CULTURA
Vinicius de Moraes ganha um site com mais de 11 mil documentos originais de sua obra digitalizados
Por Eugênio Afonso

Conhecido pela alcunha afetuosa de Poetinha, Vinicius de Moraes é uma verdadeira lenda da poesia nacional. Ao lado de Drummond, Manuel Bandeira e Mario Quintana, o escritor se tornou um dos mais populares poetas entre nós e conseguiu que sua obra fosse incorporada ao cotidiano do povo brasileiro.
Autor de Soneto de Fidelidade, um dos poemas mais conhecidos da literatura nacional, cujos versos ‘que não seja imortal posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure’ embalam corações apaixonados desde meados do século passado, Vinicius é um dos autores mais reconhecidos no Brasil, sobretudo nas décadas de 1950 a 1980, ano em que faleceu.
Agora, em 2021, o carioca nascido em 1913, e que era também compositor, dramaturgo, jornalista e diplomata, acaba de ganhar o Acervo Digital Vinicius de Moraes – acervo.viniciusdemoraes.com.br, um site onde está digitalizada boa parte de sua obra. São seis mil registros que contemplam mais de 11 mil documentos originais, entre manuscritos e datiloscritos, totalizando mais de 34 mil imagens digitalizadas.
“O propósito do projeto é apresentar, de forma organizada, o acervo físico de Vinicius que está na Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro. Nós digitalizamos todos os documentos da casa e organizamos um sistema de busca digital com informações sobre a vida e a obra de Vinicius”, informa Marcus Moraes, responsável pela coordenação técnica e design, além de sobrinho-neto do poeta.
No acervo, poemas, textos em prosa, letras de música, peças, roteiros, discursos, notas e cartas que revelam trocas intelectuais ao longo de quase 50 anos podem ser consultados. Tem ainda o podcast Caderno de Leituras Vinicius de Moraes e o mini-doc Acervo Digital Vinicius de Moraes, ambos criados exclusivamente para o projeto.
De acordo com Julia Moraes, neta do Poetinha e idealizadora e coordenadora do site, Vinicius era um homem comprometido com a cultura brasileira não apenas por meio de seu acervo, mas, principalmente, através da própria conduta pessoal.
“Ele era um amante do Brasil. Como artista, criou uma grande obra que projetou o Brasil no exterior e, com isso, fez com que a gente se olhasse de outra forma. Ele pegou a cultura popular, juntou com a erudita e criou uma terceira coisa”, acredita Julia.
Vida e obra
Dividido em três seções: Correspondências, Produção Intelectual e Documentos Diversos, o acervo está disponível gratuitamente para download em PDF, permitindo também uma busca off-line.
Em Correspondências, há cartas, cartões e telegramas de renomados nomes da literatura, da música e do cinema do Brasil e do mundo, além de missivas com políticos, familiares, amigos e editoras.
Produção Intelectual é mais focada na obra do poeta. Tem poesia, textos em prosa, artigos, peças, letras de música, shows, roteiros de cinema, discursos, entrevistas e traduções. Já em Documentos Diversos encontram-se folhetos, cadernos de anotações, cartões de visita, convites e documentos sobre a história do cinema no Brasil.
“Essas séries têm subséries. Com isso tudo organizado, a gente permite que o público seja ativo nessa pesquisa. O site dá acesso a toda produção intelectual, tudo que ele produziu”, revela Julia.
Segundo Marcus, o projeto é, na verdade, uma oportunidade para o público dar um mergulho nos documentos de Vinicius. “Como se fosse abrir uma gaveta e tirar folhas e cadernos com anotações e rabiscos do poeta. Tem várias versões de um mesmo poema, a busca da rima perfeita para versos de um soneto ou uma canção. É um passeio delicioso pela produção intelectual de Vinicius”, recomenda o sobrinho-neto.
Humanidade
Com relação ao período em que Vinicius viveu em Salvador (década de 1970), casado com a atriz baiana Gessy Gesse, Julia conta que no site tem material dessa época e que o poeta acabou passando para toda a família sua paixão pela Bahia.
“Tem correspondência dele com a universidade da Bahia. Tem os poemas e as canções que ele escreveu quando morou aí, como Tarde em Itapuã. Ele produziu uma coisa muito especial na Bahia”, comenta Julia.
Para Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural, um dos patrocinadores do projeto, é fundamental que as pessoas possam ter acesso a realizações que nos constroem.
“Partindo desse pressuposto, nada mais natural do que apoiar o trabalho de Vinicius de Moraes. Ele nos deixou esse legado precioso que passa não somente pela poesia e a música, como também pelo teatro e por toda uma grande criação intelectual”, observa Saron.
E Julia completa, argumentando que “preservar a obra de Vinicius também é uma forma de agradecer a ele. Me emocionei muito pensando no homem Vinicius de Moraes, nesse legado que ele deixou não só para nós da família, mas para todo o público, para a humanidade que ele tanto amava”.
O Acervo Digital Vinicius de Moraes foi produzido por meio da Lei de Incentivo à Cultura, Ministério do Turismo, com patrocínio do Itaú Cultural e realização da VM Cultural.
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