ENTREVISTA/ RICARDO ALBAN
“À frente da CNI, vamos olhar para o Brasil como um todo”
Presidente da Fieb confirma que assumirá a Confederação Nacional da Indústria e vai priorizar a inovação
Por Divo Araújo
O presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), Antônio Ricardo Alban, terá um novo destino a partir de outubro. Ele assumirá a presidência da Confederação Nacional da Indústria (CNI). “Já existe um consenso, com todas as federações, de que teremos uma chapa única para a CNI”, contou Ricardo Alban, nesta entrevista exclusiva ao Jornal A TARDE.
À frente da entidade, Alban diz que é preciso interagir com todos os setores e estados, mas reconhece a desconcentração industrial que persiste no país. “Você não mitiga a desigualdade, tratando todos iguais”, pontua. Na entrevista que segue, Alban fala ainda sobre juros altos, reforma tributária, reindustrialização do Brasil, desempenho da indústria baiana, dentre outros assuntos.
Temos pouco mais de dois meses do governo Lula e um dos assuntos que vem dominando os debates neste início de gestão é a taxa de juros, que tem recebido críticas do próprio presidente, do ministro Fernando Haddad, dentre outros integrantes do governo. A taxa de juros está exagerada no Brasil?
A verdade é que o Brasil criou uma cultura de juros reais acima de qualquer condição normal que dê uma perspectiva econômica de médio e longo prazo. O mundo convive hoje com a volta de um processo inflacionário que está, digamos, surpreendendo. Mas o Brasil já vem de uma cultura inflacionária e o que permite combatê-la é a política fiscal e de juros. Mas a política fiscal tem tido uma série de dificuldades e, por isso, se manteve uma cultura de juros reais muito altos. É óbvio que precisamos trazer os juros para patamares competitivos para poder dar uma mola propulsora a nossa economia. Só que a forma sempre é tão importante quanto o conteúdo. Nós temos aqui um conteúdo verdadeiro, válido, que é a busca por uma redução das taxas de juros reais para patamares razoáveis. Só que nós temos de encontrar a forma certa. Porque há um entendimento que nossos juros reais são necessários por conta da falta de um controle efetivo sobre o déficit fiscal. Por outro lado, nós sabemos que os Estados Unidos trabalham com déficit fiscal há muito tempo, sabemos que vários países trabalham com déficit fiscal há muito tempo. E sabemos também que vários países desenvolvidos trabalham com juros reais negativos. O Japão trabalha há décadas com juros reais negativo. Os Estados Unidos, nos últimos anos, estão trabalhando com juros reais negativos. A Europa está trabalhando desde o ano passado com juros reais negativos. Mas nós temos essa cultura. Essa é uma discussão que tem que ser feita em conjunto com os atores do desenvolvimento econômico.
O senhor considerada que essa discussão, da forma que está posta, com críticas públicas do presidente e pressão de integrantes do governo, é adequada?
O que dificulta essa discussão tão acalorada é a falta de uma âncora fiscal. Todo o controle da inflação começou com uma âncora fiscal. Isso também é um processo cultural. Então, nós precisamos enfrentar essa questão o quanto antes para dar certa confiabilidade. Mercado é confiança e confiança não se impõe, se adquire. Não estou dizendo que a âncora fiscal tem que ser o crescimento, ou o déficit público, ou o orçamento. Mas tem que ser algo que seja confiável e que crie parâmetros normais, conhecidos e fixos. O que eu acho é que devemos fazer uma discussão não entre governo e o setor financeiro, mas entre o governo e o setor produtivo. Como é que nós podemos ter realmente uma confiabilidade, uma expectativa de fazer o que tanto se fala. Tem uma palavra talvez um pouco vencida, mas que voltou a ser muito usada, e que a gente não pode perder de vista, que é a reindustrialização.
Iria mesmo tocar nesse assunto... O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Geraldo Alckmin (PSB), já pregou a urgência na reversão do que chamou de “desindustrialização precoce” que o país sofreu nos últimos anos. O que fazer para retomar o protagonismo da indústria brasileira?
Só quero antes falar de nosso ministro Geraldo Alckmin que foi uma grata surpresa. Porque nós precisávamos realmente ter uma personalidade própria na indústria brasileira. O ministério vai dar a identidade, a personalidade de um setor que é importante em qualquer país do mundo, que é a indústria. A indústria faz a diferença. É a indústria que mais investe em inovação, tecnologia, produtividade, que dá os melhores salários e que serve de base para os serviços, o comércio e o agronegócio poder fazer agregação de valor. Então, ter de volta o Ministério da Indústria do Comércio é algo indiscutível. Tanto é que mesmo o presidente anterior já falava que iria reconstituir o ministério. Felizmente, para nós, ainda veio o vice-presidente ser o ministro, o que poderá dar a necessária representatividade a pasta. Um homem com perfil de centro, do equilíbrio, da conciliação e que vai permitir que esse diálogo e essas interlocuções possam caminhar de formas razoáveis. Isso é importante registrar. Mas realmente houve um processo de desindustrialização precoce e não só no Brasil. Há uma redução relativa do PIB industrial em todos os países do mundo. O grande problema é que a redução no Brasil foi significativa. Nós realmente perdemos espaço. Tanto é que se nós olharmos os produtos manufaturados, a balança comercial de importação e exportação do Brasil, ela é terrível, ela conspira contra nós. Enquanto a do agronegócio, felizmente subiu. Mas isso demonstra claramente o quanto nós não estamos agregando valor. É incompreensível.
Quais são os primeiros passos que devem ser tomados para reverter essa lógica?
Enfrentar o custo Brasil. Mas não é simples. Nossa infraestrutura é cara. Nosso modal é basicamente rodoviário, muito caro. Temos também muitos entraves na parte de cabotagem interna. Custo de energia. Tem o custo social também. Realmente nós precisamos pensar numa desoneração da folha real, o que não significa tirar arrecadação fiscal. Nós precisamos ter uma distribuição da carga tributária mais equânime. Isso é um assunto muito delicado porque estou convencido que o problema da reforma tributária não são mais os entes federativos.
Pois é, Alckmin afirmou essa semana que a reforma tributária está "madura” e que a oposição “vai ajudar” a aprová-la no Congresso. Qual a expectativa do senhor em relação ao impacto desta reforma no setor industrial? O senhor acredita que ela pode ser votada ainda neste semestre?
A história mostra que o trunfo está no primeiro ano de governo. Não acredito que a maior dificuldade seja a discussão dos entes federativos. O grande problema que vejo hoje é a falta de entendimento e convergência entre os setores produtivos. De fato, o setor mais onerado hoje é a indústria. Não dá para ser simplista e dizer que o empresário industrial no Brasil é incompetente, ineficiente. Porque nós somos muito competentes para dar todos os insumos ao setor do agronegócio, máquinas, equipamentos, automação, tecnologia. O agronegócio hoje é tão pujante, graças a Deus, porque houve toda uma política voltada para o estímulo do setor. E aí que eu acho uma grande dificuldade que pode ter a reforma tributária, é que tem que haver uma convergência. Nessa convergência quem é mais sacrificado tem que ter as perdas minimizadas. E quem é mais beneficiado tem que dar alguma contribuição, para que a reforma seja justa.
Alguns projetos de reforma tributária já estão tramitando no Congresso. O senhor tem conhecimentos deles? Considera que atendem as necessidades da indústria?
Todos eles têm que ser baseados na PEC 45 e na PEC 110. Senão, vai começar do zero. Mas o importante é buscar mitigar essa disputa que vai haver dos setores produtivos. Não dá para dizer apenas que o setor do agronegócio precisa pagar um pouco mais de imposto para o setor da indústria pagar um pouco menos. O setor do serviço poderia entender que deveria pagar um pouco mais para indústria pagar menos. Porque, no final, quem paga imposto é o contribuinte. O setor produtivo é apenas um veículo arrecadador. Se não tiver a competência e eficiência nessa arrecadação e na gestão do seu negócio, ele vai quebrar. Mas quem paga imposto é o consumidor. O que nós queremos é poder aquisitivo. E que esse poder aquisitivo seja cada vez mais maximizado não por um simples aumento de renda, mas pela eficiência do setor produtivo, pela eficiência da economia. E isso só vai acontecer se o setor primário conversar bem com o setor secundário e conversar bem com o setor terciário e vice-versa. Não é simples, não é fácil, porque ninguém quer abrir mão do que já tem e todos querem conquistar mais. Se a gente não tiver capacidade de ter uma convergência até junho, julho, agosto provavelmente vamos ter mais dificuldade para encontrar essa convergência.
O IBGE aponta que a produção industrial na Bahia cresceu no passado, enquanto no Brasil de forma geral ela caiu. Em anos anteriores, influenciado sobretudo pelo fechamento da Ford, o desempenho estadual foi abaixo da média nacional. O que explica essa mudança de tendência?
Lamentavelmente, nós temos ainda muita concentração na indústria baiana. Já foi muito maior, mas hoje temos mais de 30% do valor de transformação industrial da Bahia nas mãos de uma única empresa que é a refinaria (Landulpho Alves, comprada pela Acelen). E que cresceu. Porque, com o processo de privatização, ela buscou mais eficiência, mais produtividade, mais resultado. A privatização da refinaria de fato aconteceu ano passado, quando a nova gestão assumiu. Até 2021, a Bahia cresceu menos do que a média nacional, por uma série de dificuldades.
Teve o fechamento de Ford em Camaçari também...
Sim, em 2020 perdemos a Ford. Então, o impacto de 2020 em relação a 2019, foi muito significativo. Já pesou muito menos de 2021 para 2020 porque já não tínhamos uma base em 2020. Teve também o setor de ferro, que teve algum contratempo. Em suma, fomos abaixo da média. E, quando chegamos em 2022 crescemos, já era esperado isso, não só pela Ford, mas também pela performance de nossas commodities industriais. Os termoplásticos tiveram um bom resultado e fazem uma diferença significativa aqui na Bahia. Isso permitiu que a gente tivesse um resultado na indústria de transformação. Mas estamos falando da indústria da transformação, não a extrativista e da construção civil. Não que a indústria da construção civil não seja importante, muito pelo contrário. Porque ela dá resposta imediata. Mas podemos nacionalizar a análise da construção civil porque é verdade para quase todos os estados. Então, no ano passado, tivemos a produção industrial negativa do Brasil de 0,4% , enquanto que na Bahia cresceu 3,4%. Mas, ao mesmo tempo, tivemos um crescimento no Rio de 5,1% por causa do petróleo. Tem também o Mato Grosso, porque entrou lá uma grande operação da indústria de celulose, e cresceu 19,4%. A base era baixa e subiu. Ao mesmo tempo, São Paulo só teve 0,2% positivo e os estados do Sul, que sempre são bastantes diversificados no processo industrial, Santa Catarina teve menos 4,3%, Paraná também menos 4,3% e o Rio Grande do Sul 1,1% positivo. E a Bahia cresceu 3,4%, basicamente motivada pelos setores de que já falei. Refino e petróleo, por exemplo, cresceu 21%.
Falando um pouco da Ford, eu li recentemente que o presidente Lula vai levar para China os detalhes finais para a retomada da antiga fábrica em Camaçari pela montadora chinesa BYD, a maior fabricante de carros elétricos do mundo. Qual seria o impacto da vinda dessa montadora chinesa para a Bahia?
Sendo verdade, de imediato vamos ter um impacto muito favorável. Essas conversas com a BYD já vem há mais de um ano. Quem conhece negociações com chineses sabe que tudo é um pouco mais longo. E nesse caso não seria diferente. Temos que lembrar também que a lógica do setor automobilístico mudou, não é mais de grande parques industriais como foi o conceito aqui na Ford. Naquele momento era um conceito inovador, onde os sistemistas estavam dentro do próprio site da montadora. E com isso ganhando tempo, ganhando custo de estocagem, capital de giro. Mas que terminou sendo um equívoco. Tanto é que nós temos a Fiat aqui em Pernambuco e o conceito foi diferente. E ela hoje vai muito bem sem as dificuldades que afetaram a Ford.
O que aconteceu?
Quando a Ford veio para a Bahia e a Fiat veio para Pernambuco foram para fugir de encargos salariais muito altos que tínhamos no sul do país. Mas no momento em que os sistemistas foram para dentro da fábrica começaram a ser incorporados, pelo bom momento do setor automobilístico, todos os benefícios de um montadora para eles. Chegou ao ponto que uma peça produzida aqui na Bahia saía muito mais caro do que se trouxesse a mesma peça de São Paulo. Criou esse tipo de discrepância. Você encontrar uma nova montadora, com a nova visão do setor do automobilístico para vir para esse sítio da Ford não é um trabalho fácil. Nós nos envolvemos aqui na Federação das Indústrias em algumas tratativas, mas é muito difícil fazer isso. Qual é a solução? São parques menores. Hoje, a estimativa é que a manufatura em si de um automóvel ela venha representar 30%, no máximo, do preço de um automóvel, 70% é tecnologia embarcada e bateria. E eu acho que o Brasil não pode fugir de uma realidade de carro elétrico, mas o mundo não está preparado para ter uma infraestrutura de carro elétrico nas suas cidades. Nós precisamos ter algo na pegada de descarbonização, na pegada de sustentabilidade. Nós somos aqui um dos pioneiros no mundo no carro movido a álcool.
O senhor avalia que esse combustível de hidrogênio, a partir do etanol, é o caminho para o Brasil?
No Brasil, se nós pudermos desenvolver células de hidrogênio a base de etanol, nós estaremos no caminho correto. Na descarga do automóvel não vai sair dióxido de carbono, vai sair água. Mas é uma tecnologia que precisa evoluir muito. A Volkswagen está investindo nessa tecnologia, junto com algumas montadoras asiáticas. E o carro elétrico é uma realidade, não vai deixar de ter. Mas um carro com uma célula de hidrogênio movida a etanol, um sistema que vai pegar hidrogênio e o combustível seria o etanol, que é sustentável, é verde e tudo mais. E mais do que isso, nós mantemos a mesma estrutura lógica, econômica de países como o Brasil e tantos outros que se assemelham, porque você continua com o centro de abastecimento de automóvel de postos de gasolina. Mas ainda precisa evoluir muito. Hoje, um protótipo de motor de uma célula de hidrogênio movida etanol ainda é maior que um carro. É um processo tecnológico evolutivo. Mas nós aqui mesmo no Senai/Cimatec estamos participando desse processo.
Quais são as perspectivas para indústria baiana este ano?
Hoje, temos um processo evolutivo da própria refinaria. Nós temos alguns investimentos que estão entrando na área de mineração que deve ter um peso. Eu acredito que a Bahia, no curto e médio prazo, deverá ser o segundo polo de mineração do Brasil. Nós temos condições porque não temos tantos problemas do passado na área de mineração, como Minas Gerais, que foi a grande mola propulsora do setor no Brasil. Depois veio o Pará, que hoje é o maior. E continuará sendo por algum tempo pelas grandes reservas já estruturadas que tem lá. Nós, na Bahia, precisamos ainda dar uma boa equação para o sistema de distribuição, que são as ferrovias. E eventualmente juntar isso com outros sistemas modais. Só que as commodities, em todo mundo, estão caindo de preço. As commodities petroquímicas estão caindo de preço, de termoplástico estão caindo. As commodities de mineração um pouco mais lenta. Mas nós podemos ver impactos mais sensíveis nas commodities agrícolas, na proteína vegetal e animal porque o mundo está caminhando para segurar a economia por causa da inflação inercial que existe. Enfim, esse impacto que está acontecendo nas commodities vai afetar muita a Bahia, por causa de nosso polo petroquímico. Aqui, Rio Grande do Sul, São Paulo. Porque nosso custo não caiu e os custos das commodities lá fora caíram vertiginosamente.
O que explica isso?
Por causa da reacomodação das cadeias de valores, do sistema de abastecimento. Mas, para você entender, há uma outra dicotomia do Brasil. Nós somos um grande exportador de petróleo. Mas como é que nós podemos ser um grande exportador de óleo cru e sermos importadores de óleo diesel? É algo que não faz nenhum sentido. Nós não ampliamos, nem desenvolvemos nossa capacidade de refino. E o gás natural. Gás natural, ao longo da pandemia, teve um aumento vertiginoso acrescido ainda por causa da guerra na Ucrânia. Mas o preço do gás começou a cair rápido. A unidade foi para 15, 16 dólares. Ao mesmo tempo, nós temos aqui no Brasil um sistema de distribuição do gás, que custa em média três dólares por molécula movimentada. Nos Estados Unidos isso custa 30 cents de dólares. Gás é um insumo, quer seja com matéria prima, quer seja como consumo energético, fundamental. As cadeias hoje do setor petroquímico e termoplástico estão muito mais baseadas no gás do que na nafta. E essa diferença é crucial para perda de competitividade. Hoje, no mercado internacional, o gás caiu nos Estados Unidos, para coisa de 3 dólares. Nós estamos aqui em torno de 14, 15 dólares. E custo para transportar essa molécula aqui está na faixa dos 3 dólares enquanto lá está em 30 cents. Não tem como competir.
Mas, em relação as energias limpas, a Bahia tem muito potencial...
A Bahia é incomparável de todos os aspectos, sobretudo para hidrogênio verde porque inclusive temos água doce, temos ventos onshore, sol. E temos grandes ventos a noite e a insolação de dia. A combinação da Bahia é muito boa. Não significa que não temos boas oportunidades no Ceará, no Rio Grande do Norte, no Maranhão e aí é offshore, mais com outras estruturas de custo. O mais agravante em termos estratégicos. Nós somos os campeões do agronegócio. Como é que um campeão pode ficar 80% dependente do principal insumo do mercado internacional, que são os fertilizantes? Mais uma vez, isso é falta de planejamento, falta de lógica. Os Estados Unidos desenvolveram toda uma política de de estímulo as suas médias siderúrgicas para diminuir a dependência do aços e dos produtos siderúrgicos da China.
Em outubro de 2023 termina o mandato do atual presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, e existe uma grande expectativa em relação ao nome do senhor para assumir a liderança da entidade. Como espera contribuir para CNI, uma instituição empresarial das mais fortes no Brasil, caso tenha seu nome confirmado?
Nesse processo da CNI já existe um consenso, como todas as federações, de que teremos uma chapa única. Essa chapa será inscrita agora no dia 23 de março, já está sendo regularizada, com o processo eleitoral sendo no dia 3 de maio. E a posse da nova gestão será 31 de outubro. Terei a oportunidade pela escolha de todos de uma forma de consensual, de todas as 27 federações para que eu seja o presidente da CNI a partir de 31 de outubro deste ano. O que nós esperamos é dar mais aceleração ao trabalho que já vem sendo desenvolvido pela CNI. Hoje, a gente pode dizer sem nenhum risco de ser pretensioso de que ela é a instituição mais bem preparada, mais proativa na conjuntura nacional, tirando a frente parlamentar do agronegócio. Mais proativa junto ao Congresso Nacional, ao Poder Executivo, para buscar a legítima defesa do interesse da indústria brasileira. Se nós estamos falando agora da reindustrialização, que eu prefiro falar, reindustrializar para uma nova indústria do Brasil. Com esse foco,nós podemos ser competitivos. E onde não temos vantagens competitivas, será estratégico, necessário investir. E aí precisamos ter outro tipo de olhar. Como vamos dar mais ênfase, que é o mais importante, a inovação e tecnologia, isso é fundamental. Outro fator é a formação profissional.
A educação técnica profissional no Brasil tem sido deixada de lado?
Muitas das profissões que existem hoje, naturalmente não vão existir no futuro. E muitas hoje que nós nem imaginamos que iriam ser necessárias, vamos ver surgir. Quem imaginaria que precisaríamos de tanto TI no mundo há 30 anos. A velocidade da evolução ela é exponencial. O que nós imaginávamos há 30 anos e que mudou tanto hoje, não vai ser mais um ciclo de 30, vai ser um ciclo de 15. Nessa dinâmica o Brasil está atrasado, nós temos um hiato. Nós não podemos só mais pensar em educação superior, nós precisamos ter uma educação técnica, profissional. Hoje, muitos das profissões que são conhecidas têm profissionais sem espaço, sem oportunidade e que terminam ficando marginalizados. Alemanha é o que é hoje porque ela deu a mesma conotação ao ensino de nível superior e ao nível técnico. Nós precisamos encontrar equações razoáveis.Onde é que eu vou precisar de um carpinteiro? De um soldador, um ceramista? Onde é que eu vou precisar de uma pessoa de TI?
Para concluir, queria que o senhor falasse um pouco da importância e do simbolismo de um baiano, um nordestino, à frente da CNI.
O segundo presidente da CNI, algumas décadas atrás, foi um baiano. Na história mais recente da CNI, nós tivemos alguns presidentes do Nordeste. Então, o Nordeste nunca foi desprestigiado na verdade. Mas temos a oportunidade, nessa história mais moderna, de ter o primeiro presidente da Bahia. E é óbvio que a gente não vive sem o lado emocional. À frente da CNI estarei olhando para o Brasil como um todo. Como acabei de falar, precisamos interagir. Agora, tenho plena consciência que você não mitiga a desigualdade, tratando todos iguais. Para você mitigar a desigualdade, você tem que tratar os desiguais de forma desigual. De fato, nós temos carências históricas com o Norte, o Nordeste e uma parte do Centro-Oeste. Acredito que a Bahia tem grandes oportunidades, não só por que estarei assumindo em outubro. Mas porque a Bahia foi importante para a nova equação política que está aí. A Bahia tem o ministério da Casa Civil, tem hoje uma liderança no Senado. Que essa combinação de fatores possa representar uma melhor forma de mitigar as necessidades da Bahia e do Norte e Nordeste. Mas não podemos esquecer que temos uma grande máquina locomotiva que é o Sul e Sudeste em termos industriais e isso precisa ser continuamente apoiado para que sirva de âncora para que possamos reduzir essas diferenças. Nós somos um só. Sem falar de política partidária, eu fico sempre muito preocupado quando nós falamos no Brasil de nós e eles. Eu não conheço na história da humanidade nenhum povo que se transformou numa nação falando de nós e eles. Quem se transformou em nação só fez isso depois que começou a falar somente em nós. Nós conhecemos a história da China, com várias tribos, quando houve um governo central, quando se passou a falar em nós, a China se transformou numa nação. Os países da Europa da mesma forma. Os próprios Estados Unidos, numa história mais recente, quando deixaram o norte e o sul, passaram a ser uma nação verdadeira. Nós também precisamos virar uma nação.E para isso precisamos deixar de exercer o nós e eles.
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