CULTURA
O Carnaval da banda Eddie
Por Carla Bittencourt
As duas filas que se formaram na porta da Boomerangue anunciavam que seria quase impossível entrar no show que o Eddie fez em Salvador no último sábado(29). Empurra-empura, briga com quem sonhava em guardar lugar, mas ninguém arredava pé de tentar um espacinho que fosse perto do palco para ver o terceiro show da banda aqui com o disco "Carnaval no Inferno".
Onze e meia e ainda tinha gente equilibrando a paciência na fila, que ia se desfazendo conforme passava o tempo. Para quem previa o inferno, foi um alívio ver metade daquele mundaréu entrando na festinha que rolava no primeiro piso da Boomes. Era uma da manhã quando os pernambucanos subiram no palco. "Ainda há fogo em mim", dizia a voz gravada de Karina Buhr (ex-Comadre Fulozinha), no começo do frevo "Bairro Novo, Casa Caiada", para uma plateia totalmente entregue. Pena que a participação especial da cantora no disco não se estendeu aos shows do Eddie. Ela é ótima.
Na terceira música, a galera parou para cantar parabéns para Fábio Trummer. Com um copo erguido, o vocalista agradeceu lembrando que também era aniversário de Michael Jackson e, sem comentar o homicídio do rei do pop, dedicou a ele a música 'Original Olinda Style". Na sequencia, Trummer reverenciou Junio Barreto, parceiro na autoria de "Quase Não sobra Nada". " Ele tem o dom de transformar palavra em cinema", disse. Os versos do músico de Caruaru pareciam mesmo um filme: "Sobra uma volumosa e amarga demência / sobra o tempo /passou".
Eddie faz show em Salvador com a intimidade de quem toca em casa. "Aqui está sendo o lugar que a gente tem feito questão de tocar sempre, subindo ou descendo, a gente pára e faz o show", disse Trummer, lembrando que uma parte da banda mora em Recife e outra, em São Paulo. As músicas são para dançar com o olho fechado ou agarradinho, como no "Baile de Betinha". Perto do fim, como tinham anunciado que fariam, eles tocaram duas do Ramones no "estilo Eddie"." I wanna be Sedated' e "Teenage Lobotomy" com pegada de Olinda.
A despedida, que é sempre de um bocado de música, teve "Bebete Vambora", de Jorge Ben, "Pode me chamar" e "Quando a maré encher", que Cássia Eller fez muita gente cantar sem nem saber quem era o Eddie. Eles fazem todo mundo pular ao mesmo tempo em que canta problemas sociais, questões filosóficas ou versos de amor. "Desde que começamos, a cena musical do Recife amadureceu muito. A gente surgiu num momento em que pouco se refletia sobre as coisas em Pernambuco. Isso mudou", disse Fábio Trummer. Carnaval no Inferno está aí para provar. Agora é esperar para queimar outra vez.
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