CULTURA
Londres dedica exposição às musas de Modigliani
Por AFP
A tumultuada vida amorosa de Modigliani, exacerbada pelo ópio e pelo álcool, e sua morte trágica, seguida do suicídio de sua amante, às vezes renderam mais notícias que sua pintura, mas uma exposição em Londres o põe em destaque como uma figura chave da história do modernismo.
A Royal Academy of Arts expõe a partir do próximo sábado "Modigliani e suas modelos", a primeira grande exposição na Grã-Bretanha dedicada a este artista nos últimos 40 anos. "Modigliani teve paixões turbulentas. Consumiu-se nas drogas e no álcool. Foi um pouco o Pete Doherty de sua época", afirmou a curadora da exposição, Simonetta Fraquelli, em alusão ao roqueiro britânico, ex-namorado da modelo Kate Moss, que freqüentemente é detido por posse de drogas e sempre sofre recaídas.
Nascido em 1884 em Livorno, Itália, Modigliani tinha um forte magnetismo sexual, e colecionou amantes, da poetiza russa Anna Akhmatova até seu último amor, a francesa Jeanne Hébuterne, 15 anos mais jovem que ele. Quando Modigliani morreu, em 1920, em Paris, aos 35 anos, vítima da meningite e dos excessos, sua amante e musa se jogou pela janela, tirando sua vida e a do feto de nove meses que carregava no ventre.
"Mas sua vida boêmia e trágica não deve ofuscar sua obra", insistiu o diretor de exposições do museu, Norman Rosenthal, ressaltando a importância do artista no desenvolvimento da arte moderna. "Modigliani esteve no centro dos artistas que criaram o que agora se chama de Arte Moderna", explicou Rosenthal.
O museu londrino chegou a reunir 50 pinturas do artista italiano, entre as quais todos os seus nus, que estão entre os mais eróticos executados no século passado. Quando foram expostos pela primeira vez, há quase 90 anos, em Paris, onde o artista viveu desde 1906, estes nus sensuais causaram escândalo e a polícia fechou a exposição no mesmo dia da inauguração.
Desde então Modigliani se tornou um dos artistas mais cotados e um dos retratos que pintou de Hébuterne foi vendido em leilão há duas semanas, em Londres, por 30 milhões de dólares. A exposição inclui ainda dezenas de seus retratos - inconfundíveis pelos rostos ovalados, olhos amendoados e pescoço longilíneo - cedidos por museus de Brasil, Estados Unidos, Europa e Japão, entre eles de amigos artistas como Picasso, mas também de camponeses anônimos.
"Apesar de seu estilo facilmente reconhecível, Modigliani captou a individualidade de cada um dos modelos", reforçou Fraquelli, destacando que o artista se alimentou de uma grande variedade de influências, entre elas esculturas africanas que viu em Paris e arte do antigo Egito. "Mas é também um sucessor de Botticelli e Tiziano, e também foi influenciado por Cézanne, a quem conheceu", acrescentou Rosenthal.
Os retratos de duas de suas amantes dominam a mostra: a escritora e poetiza britânica nascida na África do Sul, Beatrice Hastings, que também foi amante do poeta Ezra Pound, e que se suicidou aos 43 anos, e Jeanne Hébuterne, a quem conheceu quando ela era uma jovem estudante de arte e a quem pintou em 25 ocasiões. A exposição, que ficará aberta até 15 de outubro, se anuncia como a mais concorrida deste verão londrino e os organizadores esperam que desta vez a polícia não feche a sala com os nus de Modigliani.
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