MÚSICA
Mais recente álbum da banda ÀTTØØXXÁ explora ritmos da música negra
Black Music segue unindo as canções do grupo para não deixar ninguém parado
Por Elis Freire*
O mais recente álbum da banda baiana ÀTTØØXXÁ explora novos ritmos em uma grande confluência da música negra. Já disponível nas melhores plataformas de música, GROOVE reúne ainda participações especiais de artistas como Carlinhos Brown, Thiaguinho e Liniker.
“O groove está na batida do coração. É tudo aquilo que mexe com seu inconsciente. Ele te pega, não tem jeito!”, afirma Raoni Knalha, um dos vocalistas da banda. Lançado no último dia 24 de maio, o álbum traz novos ritmos para o grupo, mais conhecido pelo pagodão baiano.
Com participações também de Luísa Nascimento (vocalista de Luísa e os Alquimistas), Negra Japa e Victor Leony, as 13 faixas do álbum reúnem ritmos africanos e afro-diaspóricos como afrobeat, pagode e funk americano.
Oz (Osmar, vocal), RDD (Rafa Dias, beats e synths), Raoni (vocal) e Chibatinha (guitarra) são os quatro músicos que compõem a ÀTTØØXXÁ, formada lá em 2015. Com uma criação muito orgânica entre os integrantes, responsáveis pelos instrumentos, arranjos e produção, a banda tem uma essência experimental própria que permanece viva em GROOVE, terceiro álbum do grupo, lançado após Blvckbvng (2016) e Luv Box (2018).
“Gostamos de flertar com o experimental, o que não tira a gente do caminho da música regional baiana, do pagodão. Neste disco, a gente quis apresentar algo para além do que a mídia imagina da música da Bahia, vista como uma música só de veraneio. Trouxemos outros sentimentos e ritmos que têm a ver com a gente.” explica Raoni.
Menina, música com participação de Thiaguinho, ganhou clipe no último dia 24 e representa essa união inusitada de estilos do álbum. O encontro entre a banda e o pagodeiro paulista ocorreu naturalmente a partir da vontade do grupo. Louis Rodrigues assina a direção do clipe que representa a atmosfera de todo o disco.
“Thiaguinho, que era o mais distante, também trouxe um pouco do groove black americano para o pagode e veio muito a calhar. Ele tem uma tradição de trazer R&B para o pagode. Cada um dos feats encaixou muito bem no nosso disco e vieram para abrilhantar o trabalho e os processos”, ressalta o vocalista.
Gravar com Carlinhos Brown, referência nacional na percussão, também era um grande sonho do grupo. Os artistas já nutriam uma relação com o músico e a parceria foi concretizada na música Da Favela pro Asfalto. Com muito suingue e referências históricas da estética negra, a faixa também ganhou clipe, disponível no YouTube do ÀTTØØXXÁ desde o mês passado.
“Carlinhos Brown é um padrinho para nós. Ele abraçou a gente lá no início e disse que somos a continuidade do seu trabalho. Ele é o grande precursor de vários grupos grooves”, informa Raoni.
Pretos na frente
A valorização dos artistas negros, da black music e das manifestações culturais da comunidade é um grande mote da banda, refletido nas escolhas de GROOVE.
O soul da cantora paulista Liniker, em Dejavú, o pagodão de Negra Japa, em Suando e Gemendo, e os temas instrumentais de muito suingue dançante unem os ouvintes em uma celebração da música negra.
“Dejavú traz a potência de Liniker nos vocais, com ritmos latinos e o flamenco espanhol, além de um riff de guitarra da música moura africana. Suando e Gemendo, inspirada na cultura dos paredões de som, manifestação com raiz nas comunidades brasileiras, mostra sensualidade e curtição ao máximo.
“Desejamos que o preto se sinta bem, que as minorias se sintam acolhidas. Estamos trazendo a música de onde ela saiu pros grandes centros. Diáspora africana total. Da favela, de onde a gente veio, pro asfalto, que é o rádio, a TV, os grandes centros, a mídia popular”, comunica Raoni.
O grupo soteropolitano, conhecido pelo chamado ‘bailaum’, em Salvador, busca com o novo álbum uma maior projeção nacional da música baiana. Com turnê em andamento pelo país, ÀTTØØXXÁ faz show em Salvador no dia 28 de julho, na Concha Acústica do Teatro Castro Alves.
“É um lugar diferente do que o público está acostumado, mas a gente montou um show super especial. Ele está com uma cara nova, a iluminação, a parte visual, cenário. Queria dizer para a galera de Salvador que esse show vai pegar vocês”, convida Raoni.
Criação orgânica
O processo criativo de GROOVE simboliza mais ainda o caráter de experimentação rítmica da banda. Em uma casa alugada na ilha de Itaparica, eles ficaram uma semana juntos focados na criação de riffs, beats e synths - jargões para os sons eletrificados.
“Foi uma imersão de produção, letra, base, percussão. Os seis juntos compondo o dia todo. Concebemos e gravamos basicamente 80% do disco na ilha. Foi tudo muito orgânico. Todo mundo dava sua opinião, o que deixa a coisa mais singular”, comenta Raoni.
Em Surra de Groove, com participação de Victor Leony, o grupo explora a ‘sonzera’ da guitarra de Chibatinha e o baixo de Leony. Já Chora, música mais sentimental, ganhou viola e violino com Mateus Mariani.
A percussão também tem um espaço especial nas faixas do disco. Com Leu Brau e Tuta Rodriguez, o batidão é forte em Os Caras da Nasa e Suspensão, canções de pagodão raiz, característica dos shows do ÀTTØØXXÁ.
“É muito comum na música baiana essa improvisação instrumental. Isso comunica bem e a gente é um grupo em que todo mundo tem seu destaque, não só quem está na frente cantando. No show tem o momento de Chibatinha, da bateria do Rafa, da percussão de Leo Brown e Tuta”, finaliza Raoni.
*Sob supervisão do editor eugênio afonso
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