CULTURA
Vilã de Lília Cabral rouba a cena em Páginas da Vida
Por Agencia Estado
Esqueça o mau-caratismo distinto de Bia Falcão (Fernanda Montenegro). Vilã sofisticada é coisa de novela... passada. Malvada vulgar, sem papas na língua, essa é a que diverte muito mais. É por isso que Lília Cabral vem roubando a cena da heroína Helena (Regina Duarte) desde o primeiro capítulo de Páginas da Vida. Quando ela atropelou um trombadinha, disse que melhor seria "se tivesse esmagado a cabeça dele".
E, quando alguém tentou defender o rapaz, ela deu de ombros e fez aquele sinalzinho nada educado com o dedo médio. "Estou aprendendo a fazer a bruxa má. Não falo palavrão, não sei como ofender desse jeito. Foram semanas para aprender", conta a atriz, brincando com a maldade da personagem.
Uma atriz do bem - Lília Cabral não tem mesmo cara de gente do mal, mas o talento compensa seu temperamento amistoso demais. Enquanto o público se diverte com as alfinetadas maldosas da desbocada Marta, sua intérprete sofre para interpretá-la.
"Tem sido difícil lidar com a Marta, já que eu fico mal com as atitudes dela. É uma personagem muito complexa, é invejosa, recalcada, amargurada, competitiva ao extremo... Ela cansa! Mas veio na hora exata. Estou beirando os 50 anos, tenho maturidade o suficiente para encarar essa vilã. Se o papel tivesse chegado aos 40, talvez não conseguisse me entregar tanto ao personagem", afirma Lília.
Para encenar uma briga de trânsito, a atriz nem precisou de muito esforço. Lembrou-se de algumas cenas reais testemunhadas por ela nas ruas do Rio de Janeiro.
"Tem workshop melhor do que o trânsito carioca? Eu me lembro de uma vez em que fui chamada de retardada por uma motorista. E pior: a mulher que xingou estava em um carrão caro, posando de senhora fina. Fiquei muito atordoada, mas consegui responder: Sou retardada? E você, que é feia de doer? (risos). Eu me lembrei muito desse momento quando estava gravando. A Marta não tem papas na língua. Ela quer ter dinheiro, mas boa educação não se compra por aí, não é?", ironiza a atriz.
Nem o marido é capaz de suportar os chiliques nervosos de Marta. Ela, aliás, faz dupla perfeita com Alex (Marcos Caruso). Ao perceber que a mulher havia atropelado alguém, ele dispara: "Bem que ela poderia ter matado esse rapaz. Assim, pegava dez anos de prisão e a gente ficava livre das maluquices dela", disse o marido.
É, os dois combinam tão bem quanto praia com sol. Aliás, quem vê a novela deve notar um interessante fenômeno clima-dramatúrgico na tela: é inverno, mas o sol nunca sai de cena na televisão. É uma típica novela de Manoel Carlos: o bairro do Leblon, na Zona Sul do Rio, é um dos personagens principais da novela - participando em todos os capítulos (e com um belo tempo de exposição).
Vilã repugnante - Além de atropelar pessoas e agourar a felicidade alheia, Marta será responsável por uma das atitudes mais repugnantes da história. Ao descobrir que um de seus netos tem Síndrome de Down, ela vai rejeitar a criança, que será adotada pela boazinha médica Helena.
"Não sei como as pessoas vão lidar com a crueldade dessa mulher. Será que vão me xingar muito pelas ruas? Tem um lado bom. Isso pode contribuir para o fim do preconceito contra quem é portador de Down", acredita.
Parceria com Manoel Carlos - Paulista de alma carioca, Lília vive no Rio de Janeiro desde 1984, quando foi contratada pela TV Globo. Ela estava em cartaz na cidade com a peça Feliz Ano Novo, estrelada também por Marcos Frota e Paulo Betti, quando os diretores Daniel Filho e Dênis Carvalho descobriram seu talento.
"Os diretores me viram na peça e me convidaram para a novela Corpo a Corpo. Foi sem teste", lembra. Hoje, aos 48 anos, ela soma mais de 20 trabalhos na telinha e acumula várias parcerias com Manoel Carlos, entre elas as novelas História de Amor (1995) e Laços de Família (2000). "Manoel Carlos é um cronista, entende de alma humana como poucos", elogia a atriz.
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