CULTURA
Suaves embalos do iê iê iê
Por Marcos Uzel, do A Tarde
A canção ingênua falava do conflito de um rapaz que estava amando loucamente a namoradinha de um amigo. O cantor e compositor Zé Renato, na época um adolescente aspirante a tocador de violão, se encantou pela melodia daquele grande sucesso da Jovem Guarda, composto por Roberto e Erasmo Carlos. Foi a primeira música que aprendeu a tocar, aos 14 anos de idade, quando ganhou do pai seu primeiro violão.
Essa história levemente nostálgica é um exemplo da ligação afetiva de Zé Renato com as canções daquele movimento da década de 1960, marcado por letras românticas e descontraídas, embaladas pelos acordes do iê iê iê com inspiração roqueira. Um elo que ele decidiu registrar em seu novo disco, É Tempo de Amar, lançado recentemente pelo selo MP.B, com distribuição da gravadora Universal.
O velho hit Namoradinha de um Amigo Meu, guardado na memória afetiva do artista, ficou de fora. Mas o CD traz outras pérolas do gênero, como Coração de Papel (Sérgio Reis), Nossa Canção (Luiz Ayrão), Eu Não Sabia que Você Existia (Toni e Renato Barros), Lobo Mau (Ernest Mareska com versão de Hamilton di Giorgio) e A Última Canção (Carlos Roberto). “Não precisei fazer nenhuma pesquisa para compor este repertório. Já estava tudo instalado em mim“, afirma o ex-integrante do grupo vocal Boca Livre.
O violão foi determinante na seleção das músicas. “Seus acordes me levaram a encontrar uma maneira de interpretar. Quando descobria um caminho harmônico para as melodias, as canções iam sendo definidas e ficando com a minha cara“, enfatiza o dono do projeto, que convidou o produtor Dé Palmeira, baixista da formação original do Barão Vermelho, para lhe auxiliar na base do disco.
O resultado da parceria rendeu um trabalho marcado por arranjos modernos e sofisticados, numa releitura de personalidade para 13 faixas da Jovem Guarda. Todas enriquecidas pela maturidade vocal de Zé Renato, que conquistou os jurados da Associação Paulista de Críticos de Arte e ganhou o respeitado Prêmio APCA de Melhor Cantor de Música Popular em 2008.
“O prêmio foi uma grande surpresa para mim. O disco saiu há tão pouco tempo e já tive este reconhecimento tão importante em minha carreira de mais de 30 anos“, comemora o artista, que cita os nomes dos amigos Nelson Motta e Patrícia Pillar como incentivadores fundamentais para a realização do disco. A faixa O Tempo Vai Apagar (Paulo Cezar Barros e Getúlio Cortes), por exemplo, entrou na trilha sonora da novela A Favorita, da Globo, como tema de Flora na primeira fase da trama, antes de a personagem vivida por Patrícia se transformar numa grande vilã.
Sem maquiagem – Apesar de ter ampliado as possibilidades sonoras de cada faixa com um arranjo bem elaborado, Zé Renato explica que não teve intenção de virar as músicas de cabeça para baixo. “Tenho uma forte relação sentimental com a Jovem Guarda, um respeito profundo. Queria apresentar as faixas que selecionei de maneira diferente, mas não desfigurada. Não é uma maquiagem, mas a minha visão destas canções“, esclarece.
Afilhado do cantor Sílvio Caldas, um dos vozeirões da história da MPB, Zé Renato pode ser considerado um filho da bossa nova, influência perceptível na sonoridade de seu novo disco fortemente marcado pela suavidade. “Tem uma coisa bossanovista, sim. Isso teve a ver com meu encantamento pelas melodias, que costumam vir para o meu colo antes das letras. A suavidade também vem daí“, sublinha o cantor e compositor nascido no Espírito Santo.
Desse passeio melódico surgiram alguns resultados luxuosos. Chamam atenção Quero Ter Você Perto de Mim (sucesso gravado por Roberto Carlos), cuja nova versão bebe na fonte do maestro Tom Jobim; a bela faixa título É Tempo de Amar (Pedro Camargo e José Ari); e a delicadeza romântica de Nossa Canção, que voltou à cena nestes anos 2000 em belas releituras de intérpretes como Maria Bethânia e Vanessa da Mata.
Serviço:
É Tempo de Amar
Zé Renato
MP.B / Universal Music
R$ 28
myspace.com/et
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