e produtor sueco Anders Von Hofsten.
MAJESTADE – É claro que para viver nessa ponte aérea não basta ter cara e coragem. “Falta uma proposta sólida, com investimento, produção, tudo que um artista tem direito. Alguém que acredite mesmo”, pontua a cantora.
A contrapartida ela afirma que está garantida. “Eu faço parte de tudo isso aqui. As pessoas sabem quem é Simone Moreno, só falta reacender a chama”, empolga-se a cantora, sem esquecer da irmã Sarajane. “Sara tem uma importância enorme na música baiana, ela merece respeito”, reivindica.
O desafio pode parecer grande, mas não para quem partiu da capital baiana para a de um país escandinavo sem saber falar uma palavra do idioma oficial, tendo de enfrentar, além do choque cultural, temperaturas que facilmente atingem cinco graus negativos.
Não bastasse isso, Simone Moreno teve de enfrentar o fato de que, lá, ela não passava de uma ilustre desconhecida. “Comecei do zero”, recorda a cantora, que trabalhou como garçonete enquanto fazia contatos e aprendia, aos poucos, a falar sueco.
“Naquela época, a nova geração da música brasileira era pouco conhecida lá. Só se falava no ‘jazz brasileiro’, que é a bossa nova, e alguma coisa de Gil ou Caetano”, pontua Simone.
DISCOGRAFIA – Superados os obstáculos, em 2006 ela oficializou sua presença no mercado fonográfico europeu com o CD Samba Makossa, produzido pelo marido, no qual gravou acompanhada por um grupo de músicos suecos carinhosamente apelidados de Os Lourinhos.
Além da faixa-título estão registradas lá canções como Vem Pra Bahia (Vi Drar Till Malmö), parceria de Simone Moreno e Von Hofsten cantada em português e sueco. O disco é o quinto da carreira solo da cantora, que ainda traz no currículo Desde que o Samba é Samba (2001), Manda me Chamar (1999), Morena (1996) e Simone Moreno (1994). Antes, ela gravou dois discos com os Novos Bárbaros.
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