CULTURA
HQs sobre Salvador será lançada nesta terça na RV Cultura e Arte
Coleção reúne seis histórias, escritas a partir da experiência de oito artistas contemporâneos
Por Morena Melo
Eles conectam as cidades alta e baixa de Salvador, traçando aproximações geográficas e de outras ordens. Com a licença poética que a literatura proporciona, a ideia de conexão entre cidades diversas em uma mesma Salvador é captada pela coleção Plano Inclinado, que será lançada amanhã, às 19h, na RV Cultura e Arte, localizada no Rio Vermelho.
A coleção reúne seis histórias sobre Salvador, escritas a partir da experiência de oito artistas contemporâneos que constroem as narrativas através de pontos de vista sobre a cidade. A coesão da coleção fica por conta do tratamento editorial, assinado por Larissa Martina e Ilan Iglesias. Nas obras, acontecimentos banais da cidade são contados de maneira crítica e peculiar aos artistas participantes.
Em formato de gibi, as crônicas gráficas sobre Salvador são assinadas por Aju Paraguassu, com Urubu Reis, um passeio pelo céu mais azul da América do Sul; Clara Cerqueira e Túlio Carapiá, com Hoje Tem, uma HQ inspirada nas noites de verão de Salvador; Daniel Farias e Igor Souza, com Quanta, um convite a um mergulho em uma praia do Rio Vermelho; Felipe Rezende, com Detour, um sábado livre na Cidade da Bahia; Maria Mariô, com Azul, a história de Janaína, uma jovem curiosa que ama o mar; e Zé de Rocha, com Macala, uma deambulação pelas ruas de uma cidade destruída. Completa a equipe criativa da publicação, a Casa Grida, responsável pelo projeto gráfico da coleção.
Para a autora Clara Cerqueira, o projeto concretizou o desejo de falar sobre Salvador em uma história em quadrinhos. “Foi uma experiência super interessante participar do projeto. Nós sempre tivemos vontade de trabalhar em uma história em quadrinhos inspirada em Salvador e essa foi uma grande oportunidade. Além disso, é um prazer estar ao lado de artistas tão inspiradores, estar em diálogo com o trabalho editorial da RV Cultura e Arte, com quem já havíamos feito uma feliz parceria, e contribuir para o cenário dos quadrinhos soteropolitanos”, conta.
Nos gibis, as avenidas engarrafadas da capital baiana encontram-se com as noites de verão, o centro, as praias e os mistérios da vida soteropolitana, como conta a editora Larissa Martins.
“O Plano Inclinado representa uma conexão entre pontos da cidade, entre realidades, o que a coleção tenta fazer de alguma maneira. E, depois, a palavra ‘plano’, em si, tem aproximações com os quadrinhos, com a narrativa visual, e claro, tem o ‘plano infalível’ do Cebolinha, então pareceu super familiar a sonoridade do título da coleção”, explica.
Nas páginas dos gibis da coleção, além de locais diferentes da cidade, o leitor poderá passear por uma Salvador relacionada à instabilidade político-social, em Macala; à preservação do meio ambiente, em Urubu Reis; à dimensão etérea da vida na cidade cercada por águas, em Quanta. Apenas com a leitura da coleção completa, vê-se como os seis títulos costuram as narrativas de maneiras que se aproximam, e também a partir da relação dos autores com a cidade.
“Às vezes isso é metafórico, às vezes fica mais escancarado. Mas, como todos moram aqui, cada um tem uma relação muito pessoal com Salvador, o que gera histórias com climas bem diferentes. Além de que, sendo artistas visuais, têm pesquisas estéticas e discursivas encaminhadas, então, acontece de cada um puxar um pouco a brasa para sua sardinha. Isso é legal, essa reunião de pontos de vista diferentes”, avalia Larissa.
Outro ponto de conexão entre os livros aparece nas soluções gráficas dos gibis, para além dos traços autorais presentes no estilo de cada autor. Vemos isso com o uso de retículas, uma técnica que reúne pequenos pontos distribuídos de maneira que formam uma imagem coerente. Muito usada em histórias em quadrinhos, as retículas se destacam em Quanta, mas também aparecem em Hoje Tem.
Linguagens convergentes
Uma galeria de arte contemporânea que também tem o seu selo editorial, essa é a RV Cultura e Arte. Com um programa curatorial dedicado principalmente às artes gráficas, em especial o desenho, a pintura, a colagem e os processos de impressão, a galeria, que foi criada em 2008, dá protagonismo aos jovens artistas locais e brasileiros emergentes.
Com uma programação anual com cerca de quatro exposições, além de participações em feiras de arte internacionais, a galeria também promove oficinas, conversas, visitas guiadas e exibições que estimulam um relacionamento mais próximo com a comunidade artística local, engajando e cultivando novos públicos. Alguns anos depois, a RV ganhou um selo próprio, homônimo, que tem lançado diversos gibis de artistas baianos ou radicados em Salvador.
"O selo foi inaugurado em 2011, quando lançamos um gibi chamado São Jorge da Mata Escura. Naquela situação, fomos procurados pelos autores para fazer o projeto acontecer e depois disso seguimos publicando gibis, sempre com a mesma premissa: histórias que se passem em Salvador, de gêneros diferentes, mas que falem da gente. De lá para cá, publicamos mais três álbuns, além de um jornalzinho de tirinhas, chamado O Tiraço. Fora isso, o selo também publica livros de artistas, mas isso é uma outra conversa", conta Larissa.
Desde 2011, o selo concorreu a alguns prêmios, sempre na categoria História em Quadrinhos, a exemplo de Rocha Navegável, indicado ao Jabuti em 2021. Os gibis da coleção Plano Inclinado e outras publicações do selo podem ser adquiridos no site rvculturaearte.com e na galeria, localizada na rua Cardeal da Silva, 158, Rio Vermelho.
No momento, o selo está definindo detalhes sobre a distribuição dos gibis e em breve eles poderão ser encontrados em livrarias e comic shops de Salvador e outros estados, mas, como diz Larissa, isso é assunto para outra conversa.
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