CULTURA
Músicos baianos fazem trilhas de cinema a propagandas
Por Marcelo Argôlo

A Orquestra Sinfônica da Bahia (Osba) estreou este ano o Cine Concerto, no qual apresentou composições que marcaram a história do cinema. São trilhas sonoras consagradas como a dos filmes O Poderoso Chefão, Super Homem e Guerra nas Estrelas, entre outros. O sucesso da iniciativa foi perceptível na reapresentação de abril, quando a fila contornava o teatro.
O sucesso da proposta, entretanto, não se reflete na produção de trilha sonora em Salvador. Até porque não há um mercado de cinema que gere uma demanda de trilha.
A produção de trilha sonora por aqui é demandada pelas agências de publicidade. São filmes publicitários, com duração média de 30 segundos, que mantêm a maioria dos compositores de trilha.
Em relação às produções com maiores preocupações artísticas, a demanda é de curtas-metragens. A maioria deles é produzida para circular e concorrer em festivais pelo Brasil.
Moisés Souto, mais conhecidos como Momó, e Bob Bastos são dois dos profissionais que trabalham com a produção de trilha sonora em Salvador. Eles receberam a equipe de reportagem de A TARDE nos estúdios onde trabalham.
Na entrevista, falaram sobre as etapas e as preocupações que envolvem o desenvolvimento de uma trilha. Além disso, trataram sobre as especificidades de uma trilha sonora em diferentes produtos audiovisuais e o papel que desempenha.
Etapas e preocupações - Moisés e Bob têm processos de produção parecidos. Ambos começam com uma conversa com o diretor do filme para compreender quais as intenções e os objetivos do filme. A relação deles com o diretor define o rumo que a trilha vai seguir.
"Eu começo uma trilha conversando com o diretor para tentar sentir a atmosfera que o filme vai pedir. Às vezes ele traz uma referência, mas prefiro não ouvir. Eu não gosto de trabalhar com referências, só quando eu não tenho proximidade com o diretor que eu até aceito ouvir. Normalmente eu prefiro não ter nenhuma referência de outra trilha ou ritmo ou instrumento, nada", conta Bob.
"Eu me preocupo, em primeiro lugar, em saber o que o diretor quer passar com o filme. É ele o responsável por tudo no filme, então ele quem vai dizer como deve ser a trilha. Tem diretores que sugerem ritmos, instrumentos, tem outros que deixam você mais livre. Acontece de o diretor querer ir por um caminho e a gente argumentar para ir por outro", diz Moisés.
A etapa seguinte à conversa com o diretor é a inspiração e a busca por um conceito que guie a construção do tema da trilha. Nessa segunda etapa, também há uma sintonia entre as formas como os dois trabalham, sempre de acordo com as imagens do filme.
"Depois da conversa com o diretor, eu zero os templates e os presets. Isso significa que eu não trabalho com nada que eu já trabalhei em algum outro projeto. Eu prefiro uma página em branco na minha mente. Assisto ao filme várias vezes, de preferência em silêncio, no escuro, e tento fazer uma leitura do que a imagem está me pedindo", diz Bob sobre a etapa de composição do tema da trilha.
"Em segundo, após ouvir o diretor, me preocupo com o que a cena quer passar e depois viajar em que ritmo usar, que instrumentos seriam melhores. Essa parte é secundária, o principal é buscar o conceito. Não adianta ter um grande domínio de música e tocar virtuosamente um instrumento e não entender o que o diretor quer, o que a cena quer, porque não vai sair uma boa trilha", afirma Moisés sobre as suas preocupações.
Especificidades e função - O processo de Bob e Moisés para a construção da trilha é o mesmo para qualquer produto audiovisual. A diferença está no tempo do filme e na função que a música desempenha em cada um deles.
Com duração maior, as produções voltadas para festivais de cinema, mesmo os curtas-metragens, possibilitam a criação de um tema mais detalhado, com variações e nuances. O que os 30 segundos da publicidade não permitem.
"No cinema dá para você desenvolver um tema musical maior, mais amplo, fazer uma música com mais qualidade, deixar a música fluir. Enquanto que na publicidade, quando você começa a desenvolver já tem que pensar na resolução", afirma Moisés.
"O mais difícil de todos é a publicidade, porque o espaço é menor. Então a liberdade de criação é muito menor, no sentido de você conseguir construir alguma coisa que fique na sua mente", afirma Bob.
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