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CULTURA

Novo retrato de Leila Diniz pelas mãos do escritor Joaquim Ferreira dos Santos

Por RONALDO JACOBINA | A TARDE

06/12/2008 - 14:39 h | Atualizada em 06/12/2008 - 15:32

Que ela desfilou de biquíni, em 1971, grávida de sua única filha, Janaína – fruto de um rápido casamento com o cineasta e escritor Ruy Guerra –, pelas areias de Ipanema chocando a sociedade da época, todo mundo já sabe. É de conhecimento público também aquela famosa entrevista do jornal Pasquim, em 1969, em que destilava palavrões e fazia apologia ao prazer sexual numa época de puro recato. Mas o que nem todo mundo sabe é que a polêmica e revolucionária atriz Leila Diniz (1945-1972), ícone da liberação feminina, teve uma infância difícil e tumultuada.

Criada pela segunda mulher do seu pai, como filha biológica, somente no começo da adolescência descobriu que sua mãe verdadeira vivia numa casa de repouso. A descoberta abriu caminho para a rebeldia. Aos 14 anos, a menina de Niterói circulava pela noite carioca nos anos dourados, exibindo tranças infantis e atitudes pouco comuns para a época como fumar, beber e se relacionar sexualmente com diferentes homens pelas areias escaldantes do Rio de Janeiro.

Estas e outras histórias constam em Leila Diniz, uma revolução na praia,a mais nova biografia da artista, escrita pelo jornalista carioca Joaquim Ferreira dos Santos. O autor relata, de forma cronológica, a história da atriz que atuou no teatro, no cinema e na televisão, e não hesita em afirmar que Leila Diniz teve uma presença muito mais marcante como personalidade pública do que como atriz.

Entrevistas – Em linguagem jornalística, Joaquim Ferreira dos Santos produziu um relato rico e sincero da trajetória da atriz. O trabalho de apuração, que durou cerca de dois anos, é resultado de quase 80 entrevistas com pessoas que conviveram com a artista, inclusive a irmã de Leila. A pesquisa ajudou o autor a fazer um retrato fiel da artista. Embora não traga nenhuma história inédita ou uma revelação mais bombástica do que as que ajudaram a fazer de Leila Diniz uma lenda carioca, Joaquim consegue prender o leitor mesmo quando narra episódios conhecidos.

Dentre os "causos" revelados pela biografia está o episódio que envolveu a novelista Janete Clair, que teria vetado o nome da atriz nas suas novelas na TV Globo por considerá-la uma prostituta. "Não tenho papel de prostituta nas minhas próximas novelas", teria dito a escritora, temendo que a má fama da atriz afastasse o público mais conservador.

O episódio é confirmado pelo então diretor da emissora, Daniel Filho, e desmentido pelo ex-todo poderoso da Vênus Platinada, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, que diz que o que aconteceu foi que Leila teria abandonado a emissora para fazer uma novela na Excelsior e que isso era imperdoável na Globo.

Um dos casos mais curiosos do livro envolve o ex-apresentador de TV Flávio Cavalcanti, que teria dado guarida a Leila quando ela foi perseguida pela polícia por atentado ao pudor. Cavalcanti também deu emprego a Leila no seu programa quando todas as portas se fecharam para ela. E foi o controverso apresentador quem armou um plano mirabolante e ao vivo para livrá-la da prisão.

Este episódio leva o leitor às gargalhadas. O comportamento pouco convencional de Leila Diniz sempre foi questionado pelos puristas da época, que não hesitavam em chamá-la até de vagabunda. Seja pelas cenas que protagonizava quando desfilava grávida, de biquíni, pela praia de Ipanema, seja pelo seu comportamento livre. Ao contrário do que se pensa, as feministas a criticavam porque achavam que ela fazia o jogo dos homens e até mesmo os amigos mais próximos a viam como uma mulher avançada demais para o seu tempo.

Esse efeito que Leila causava não passa despercebido pelo olhar atento do autor, que diz num dos trechos: "Morta, a ‘prostituta’ transformou-se imediatamente em santa e teve seu busto entronizado no altar das mulheres que ajudaram a inventar o País".

O olhar curioso do jornalista, aliado a uma grande sensibilidade, foi fundamental para o resultado da biografia. Por vezes indiscreto, não abriu mão de explorar as fofocas que envolviam a personagem da história que queria contar. Mas nem de longe faz qualquer juízo de valor.

Embora passe ao largo de possíveis interpretações, Joaquim Ferreira dos Santos narra a infância da atriz, deixando pistas de que esta fase pode ter sido determinante para a construção de sua personalidade marcante e rebelde. Criada pelo pai, um militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), e por várias mães, já que a verdadeira tinha problemas de saúde, o que a impossibilitou de conviver com os filhos, Leila teve que trilhar seu próprio caminho.

Apesar de não ter tido participação política partidária durante a ditadura militar, incomodou muito o regime e se envolveu em várias confusões por dar guarida a perseguidos pelos militares, como o jornalista Chico Nelson, um dos envolvidos no seqüestro do embaixador americano Charles Elbrick.

Namoros – Péssima aluna – faltava muito às aulas –, não chegou a concluir o segundo grau, optando pela carreira de atriz. Namorou diversos homens, dentre eles o diretor Domingos de Oliveira e o cineasta Ruy Guerra, pai de Janaína, sua única filha. Acostumada a escolher seus parceiros, pelo menos um não conseguiu colocar no seu vasto currículo, conforme revela Joaquim. Segundo ele, a atriz deu em cima, acirradamente, do cantor Roberto Carlos, porém, a história não foi adiante por problemas de agenda do rei.

Mas nada abatia a cantora. Certa vez, enquanto participava do júri de Flávio Cavalcanti, o compositor Ronaldo Bôscoli, seu colega de bancada, jogou charme pesado para Leila, que disparou: "Calma, Ronaldo, não precisa ter pressa porque você consta da minha lista".

Esta era Leila Diniz. Atrevida, libertária e revolucionária. Suas atitudes pouco convencionais lhe renderam algumas associações que só ajudaram a manchar sua imagem na época. Uma delas diz respeito ao Decreto-lei número 1077, assinado pelo então presidente militar Emílio Garrastazu Médici, que, depois de publicado, ganhou o nome de Decreto Leila Diniz.

O decreto tinha o objetivo de “banir o perigo vermelho que estava distorcendo os valores morais da sociedade”. A lei era para impedir o avanço do amor livre e assegurar a formação sadia da mocidade. Coisas que nem de longe interessavam a atriz. Uma outra associação infeliz foi com um surto de gripe que assolou a população do Rio no começo dos anos 70. A tal gripe ganhou o nome da atriz: “Leva todo mundo pra cama”.

Morta em 1972, aos 27 anos, num acidente aéreo na Índia, onde foi participar de um festival de cinema, Leila Diniz teve uma vida curta, porém intensa. E foi com essa mesma intensidade que Joaquim Ferreira dos Santos conseguiu contar, de forma isenta e, por vezes, bem humorada, a trajetória desta estrela.

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