CULTURA
Versos e prosa de Gonzagão e seus amigos
Por Cláudia Lessa, do A TARDE

O histórico encontro entre Luiz Gonzaga e Gilberto Gil em Exu, em 1985, nas comemorações dos 73 anos do Rei do Baião, foi registrado em áudio graças ao hábito de Gereba andar com uma gravador portátil. O músico baiano foi um dos que também estiveram presentes.
“Me lembro que Gil apareceu com uma letra escrita em um pedaço de papel de pão. Ele tinha acabado de colocar letra no famoso choro de Luiz Gonzaga, o 13 de Dezembro, que Gonzagão compôs para si, na década de 50“, conta Gereba.Ele recorda que Gilberto Gil mostrou a música, deu um beijo na testa de Seu Luiz e ele, emocionado, falou: “Dominguinhos, eu acho que vou adotar esse neguinho”.
Dentre muitas “preciosidades“, o músico baiano ressalta o lado contador de histórias de Luiz Gonzaga. “Essa faceta dele me impressionava bastante“, disse Gereba que, além de participar do aniversário do Rei do baião, foi motivado para fazer “um convite especial“ para ele e Dominguinhos.
“Que os dois participassem do seu meu projeto Carnaforró (trio elétrico tocando forró no carnaval de Salvador) era um velho sonho“. A ocasião dos três dias de festa na região e principalmente no parque Asa Branca, em Exu, na casa de Luiz Gonzaga, não havia oportunidade melhor, considerava.
Animado com o clima festivo, Gereba tomou coragem e fez o seu pedido: “Seu Luiz, considerando que o Senhor é o Rei dos shows em carrocerias de caminhões pelo Brasil afora, o Senhor não toparia se apresentar comigo em cima de um trio elétrico pelas ruas de Salvador, no ano que vem (1986)? “.
A resposta veio de imediato: “Gereba, como é que você me convida para subir em um trio elétrico ? Eu já estou velho para essas coisas. Já tenho 73 anos e o trio é uma coisa muito quente”.
Gereba não se deu por vencido: “Seu Luiz, o trio não é nada quente, tem geladeira, água de coco, banheiro e eu prometo para o senhor que nós vamos tocar em um lugar que tem muito vento, nós vamos hospedar o senhor em um hotel que fica no Porto da Barra e lá o senhor vai ter o maior conforto possível”.
”O trio Carnaforró”, continuou Gereba, ”vai rodar só na orla marítima, (fomos o primeiro trio a rodar na orla, em 1986)”. Luiz Gonzaga pensou, pensou e falou: “Dominguinhos, vamos?. A sim, de alguma forma, tinha sido dado. Sem contrato, o acerto foi de cavalheiros. “Mas deu tudo certo. Um milhão de pessoas, por dia, dançou quadrilha com a gente. Foi um sucesso. Fiquei muito orgulhoso. Luiz Gonzaga e Dominguinhos, conta Gereba, gostaram tanto de fazer forró no Carnaval, que voltaram nos anos de 1987 e no seguinte.
“A Bossa Veio do Baião" - Cheio de histórias guardadas também na memória, Gereba conta sem querer revelar nomes, que foi testemunha de outro episódio impactante. “João Gilberto disse para um amigo íntimo dele que a Bossa Nova veio do baião“. A importância do gênero musical inventado çpor Luiz Gonzaga foi reverenciado pelo próprio João Gilberto no baião Bim, Bom, no qual ele diz: “É só isso o meu baião/ E nao tem mais nada não"
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