CONTAS
Dinheiro é assunto já para o início do namoro
Estabelecer um diálogo sobre as finanças é essencial para o casal
Por Dianderson Pereira*
Conversar abertamente sobre dinheiro ainda é um assunto que muitos evitam, seja numa roda de amigos ou com familiares. No entanto, em um relacionamento, quebrar esse silêncio e manter o diálogo sobre a organização das finanças desde o início do namoro é fundamental para construir uma base sólida para o futuro. Além das questões emocionais, o casal deve discutir investimentos, controle de gastos, contratos de namoro e planejamento financeiro.
Para a psicóloga Marcela Cavalcante, especialista em Terapia Cognitiva-Comportamental (TCC) e professora na Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP), muitos casais sequer comentam sobre as suas metas financeiras em casa ou têm dificuldade em abordar isso de uma forma assertiva.
“Se não falarmos abertamente com nosso parceiro sobre a gestão do dinheiro, poderemos inferir arbitrariamente sobre como o outro pensa, ficaremos apenas com as nossas impressões, e poderemos correr sério risco de termos uma impressão distorcida da situação. É importante lembrar que a falta de diálogo é uma das principais causas no desgaste dos relacionamentos”, destaca a profissional.
A psicóloga também fala que algo comum que costuma acontecer entre casais é que, por julgarem que a gestão financeira não é uma prioridade, acreditam que este assunto deverá ser abordado somente após o casamento, e isso poderá causar problemas no futuro.
Rodrigo Tavares e sua parceira Beatriz Andrade compartilharam sua experiência de sucesso em lidar com o dinheiro sem conflitos ao longo de cinco anos e meio de relacionamento. Para o casal, o segredo é a comunicação aberta e a compreensão mútua das condições financeiras de cada um. "A gente tem, às vezes, alguns desalinhamentos, porque são condições diferentes, mas que nunca chegam de fato a se tornar uma briga ou uma discussão, porque a gente conversa muito e tem noção das condições financeiras um do outro", revelou Rodrigo.
No dia a dia, as despesas são geralmente divididas igualmente, mas em ocasiões especiais, a dinâmica muda. "Normalmente, sou eu que faço convites especiais, e quando tem convites e momentos especiais, eu arco com os custos", contou Rodrigo, destacando seu desejo de proporcionar experiências diferentes sem sobrecarregar sua parceira financeiramente.
Organização financeira
Estabelecer uma organização financeira eficiente é essencial para qualquer casal que deseja construir uma vida conjunta estável e próspera. Segundo o planejador financeiro Alan Dourado, um dos primeiros passos para organizar finanças em conjunto é que ambos estejam organizados individualmente. Para isso, cada um precisa conhecer seus gastos e ter um fluxo de caixa evidente. Além disso, o planejador explica que os casais podem criar um orçamento conjunto que funcione para ambos.
“Cada pessoa tem uma relação diferente com o dinheiro. Alguns têm facilidade, outros não. O ideal é que cada um tenha sua organização financeira individual, usando a metodologia que funciona melhor para si, seja através de Excel, papel e caneta, ou focando nos gastos do cartão de crédito, mas que alinhem as finanças entre os planos e gastos para o casal", comenta Alan Dourado.
Para o casal de namorados Darlan Santos e Rudá Haron, estudantes de Engenharia Ambiental e Artes Cênicas respectivamente, mesmo estando em uma relação de 6 meses, já planejam criar uma conta em conjunto. “Como não moramos 100% juntos ainda, as coisas que são gastos domésticos ele sempre paga na casa dele, e se for fazer algo diferente aqui em casa, eu sempre pago. Estamos pensando também em fazer uma poupança conjunta para planos futuros, como viagens e a nossa casa”, ressalta Darlan.
Rudá reforça que evitam gastos elevados pensando no futuro do casal e como conseguirem alcançar os objetivos financeiros. “Conseguimos escolher opções baratas nas coisas que a gente consumia, sempre ficamos atentos aos preços de um mercado para o outro e ver qual o melhor custo benefício”.
Existem várias estratégias de investimento no mercado e o planejador financeiro Alan Dourado reforça que é importante antes de tudo entender quais são os objetivos do casal, seja aposentadoria, compra de carro ou casa. "Comece com uma reserva de emergência e, depois, invista em opções mais robustas para garantir rendimentos e um futuro seguro".
Além dos aspectos práticos da organização financeira, é importante considerar a proteção dos bens materiais no relacionamento. De acordo com Jéssica Dias, advogada de Família e Sucessões, os casais procuram um contrato de namoro como um documento que deixa claro que a relação é apenas um namoro, afastando a união estável e seus direitos, como pensão alimentícia e direitos sucessórios.
"Os principais objetivos são evitar que, em caso de término do relacionamento, uma das partes possa reivindicar direitos sobre o patrimônio do outro. Por meio do contrato de namoro, é possível definir regras de como serão divididos os bens adquiridos antes e durante o relacionamento", explica Jéssica.
Modelos de união
Para diferenciar a união estável e o contrato de namoro, a advogada explica que é a intenção de constituir uma família e um asseguramento dos bens do casal em um namoro. "A união estável visa constituir uma família, enquanto o contrato de namoro visa assegurar os bens materiais das partes. Outra diferença é que o contrato de namoro não gera direito de herança, pensão e partilha de bens”.
Quando um casal termina um namoro com contrato de namoro, as implicações legais envolvem a validade das cláusulas estabelecidas. "O término do relacionamento geralmente implica a rescisão automática do contrato de namoro, já que foi estabelecido com base na existência da relação amorosa", conclui Jéssica.
Rodrigo Tavares e Beatriz Andrade comentam que mesmo em um relacionamento duradouro e na fase em que estão, não se sentem na necessidade de estabelecer um contrato na relação, mas não descartam a possibilidade em um futuro.
“Caso o casal venha morar junto, venha decidir por algo mais sério nesse sentido, aí sim vale a pena, porque aí já entram outras questões de dividir uma rotina mesmo, de dividir custos, enfim, despesas de casa e tudo mais. Então, a partir desse momento, sim, acho que vale a pena fazer esse contrato de finanças”, fala Tavares.
*Sob supervisão da editora Cassandra Barteló
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