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CULTURA

Refavela é comemorado com show de Gil na Concha

Por Ana Carolina Passos*

22/09/2017 - 8:00 h
O cantor Gilberto Gil recebe homenagem de cantoras
O cantor Gilberto Gil recebe homenagem de cantoras -

Era 1977, o Brasil vivia período de repressão, censura e forte sensibilidade estética e cultural. O mundo negro ratificava, nos mais diversos lugares do mundo, a musicalidade e as raízes. Uma viagem de 7.167 km à Nigéria trouxe de volta um Gilberto Gil que borbulhava criatividade e negritude para um país desigual.

Assim nasce Refavela, disco que terá os 40 anos de lançamento celebrados neste sábado, 23, às 19 horas, na Concha Acústica do Teatro Castro Alves.

O segundo álbum da trilogia Re – iniciada com Refazenda (1975) e fechada com Realce (1979) – tem como temática central as produções rítmicas e artísticas do mundo negro. A comemoração conta com a participação de Ana Cláudia Lomelino, Céu, Nara Gil, Maíra Freitas, Moreno Veloso e o próprio Gilberto Gil, todos partilhando os vocais.

A banda é composta por Bem Gil, Bruno Di Lullo, Domenico Lancellotti, Thomas Harres, Thiagô de Oliveira e Mateus Aleluia.

"A minha relação com o disco e com os shows é musical, de admiração, de gosto pelos sons, pelas canções e tudo que envolve essa temática. De voltar às origens, nesse sentido de ancestralidade espiritual", afirma Bem, filho de Gil e idealizador da comemoração.

Além das 10 faixas que compõem a obra, a apresentação conta com músicas que se interligam com o período do disco, produções que ficaram de fora e canções que inspiraram Gil. Maíra Freitas, filha de Martinho da Vila, assim como Bem Gil, conta que não era nascida na concepção do álbum, mas que ele sempre fez parte do imaginário dela.

"Escutei muito na infância, minha mãe sempre colocava para a gente ouvir. É um disco que fala sobre negritude, que mistura ritmos. Para mim, é uma grande referência da música brasileira", afirma Maíra.

Já Moreno Veloso, que tem Sandra como a música do disco preferida, retira das memórias imagens da viagem de Gil e Caetano à Africa, mesmo muito pequeno na época.

"Me lembro muito bem quando eles voltaram trazendo fotos, histórias, objetos e estavam todos muito excitados com a quantidade de cultura e informação que receberam lá", conta Moreno.

Atemporalidade

Quarenta anos se passaram desde o período conturbado em que o disco foi produzido, mas as desigualdades brasileiras se perpetuam em pleno 2017.

"Refavela é absolutamente contemporâneo. Passados 40 anos permanece a necessidade de denunciar o racismo estrutural da sociedade brasileira. Faz parte da comemoração uma revisita a este grave problema", diz Maurício Barros de Castro, escritor da obra Gilberto Gil - Refavela, lançada pela editora Cobogó este ano.

O disco, que foi alvo de críticas e precisou ser digerido aos poucos, traz nas letras das canções dilemas negros do mundo, como na passagem do manifesto composto para a obra: "Refavela, vila / Abrigo das migrações forçadas pela caravela", nas palavras de Gil.

"O Brasil ainda é um país muito dividido, racista, que tem políticos que ainda continuam dividindo as cidades, colocando o pobre cada vez mais na periferia", reitera Maíra.

Celebração

Além de ter sido mote do show, o disco é tema do livro escrito por Maurício Barros de Castro, que tem uma relação íntima com a obra.

"Posso dizer que sou, principalmente, um apaixonado pelo álbum. Acho um dos discos mais importantes da música brasileira, e que aborda uma questão conceitual de forma brilhante", afirma Maurício.

As expectativas para o show na Bahia, berço da cultura africana no Brasil, são grandes. Para eles é um misto de felicidade e emoção, por estarem em casa.

"Em Salvador tudo isso se identifica, é uma coisa muito forte. Queremos que o show da Concha seja melhor ainda, é a nossa terra, lugar icônico, importante e com uma vibração muito boa", diz Moreno.

Para Bem Gil, que não tem nenhuma predileção musical no álbum, mas é amante de toda a concepção, a Bahia revigora. "Esse show vai ser uma loucura. Para a gente vai ser um prazer danado, a Bahia é um lugar de cura", enfatiza.

Com a responsabilidade de cantar Ilê Ayê, mas tendo como preferida Babá Alapalá, Maíra Freitas acredita que em Salvador é quase impossível não se emocionar. "Eu tô só felicidade, uma ansiedade boa. Vou tentar não chorar", confessa a cantora.

O show já foi visto no Rio e em São Paulo.

| SERVIÇO |

Refavela 40

Quando: sábado, 23, 19h

Onde: Concha acústica

Quanto: R$40 e R$80 (plateia) e R$80 e R$160 (camarote)

*Sob a supervisão do jornalista Luiz Lasserre

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