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CULTURA

‘Máquina de Matar Artistas’ que leva à reflexão sobre a dura vida na arte

Peça estreia na Casa Preta

Por Grazy Kaimbé*

06/12/2024 - 5:20 h
Imagem ilustrativa da imagem ‘Máquina de Matar Artistas’ que leva à reflexão sobre a dura vida na arte
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A precarização do mercado artístico-cultural brasileiro é o tema central do espetáculo Máquina de Matar Artistas, uma produção do Coletivo Cruéis Tentadores. A peça estreia hoje, às 20h, na Casa Preta, no bairro Dois de Julho, e segue em cartaz até domingo.

Escrito e dirigido por Marcelo Sousa Brito, que também atua ao lado de José Carlos Júnior, o espetáculo combina performance e debate, envolvendo o público ativamente nas discussões.

A montagem aborda questões como o fechamento de teatros, o abandono de carreiras artísticas, a falta de políticas públicas de apoio à cultura e a migração de profissionais da arte para outras áreas em busca de sustento.

Para Marcelo, essas dificuldades impactam tanto os artistas quanto o público, que perde acesso a produções com qualidade estética e crítica. Ele destaca os prejuízos culturais dessa dinâmica: "Quando espetáculos não conseguem se sustentar, quem também sai perdendo é o público, que perde um espaço de lazer e formação cultural", reflete.

O espetáculo marca o reencontro entre Marcelo e José Carlos, amigos e colaboradores artísticos de longa data. A peça surgiu de uma inquietação compartilhada sobre o futuro da profissão. “Conversamos sobre o papel do artista em tempos tão difíceis, especialmente na Bahia. Queríamos criar algo que diagnosticasse essa realidade e, ao mesmo tempo, celebrasse a resistência de quem ainda está na luta”, comenta Marcelo. O texto também traz um pouco dos artigos do artista publicados no jornal A TARDE.

O conceito de "máquina" na peça vai além de uma metáfora. Representa um sistema complexo que impõe desafios estruturais, como etarismo, transfake, falta de editais inclusivos e exclusão de artistas periféricos. Marcelo conta que o cenário atual exige que os artistas acumulem funções de produção, gestão e divulgação de suas obras, comprometendo a essência criativa.

“Isso sobrecarrega e afeta a qualidade do que é criado. O artista deveria estar focado em sua arte, mas acaba absorvido por demandas burocráticas”, afirma.

José Carlos complementa, trazendo uma perspectiva pessoal sobre a ideia de "máquina". Para ele, trata-se de um sistema pouco acolhedor, que tanto oprime externamente quanto desgasta internamente. “Essa máquina não é apenas externa, ela também está dentro de nós. É o peso das escolhas, das renúncias e das barreiras impostas por um mercado que exige mais do que podemos oferecer. Ela nos engole, nos faz desaparecer aos poucos. Muitos colegas brilhantes que conheci não resistiram a essa dinâmica excludente”, relata o ator e professor.

Tensionar a realidade

A proposta de Máquina de Matar Artistas vai além da encenação tradicional, ao se inspirar nas metodologias do Teatro do Oprimido, criado por Augusto Boal (1931-2009). A montagem inclui o público como parte essencial do processo criativo, convidando os espectadores a debater as problemáticas abordadas na peça.

Essa interação permite a troca de experiências e perspectivas, enriquecendo o diálogo. “A ideia não é entregar uma verdade absoluta, mas abrir um espaço de reflexão coletiva. Queremos tensionar a realidade e pensar, juntos, como podemos construir um cenário mais sustentável para a arte”, explica Marcelo Sousa Brito, autor e diretor do espetáculo.

Os atores utilizam elementos cômicos e caricaturais para tornar o debate mais acessível e dinâmico. José Carlos Júnior destaca como essas ferramentas ajudam a envolver o público. “Exploramos estereótipos e criamos momentos de leveza, como uma cena que simula um programa de rádio ou outra em que nos colocamos como palestrantes internacionais”, comenta. Esses recursos trazem humor e descontração, sem abrir mão da crítica social profunda que permeia a peça.

Para José Carlos, a interação com o público também representa uma tentativa de resgatar a autenticidade da experiência teatral. Ele pontua que, atualmente, muitas plateias estão mais interessadas em registrar momentos para redes sociais do que em se conectar genuinamente com a obra.

Essa prática, segundo ele, cria uma sensação de artificialidade, como se as plateias fossem "fake", formadas por seguidores casuais em vez de apreciadores do teatro. A peça, ao propor um diálogo direto, busca romper essa barreira e reaproximar artistas e espectadores.

Com uma combinação de reflexões sérias, momentos de humor e interação participativa, Máquina de Matar Artistas se posiciona como um espaço de resistência e construção coletiva. Em tempos de incerteza e precarização, o espetáculo reafirma o papel da arte como uma ferramenta poderosa de transformação social e cultural.

Máquina de Matar Artistas/ Hoje, amanhã (07) e domingo (08), 20h / Casa Preta (Rua Areal de Cima, 40, Bairro 2 de Julho) / Contribuição espontânea / Ingressos: WhatsApp 71 98823 2787

*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.

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