CULTURA
Ópera sobre independência da Bahia será encenada na Concha do TCA
Espetáculo ocorre de forma gratuita, às 19h, nesta quinta e sexta-feira
Por Eugênio Afonso
As comemorações pela passagem do bicentenário da independência da Bahia no Brasil – oficializada em 2 de julho – ainda rendem homenagens. O tributo mais recente é a encenação do espetáculo teatral Dois de Julho – A Ópera da Independência.
Comandado pelo consagrado diretor de teatro Paulo Dourado e com texto da dramaturga e imortal da ALB, Cleise Mendes, o musical será apresentado amanhã e depois, às 19 horas, na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, com entrada gratuita.
A ideia é rememorar a mais importante data histórica da Bahia. Saber que há 200 anos, o 2 de Julho consolidou, em terras baianas, a independência do Brasil. E que após uma batalha de um ano e quatro meses contra os invasores portugueses, a vitória finalmente foi alcançada.
A plateia vai assistir ao triunfo dos baianos sob o comando do general Labatut, que resistiu às investidas de Portugal quando o país tentava barrar a independência do Brasil proclamada por D. Pedro I em 7 de setembro de 1822, quase um ano antes da epopeia na Bahia.
Dourado conta que o primeiro objetivo do espetáculo é contar a história da Bahia para os baianos através de um teatro popular contemporâneo: “O segundo é integrar o teatro às tradições populares, ao calendário dos costumes. O terceiro, criar um teatro contemporâneo, como se fosse a escola de samba do teatro. E quarto, realizar um trabalho profissional. Acabar com a ideia de que teatro popular é uma coisa tosca, primitiva”.
Cleise Mendes aproveita para acrescentar que “este espetáculo tem também um objetivo pedagógico, no sentido mais amplo, porque aqui o teatro tem a função de fazer uma mediação artística, de levar ao espectador fatos e imagens de um momento decisivo na história da Bahia e do Brasil”.
Painel histórico
Para a autora, foi preciso enfatizar no texto o significado da luta baiana para a verdadeira afirmação da nossa independência.
“No sentido prático, real, de ‘botar pra correr’ os invasores. Porque o famoso grito de Dom Pedro – ‘independência ou morte!’ –, claro, tem sua importância política e simbólica, mas não impediu que mais e mais reforços militares viessem de Portugal e brasileiros continuassem a morrer por mais de um ano”, diz Cleise.
Mendes ressalta ainda que quando se trabalha com acontecimentos históricos, tomando-os como material para a dramaturgia, tem-se uma dupla tarefa, e que no caso da saga do 2 de julho, existem várias personagens que já adquiriram ‘vida própria’, como é o caso de Maria Quitéria, Joana Angélica, João das Botas e tantos outros.
“Então, eu não poderia omitir uma dessas figuras, elas fazem parte desse painel histórico. E se por um lado temos liberdade, é claro, pois é um trabalho de criação, por outro estamos lidando com uma história conhecida por todos, ou pela maioria do público”, ressalta a escritora.
Profissionalismo
No palco, o público vai se deparar com combatentes anônimos – pretos, indígenas e mestiços –, que deram a vida pela libertação do povo brasileiro, além de heróis reconhecidos como Joana Angélica, Maria Quitéria, Maria Felipa, o corneteiro Lopes e o poeta Castro Alves, que será o narrador, embora não tenha participado pessoalmente da batalha.
Todos vividos por atores profissionais do teatro baiano. Como narrador, estará Castro Alves, interpretado por Daniel Farias. Maria Felipa será vivida por Bárbara Borga, e Carlos Betão fará Dom João e Madeira de Mello.
Tem ainda Evelin Buchegger, Marcelo Flores, Diogo Lopes Filho, Márcia Andrade, Lúcio Tranchesi, dentre outros. A trilha sonora original é assinada pelo cantor e compositor Gerônimo, que conduzirá uma orquestra ao vivo.
O artista relata que fez a trilha baseada justamente em histórias do Recôncavo, que é seu lugar de origem. “Também coloquei músicas minhas dentro desta história e acrescentei duas músicas clássicas, uma de Bach, a Ária número 3, e outra de Wagner, a Cavalgada das Valquírias, que é quando o exército baiano se depara com os portugueses”, informa o músico baiano.
Falta de apoio
E apesar de ser um espetáculo que trata de uma das mais importantes datas históricas da Bahia, Dois de Julho só foi encenado uma única vez, em 2013. Para Paulo Dourado, isto acontece por absoluta falta de incentivo.
“Levamos 10 anos para encenar novamente porque não conseguimos apoio. É um projeto que precisa ser autossustentável, feito com entrada gratuita, portanto dependo dos patrocínios privado ou público. E tudo isso sofreu gravemente nos últimos anos na Bahia. Sem o incentivo público e o patrocínio privado não tem como fazer”, avisa Dourado.
O desejo dele é o de que “a gente passe a fazer, pelo menos, um ou dois espetáculos desses por ano. Estamos empregando diretamente em torno de 100 pessoas. Se for somar tudo, dá mais de 200 pessoas remuneradas. E isso também permite aos atores poderem estar trabalhando sempre”, observa.
É dele a ideia de poder produzir com mais frequência grandes espetáculos na Bahia. Paulo acredita que temos bastante material para isso, já que as culturas populares baianas, além de sincréticas, são muito ricas.
“Aqui, as coisas se misturam. Os primeiros episódios da guerra do 2 de Julho e a morte de Joana Angélica, por exemplo, aconteceram durante o Carnaval. Aqui tudo tem festa no meio, espiritualidade e misticismo. Eu adoro isso”, conclui o diretor.
Com coreografia de Jorge Silva e figurino de Luis Claudio de Vasconcelos, Dois de Julho – A Ópera da Independência é a mais recente obra do projeto Teatros do Tempo, comandado pelo ator e produtor Dody Só. Búzios – A Conspiração dos Alfaiates (1992), Canudos, A Guerra do Sem-Fim (1993), Lídia de Oxum – Uma Ópera Negra (1995) e A Paixão de Cristo (2011) são outros espetáculos da companhia.
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