CULTURA
Telas de Antonio Carvalho de Novaes estão no Museu de Arte da Bahia
Inspirada nas obras do Aleijadinho, imagens estão expostas acontece até o dia 14 de maio
Por Tamires Silva*

Na quarta, 5, o Museu de Arte da Bahia Inaugurou a exposição Ocaso - Aleijadinho, Arte e Fé, do artista plástico Antônio Carvalho de Novaes. Inspiradas nas obras de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, as telas trazem as faces dos doze profetas esculpidos em pedra-sabão pelo artista mineiro em Congonhas do Campo (MG).
O título da exposição é em homenagem ao poema Ocaso, do modernista Oswald de Andrade, que esteve em Congonhas na companhia de outros modernistas, na década de 1920, e foi a partir disso que foi resgatada a importância do Aleijadinho para a arte, a história e a cultura do Brasil. Antônio Francisco Lisboa é considerado o maior escultor brasileiro de todos os tempos, e as esculturas, que fazem parte do Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, são tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e pela Unesco como patrimônio da humanidade.
“A exposição Ocaso - Aleijadinho, Arte e Fé é muito significativa em minha vida. Ela me permite mostrar ao público, na dimensão das artes plásticas, o trabalho primoroso e singular do maior escultor brasileiro de todos os tempos”, afirma Novaes.
“Acredito que o público que visitar a exposição terá uma oportunidade única de conhecer uma parte importante da obra do Aleijadinho, com a riqueza de detalhes que apresento em cada obra. Todo o trabalho de pontilhismo e pintura a óleo respeitou a obra original, trazendo de maneira fiel todas as nuances das faces das esculturas dos profetas e dos Passos da Paixão. As obras do Aleijadinho me emocionam e acredito que possa passar ao público, nesta exposição, essa emoção”, acrescenta.
Novaes conta que sua relação com a arte é antiga, mas por conta de compromissos da vida adulta, ficou sem pintar por muitos anos. “Comecei minha vida artística ainda muito cedo, aos 13 anos, mas com a chegada da vida adulta, fiquei muitos anos sem produzir telas. No entanto, em 2014, a arte que pulsava em mim voltou com toda força e partir de então não parei mais, começando a fazer exposições, inclusive a primeira ocorreu em Zwolle na Holanda”, conta.
“Considero que a arte se tornou parte indissociável de minha vida e os projetos artísticos continuam surgindo, o que me faz muito feliz e motivado. Eu havia feito uma obra alusiva à escultura do Davi, de Michelângelo, considerado um dos maiores escultores do mundo, e gostei muito do resultado da obra retratada em óleo sobre tela. A partir de então veio a seguinte questão: quem é o maior escultor do Brasil de todos os tempos? A resposta veio imediatamente: Antônio Francisco Lisboa, conhecido como Aleijadinho”, relata.
Imediatamente, Novaes começou a pesquisar o artista e sua obra. “Viajei para Congonhas em 2017 e obtive cerca de 900 fotos, que utilizei para produzir as telas, após uma escolha criteriosa. Contudo, é desafiador reproduzir em tela a textura da pedra-sabão, e para tanto, utilizei a técnica do pontilhismo aliada a pintura em óleo sobre tela, conferindo um resultado bastante realista. Para pintar o acervo da exposição foram necessários dois anos de trabalho”, conta.
“Em 2019, apresentei Ocaso pela primeira vez, no Museu Regional de Arte (MRA), em Feira de Santana, e no mesmo ano, no Museu de Arte Sacra da UFBA (MAS-UFBA), em Salvador. Estudei bastante a vida e a obra do Aleijadinho e hoje me vejo apto a falar sobre seu trabalho, algo que me emociona e que se tornou uma marca de minha produção artística”, afirma.
Para Novaes, as esculturas do Aleijadinho remetem a manifestações de fé e religiosidade, o que confere à exposição um “valor transcendente”. “Isso tem variados significados, conduzindo o visitante a uma experiência singular de fruição estética, sensorial e poética. Desde cedo, sempre fui ligado à religiosidade e junto com ela, a fé que permeia minha vida. Quando cheguei a Congonhas em janeiro de 2017, fiquei muito sensibilizado por estar ali, local de devoção e fé, e isso contribuiu para fortalecer minhas crenças”, relata o artista.
Intertitulo
Antônio Francisco Lisboa, O Aleijadinho, nasceu na cidade de Vila Rica em Minas Gerais, atualmente conhecida como Ouro Preto. A princípio o mestre estudou letras, latim e música com padres da cidade, logo cedo aprendeu a esculpir observando o trabalho de seu pai que era mestre carpinteiro, que esculpia em madeira imagens religiosas.
Mestre Aleijadinho passou por dificuldades para ser reconhecido por sua arte na época, devido ao seu status de mestiço, filho de uma escravizada Isabel.
Na segunda metade do século XVIII, a cidade começou a ter ricas construções em pedra e alvenaria, o que favoreceu o movimento artístico da colônia, permitindo que Aleijadinho desenvolvesse sua habilidade como arquiteto e escultor. Por conta da condição de filho de escrava, não lhe era permitido assinar seu trabalho nem nos livros de registro de pagamentos.
Quando sua fama cresceu e chegou a outras cidades e suas obras passaram a ser vastamente conhecidas, uma doença o atacou. Lepra ou sífilis, não se sabe ao certo. Mesmo com os pés e mãos deformados não abandonou sua arte.
Aleijadinho faleceu em 18 de novembro de 1814 em sua cidade natal. Com um estilo similar ao Barroco e ao Rococó, é considerado pela crítica brasileira quase em consenso como o maior expoente da arte colonial no Brasil e, para alguns estudiosos estrangeiros, é o maior nome do Barroco americano, merecendo um lugar destacado na história da arte do ocidente.
A exposição, gratuita ao público, ficará aberta para visitação até 14 de maio, sempre de terça a sexta, das 13h às 18h, e finais de semana e feriados, das 13h às 17h. O MAB é um equipamento administrado pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia, vinculado à Secretaria de Cultura. Está localizado à Avenida Sete de Setembro, 2.340, Corredor da Vitória.
*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.
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