Música para baixar brasileira: artistas disponibilizam seus discos para download

Ouça: "Amor em Jacumã", de Lucas Santtana(aqui) ; "A Anti-musa", de Rômulo Fróes(aqui); "Cordão de Isolamento", de Wado(aqui).

A alguns meses do fim desta década, já dá para começar a olhar para trás e tentar entender melhor o que aconteceu culturalmente nos últimos dez anos, os chamados anos 00.

Com a chegada em larga escala da internet, novas tecnologias e pirataria, hoje vive-se um novo momento nas formas de consumo, produção e circulação dos bens culturais.

Especialmente na música, onde a grande indústria vê a cada dia reduzir suas vendas e seus lucros, ao mesmo tempo que cada vez mais existem mais pessoas consumindo música nos seus Ipods, PCs e Mp3s.

No Brasil, começam a surgir, em número cada vez maior, artistas antenados com o seu tempo, produzindo música contemporânea, urbana, mas sem deixar de lado o legado da história da música popular brasileira.

O catarinense radicado em Alagoas Wado, o baiano que mora hoje no Rio Lucas Santtana e o paulista filho de baiano Romulo Fróes, que acabam de lançar novos discos, são três exemplos para tentar explicar o tipo de novo artista que surge destas mudanças, que a cada dia se mostram um caminho sem volta.

Todos estão na casa dos trinta anos e, apesar de terem começado a mexer com música nos anos 90, é agora, nos anos 00, que se afirmaram com sua produção autoral, que, apesar de ainda não ser considerada mainstream, se mantém na ativa com um público fiel e que, com a circulação, se mostra em um crescente.

Por isso, os três usaram a melhor estratégia que estava à disposição para fazer suas canções chegarem ao maior número de pessoas: eles mesmos disponibilizaram seus novos discos na rede, para quem quiser baixar as canções. É a nova música para baixar brasileira, que pede passagem – e um clique no mouse do seu computador.

SONS PERIFÉRICOS – Deles, quem tem disponibilzada – oficialmente – toda sua discografia solo (cinco discos) é Wado, que acaba de lançar "Atlântico Negro", álbum em que continua sua linha de misturar os sons periféricos do terceiro mundo com influências da música brasileira. O disco ainda não chegou às lojas em seu formato físico, mas já está disponível, assim com seus outros, no site do músico (www.wado.com.br ).

"Meu primeiro disco, lançado por uma gravadora em 2001, tinha um contrato de cinco anos de exclusividade. Em 2006, voltei a ser dono de toda minha obra. Estava atrás de novas estratégias para ganhar dinheiro e coloquei todos os discos na internet. O resultado é que hoje, mesmo morando em Maceió, eu nunca toquei tanto", diz Wado, em entrevista por telefone, de São Paulo.

Quem se deu muito bem também, inclusive financeiramente, com a internet foi Rômulo Fróes, que lançou oficialmente, em formato físico, no final do último mês de março, o disco duplo "No Chão Sem o Chão", aclamado pela imprensa especializada, uma aposta certa nas diversas listas de melhores do ano.

Rômulo esteve em Salvador, em uma rápida passagem para acompanhar sua mulher, a artista plástica Tatiana Blass, que inaugurou na sexta(7) sua exposição "Cão Cego", na capela do Museu de Arte Moderna da Bahia. Aproveitou a estada para articular um pequeno show, na última quarta(5), na Midialouca, no Rio Vermelho, a fim de divulgar o disco, convidando alguns amigos baianos (a cantora Manuela Rodrigues e o guitarista Beto Barreto, da Lampirônicos) para participarem.

O show foi divulgado por e-mail para os clientes da loja em cima da hora e, mesmo assim, levou um razoável público, entre curiosos e alguns que mostravam conhecer bem os outros dois discos ("Cão" e "Calado") dele.

Desde dezembro do ano passado, "No Chão Sem o Chão" pode ser encontrado em alguns blogs (um deles, indicado pelo próprio Rômulo no seu Myspace, é Um Que Tenha - http://umquetenha.blogspot.com ) especializados em música brasileira, especialmente aquela que está fora de catálogo ou fora do acervo das majors, as grandes gravadoras.

"Antes de tudo, eu também sou um consumidor destes sites. Como poderia encontrar um monte de coisas que hoje não é possível encontrar nas lojas? E também eu logo percebi que a internet era o caminho. Então eu plantei ele em alguns sites, e a repercussão foi ótima. No dia em que lancei meu disco em São Paulo, que teve umas matérias bacanas comigo lá, meu disco teve mais de 2 mil downloads em um desses sites. É mais que a venda dos meus outros discos. E, mesmo colocando ele antes, meu disco tá vendendo bem, já estou partindo para o segundo lote", diz o cantor e também artista plástico Rômulo.

Quem fecha esse trio é o baiano Lucas Santtana, que acaba de lançar "Sem Nostalgia", seu quarto álbum de estúdio, em que usa apenas três elementos – voz, violão e ambientações –, mas com um resultado surpreendente para o tão batido formato de discos que tem como norte os sons do violão.

Lucas tem o site Diginois (www.diginois.com.br) , que também é selo digital, onde, além de servir como uma espécie de blog pessoal, podem ser encontrados links para baixar seu novo disco, além do anterior, o "3 Sessions in a Green House".

"Lancei o '3 Sessions' também na internet e vi que foi uma experiência muito positiva. Ele vendeu mais que meus outros dois discos, que foram lançados por gravadoras com um bom esquema de divulgação. Hoje em dia, quem compra disco é muito mais como um souvenir, você baixa, gosta e quer ter aquilo para sempre contigo, algo que no futuro você possa mostrar a seus filhos".