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Custo da produção cresce 50% e afeta setor vestuário

Inflação e alta dos insumos faz disparar preços de tecidos e fios feitos da fibra; indústrias de confecções preveem crescimento de apenas 1,2%

Publicado segunda-feira, 11 de julho de 2022 às 05:15 h | Autor: Miriam Hermes
Produção baiana é estimada em 584,3 mil toneladas da pluma no atual ciclo
Produção baiana é estimada em 584,3 mil toneladas da pluma no atual ciclo -

O aumento no custo da produção baiana de algodão, estimado entre 45% e 50% para a safra 2022/23 por causa da alta dos insumos em escala mundial, empurra para cima também os preços de fios, tecidos e confecções feitos da fibra natural. 

O contexto reduziu a expectativa de crescimento do setor industrial do ramo para 1,2% em 2022, enquanto que em 2021 fechou em cerca de 20%.

No oeste da Bahia,  cotonicultores estão empenhados diuturnamente desde o mês de maio na colheita da safra 2021/22, em uma área  aproximada de 300 mil hectares (ha), 15% superior à safra passada. A projeção inicial da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa) para a safra em curso foi de 584.311 toneladas da pluma e 741.077 toneladas de caroço, com produtividade respectiva de 1,9 mil quilos por hectares (kg/ha), e 2,4 mil kg/ha. 

Entretanto, em consequência da falta de chuva na lavoura entre março e abril, fase importante para garantir a produtividade da cultura, a estimativa é de uma redução média de 12% sobre o total projetado na região, de acordo com o presidente da Abapa, Luiz Carlos Bergamaschi.

Ele explica que a produção da fibra natural é sujeita ao clima, destacando que “os produtores conduziram muito bem e a redução será menor em função de toda tecnologia aplicada em campo”. Para ele, ainda não é possível avaliar se além do volume menor, o clima também terá efeito sobre a qualidade.

Neste quesito, a pluma do Cerrado baiano é considerada de excelência por uma série de fatores presentes na fibra, como tamanho do fio, resistência, cor e brilho, resultado dos tratos culturais e das condições edafoclimáticas da região. 

Com foco no interesse dos consumidores cada vez maior por produtos com rastreabilidade, a certificação de origem na região chegou em 91% de adesões ao programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR), e de 88,6% para certificação internacional chancelada pela Better Cotton Iniciativa (BCI). Sem fins lucrativos, a organização atua em 25 países produtores da fibra.

“A cada ano cresce este percentual”, comemorou Bergamaschi, pontuando que o Brasil é o principal fornecedor de algodão certificado pela BCI no mundo, “de áreas que atendem todas questões sociais e ambientais”, falou. 

Esse reconhecimento valoriza o produto na comercialização para o mercado interno, que é 100% abastecido pelo algodão brasileiro, bem como do excedente, que é vendido principalmente para indústrias asiáticas. Como é regra para o produtor já planejar a próxima safra antes mesmo de colher a produção em campo, ele diz que para a safra 2022/23, “a Bahia pode ter uma pequena redução de área, por causa dos custos de produção e da rotação com soja e milho, que são culturas mais competitivas”, aponta.

Fora da porteira 

Conforto e qualidade são duas das características dos tecidos e confecções produzidos com fios do algodão. Em diferentes processos de industrialização, são transformados em variados tipos de panos e produtos para os mais diversos usos que vão muito além do vestuário. 

Conforme dados apurados pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), em 2021 o Brasil processou cerca de 1,6 milhões toneladas de fibras e filamentos. Destes, cerca de 720 mil toneladas, representando 44%, foram de algodão, principal matéria prima natural para o setor.

A indústria têxtil nacional já chegou a consumir mais de 1 milhão de toneladas da fibra nos anos finais da década de 2000. Porém, “aumentos radicais e o crescimento de outras opções, reduziram o percentual do algodão na indústria de tecidos e confecções”, segundo o presidente da Abit, Fernando Pimentel.

Apesar da afinidade e tradição do brasileiro com uso do tecido de algodão, que é ideal para o clima tropical, “o preço da fibra natural e o impacto da inflação no setor de vestuário, de 16% nos últimos 12 meses , trouxe reflexos no consumo”, disse Pimentel, salientando que a solução foi a busca por matérias primas alternativas, “para que o produto não chegasse tão caro na ponta final”.

Ele ressalta, no entanto, que os custos mais altos das indústrias têm influência também dos fretes, energia, salários, corantes e outros itens. “Tudo subiu. A inflação é um fenômeno mundial que preocupa a humanidade”, afirmou, destacando que, no seu entendimento, o pior já passou. 

A referência otimista é sobre a redução dos preços da commodity, que ultrapassou os R$ 800 a arroba @  em maio, e vem registrando declínio desde o início de junho. No final da semana passada, a arroba estava cotada em R$ 603,79, conforme dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/USP).

Pimentel afirmou ainda que, embora exista a opção por produtos mais baratos, que atendem a base da pirâmide do consumo no país, cresce no mundo a busca por artigos com conceito de sustentabilidade.  

“O algodão é matéria prima renovável, e o Brasil faz parte deste processo com uma produção certificada em mais de 85% das fibras”, presidente da Abit.

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