DETALHE TÁTICO
Filho bastardo
Por Jornalista l [email protected]

Nasci para o futebol na década de 90. Eu achava maravilhoso - muitos contemporâneos continuam achando. Mas fui crescendo, lendo sobre o assunto e, anos depois, percebi: era uma porcaria.
O melhor esporte do mundo vivia uma época de auto-questionamento. Times que jogavam de maneira bela e ofensiva vinham de fracassos. O requinte, a técnica e a habilidade perdiam espaço para a velocidade e a força.
Depois de ter vivido esse tempo, notei que eram anos de transição para o que vemos atualmente - principalmente na Europa, onde atuam os melhores jogadores treinados pelos melhores técnicos.
Na metade final da primeira década deste século, o Barcelona mudou os parâmetros do futebol. Misturando a excelência de um jogo coletivo dinâmico à técnica e habilidade de alguns atletas, os catalães mostraram ao mundo que ainda era possível obter bons resultados dando ênfase à ofensividade e à proposição de jogo.
Possível, sim. Simples, não. O sucesso do Barça gerou filhos ao redor do mundo. Alguns legítimos - como o Bayern do mesmo Pep Guardiola que co-fundou o estilo culé de jogar -, outros bastardos.
Eles geralmente são comandados por técnicos que tentam seguir a tendência sem a estrutura do Barcelona, que imprimiu o mesmo esquema tático em todos os seus times de base para familiarizar os atletas desde os primeiros passos.
Um dos filhos bastardos é a Fiorentina do treinador português Paulo Sousa, que confunde agressividade com 'suicídio'. No tempo com a bola no pé, pode-se dizer que a Viola imita direitinho o Barça. Falta, porém, capacidade de decisão, incisividade dos atacantes e, principalmente, um sistema defensivo integrado ao que propõe a equipe.
Contra o modesto Lech Poznan, na Liga Europa, a Fiorentina teve 69% da posse da bola e levou 2 a 1 em casa. Neste domingo, teve 68% e a derrota foi exatamente igual no duelo de líderes com a Roma pelo Italiano.
O segundo gol dos giallorrossi (confira no infográfico) é simbólico. Aos 33 minutos da etapa inicial, a Viola perdia por 1 a 0 e se lançou completamente ao campo de ataque. Numa cobrança de escanteio, somava seis jogadores dentro da área ofensiva e mais quatro a rondando. Após ricochetear três vezes, a bola sobrou para Florenzi lançar Gervinho, o atleta mais veloz em campo.

Ele partiu desde o campo de defesa sem ninguém à frente e encaminhou o triunfo de seu time. Bizarro! Mas, cá entre nós, confesso que torço para equipes desse tipo continuarem existindo. São divertidas.
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