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CULTURA

Mostra ‘Trans Laerte’ chega ao MAC com 400 obras

Inauguração oficial da exposição aconteceu ontem

Por Maria Raquel Brito*

13/12/2024 - 5:00 h | Atualizada em 15/12/2024 - 13:50
Imagem ilustrativa da imagem Mostra ‘Trans Laerte’ chega ao MAC com 400 obras
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A genialidade de Laerte Coutinho tomará as paredes do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC) a partir desta sexta-feira (13). É a exposição inédita Trans Laerte, que traz cerca de 400 obras da artista, entre cartuns, tirinhas e charges, selecionadas de um acervo riquíssimo de cinco décadas de carreira.

A inauguração oficial da exposição aconteceu ontem, e a visitação segue até o dia 23 de fevereiro de 2025, de terça-feira a domingo, das 10h às 20h. Antes de chegar a Salvador, Trans Laerte desembarcou em Brasília e Curitiba. Agora, a capital baiana também entra na rota de celebração dos traços e humor provocativo de uma das maiores cartunistas do Brasil.

“Fico feliz e honrada por ter meu trabalho exposto em Salvador. Essa mostra traz um apanhado bem extenso do que já andei produzindo na vida, graças à curadoria atenta do Nobu Chinen. Sinto muito mesmo não poder estar presente e abraçar as pessoas dessa cidade tão gozosa – espero que curtam visitar, como eu curti desenhar”, diz Laerte.

A mostra, contemplada pelo Edital Funarte das Artes 2023 – Artes Visuais Marcantonio Vilaça, reúne algumas das criações mais emblemáticas em meio à produção intensa e incessante de Laerte, desde a época na revista amadora Balão, da qual foi uma das fundadoras, em 1974, até as charges publicadas diariamente na Folha de S. Paulo até hoje.

O desafio de selecionar quais entrariam na exposição ficou por conta de Nobu Chinen, especialista em histórias em quadrinhos, além de escritor e pesquisador sobre essa linguagem no Brasil. Foi uma tarefa simultaneamente árdua e satisfatória: Chinen é admirador da obra de Laerte há um bom tempo; quando vê o nome da artista em revistas ou coletâneas, já garante a sua. Com o tempo curto do resultado do edital até a data de abertura da exposição, virava noites lendo e relendo tirinhas e charges.

“Na minha opinião, Laerte é, senão a maior, uma das maiores artistas de quadrinhos do Brasil em todos os tempos. Eu sou muito fã. Já tinha lido no mínimo duas vezes cada um dos trabalhos da Laerte, então revisitar foi gostoso. Me fez lembrar da fase em que eu li aquilo [pela primeira vez], porque os anos 1980 me marcaram muito, era uma produção muito rica, com histórias mais longas. E isso já faz 40 anos, então ao mesmo tempo que dá uma nostalgia, a gente sente como ainda é atual, como dá para ler e ver graça, tirar daquilo prazer, entretenimento ou reflexão”, conta.

Ele conta que a curadoria se baseou em uma lógica de construção de uma linha narrativa com base na obra de Laerte. O resultado foi uma divisão ao mesmo tempo cronológica e focada em eixos que evidenciam as diferentes facetas da artista, a partir da apropriação do prefixo “trans”.

“A gente quis nessa exposição abordar a obra de quadrinhos, mas sem deixar de lado a transexualidade da Laerte. Eu achei que seria muito interessante dividir a carreira da Laerte cronologicamente, em diferentes etapas, usando esse prefixo ‘trans’ para denominar cada época”, explica Chinen.

A primeira etapa é a Transgressão, que simboliza a forte participação de Laerte no humor político e sindical no início da carreira, numa época em que a censura da ditadura militar ainda dominava o país. A Transformação, por sua vez, enfatiza as transições ao longo de sua trajetória.

“Cada etapa da obra da Laerte que está nessa exposição tem esse subtítulo, justamente para aproveitar desse prefixo trans, mas também para dizer: ‘transpiração foi uma fase em que ela produziu muito, suava bastante porque produzia para revistas, jornais, livros infantis…’”, completa o curador.

Outra tarefa difícil ficou com a arquiteta Ana Kalil: condensar os quase 400 trabalhos escolhidos no espaço da exposição. Responsável pelo projeto expográfico, ela descreve o processo de concepção da exposição como inquietante. “Como trazer esse espírito revolucionário e livre para uma exposição?”, era a pergunta que a acompanhava. No fim, deu certo. Com cuidado, respeito e, claro, uma parcela de ousadia, cada obra conseguiu seu lugar.

A exposição conta ainda com a exibição de um episódio do programa de entrevistas Transando com Laerte, que a cartunista comandou no Canal Brasil entre 2015 e 2018.

Sempre em trânsito

As fases de Laerte se confundem com as fases do Brasil nos últimos 50 anos. Desde que começou a produzir, sua obra é um exemplo prático do humor como uma poderosa arma de denúncia. Esse aspecto não poderia ficar de fora da exposição: a primeira peça é justamente uma charge sobre liberdade de expressão, feita por ela em 1974 e vencedora da primeira edição do Salão de Humor de Piracicaba.

O Salão nasce justamente como uma forma de respirar e resistir em meio à censura, criado por um pequeno grupo de cartunistas. Na obra de Laerte, referência à história dinamarquesa A Roupa Nova do Rei, uma criança grita “O rei estava vestido!” enquanto é torturada, presa pelos braços e amarrada com bolas de canhão pelos pés, numa sala repleta de carrascos.

“A primeira fase da Laerte é muito marcada pela oposição política. Depois, vem um período em que ela não é tão politizada, mas faz muitas críticas sociais. A última fase é a que o pesquisador Paulo Ramos chama de ‘tiras livres’, a etapa em que ela deixou de ver graça no tipo de humor que fazia, na fórmula que havia explorado durante anos, e começou a fazer algumas tiras que a gente pode classificar como filosóficas. Elas parecem meio absurdas, mas são um tipo de construção de narrativa diferenciado. Também é uma postura política”, diz Nobu Chinen.

Ironia, provocação e incisividade se mantiveram constantes nas diferentes transformações dessa artista-camaleoa. Nas páginas dela, há espaço para política, economia, cultura e filosofia. E se o tom muda conforme o nível de tirania no país, algumas denúncias se mantêm mais atuais que nunca.

“A história anda sempre à frente, embora pareça que às vezes quer dar um passo para trás. Mas a crítica aos poderosos, ao capitalismo exacerbado e a certas hipocrisias da sociedade continuam atuais, infelizmente, porque a sociedade continua hipócrita, racista, homofóbica e uma série de outras coisas”, reflete Chinen.

Laerte além das páginas

O público de Salvador receberá um baita ‘mimo’: a exibição de um exemplar do troféu Muriel, estatueta deste ano da premiação HQMIX, uma das mais tradicionais cerimônias dos quadrinhos brasileiros, feita em homenagem a Laerte.

A premiação aconteceu na última quarta-feira (11), e cada vencedor levou para casa um troféu Muriel, confeccionado pela própria artista. A arte do prêmio traz um armário, no qual é possível ver, de um lado, pernas masculinas entrando e um torso feminino saindo, simbolizando a transição de gênero da criadora e da criação – sua personagem Muriel, que protagoniza tiras de Laerte desde 2004.

A homenagem é mais que merecida para a criadora de personagens como os Piratas do Tietê, o super-herói Overman, Muriel, os Palhaços Mudos, o Homem-Catraca, Suriá, Fagundes, o puxa-saco e muitas outras figuras, que criou e depois decidiu abandonar ao abdicar das histórias com personagens fixos, no início dos anos 2000. Essa foi mais uma das reinvenções de Laerte.

“Laerte sempre se reinventa. É uma artista muito inquieta, não é conformada. Ela sempre está inovando, pegando o que está no ar, trazendo novas propostas. Seu humor já nasceu refinado”, defende Chinen.

E se as inovações estão no conteúdo, o meio também se transforma. Laerte é dos jornais e das revistas assim como é hoje das redes sociais, conquistando públicos de todas as idades – e é também, claro, das galerias e museus.

“Entrar nesses centros culturais é uma forma de legitimar os quadrinhos. Não que a gente batalhe por um status, não é isso. Mas, a sociedade aceita melhor algo que até então é uma coisa meio marginal [quando está nesses lugares]. Muitos ainda dizem que quadrinhos são coisa de criança, e não é bem assim: são para todos os públicos, desde crianças, que é o mais natural, às leituras mais maduras e profundas, com uma densidade maior”, completa o curador.

Trans Laerte / A partir de hoje até 23 de fevereiro de 2025 / Visitação: de terça-feira a domingo das 10h às 20h / Museu de Arte Contemporânea da Bahia - MAC [Rua da Graça, 284, Graça] / Gratuito / Classificação indicativa: livre

*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.

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