ECONOMIA
Mais de 70% dos brasileiros planejam elevar gastos no segundo semestre
Comerciantes baianos começam a se preparar para o período de aumento das vendas
Por Mariana Bamberg

Período de recebimento do décimo terceiro, de férias escolares e festas de final de ano, último trimestre do ano costuma aquecer o movimento e o faturamento dos negócios. Para este ano, a expectativa não é diferente. Um levantamento realizado pela fintech Trigg apontou que 71% dos brasileiros pretendem gastar mais neste segundo semestre, em especial no Dia das Crianças, Black Friday e no Natal. De olho nas oportunidades que o período pode trazer, varejo, serviço e até indústria já começaram a se preparar para ampliar equipe, renovar mix de produtos e desenvolver ações e dinâmicas específicas para as datas.
O último trimestre chega na esteira de crescimentos nacionais para o varejo (1,3%) e para o setor de serviços (4,7%) no primeiro semestre, quando comparado ao mesmo período do ano anterior. A indústria, no entanto, terá um desafio maior, já que enfrentou uma retração de 0,3% nos seis primeiros meses do ano. O gerente territorial do Sebrae na Bahia, Fabrício Barreto, defende que independentemente do setor já é hora para começar a se planejar.
“Esse último trimestre é um período em que há uma demanda orgânica. Tem a primeira parcela do décimo terceiro já em novembro, depois a última parcela em dezembro. Tem datas que já favorecem a busca espontânea, como Dia das Crianças, Black Friday, Natal. Tem o verão, que faz as pessoas saírem de casa, traz turistas. É um período que já começa aquecendo os negócios e, com certeza, pode trazer oportunidades”, afirma o especialista.
Na Miss Store Modas (@misstoremodas), de roupas femininas, as festas de final de ano e a Black Friday estão sempre entre as datas com melhor faturamento. Por lá, a expectativa é aumentar as vendas em 30% comparado a outros meses. Para isso, os preparativos já começaram desde agosto. A proprietária Gabriela Sousa conta que, para dar conta da demanda, está planejando contratar mais um profissional e que já está buscando as tendências de tecidos, cores e modelos para desenvolver as coleções de Natal e Réveillon. No segmento dela, no entanto, há uma especificidade que pode até exigir mais jogo de cintura, mas não impede o planejamento de estratégias de vendas.
“Nós, lojistas de moda, ficamos muito dependentes dos fornecedores. Eles só começam a produzir as coleções de final de ano, com peças mais específicas, no final de outubro. Então trabalhamos com uma pré-coleção, com peças mais coringas, para esquentar e aproveitar o período até a chegada de dezembro. Tem que ser assim, porque o cliente quer sempre novidade, se ele voltar e tiver as mesmas peças na loja, ele não compra”, afirma Gabriela.
A dica do especialista do Sebrae é justamente usar os meses de outubro e novembro para fazer como na Miss Store: se destacar, conquistar o cliente, rever o estoque e ir aquecendo o movimento até as festas de final de ano. A Black Friday é uma das melhores oportunidades para isso. A programação para este dia já está sendo planejada na loja de Gabriela. As ações começarão com três dias de antecedência, com decoração temática na loja, campanha de comunicação nas redes sociais e promoções principalmente em peças que já estão paradas no estoque há algum tempo.
Escoar estoque
“Como dezembro é um momento que já tem demanda espontânea, as promoções podem ser deixadas para o período que antecede. Na Black Friday é importante aproveitar para escoar o estoque, porque estoque parado é dinheiro parado. Mas a data tem que ser vista também como uma oportunidade para atender bem e fazer o cliente voltar. Por isso vale a pena ornamentar a loja e treinar a equipe”, orienta Barreto.
É o que vai acontecer também no Salão Fios de Luz (@salaofiosdeluz), em Lauro de Freitas. O movimento no espaço já começou a aquecer desde a última semana de setembro e a proprietária Patrícia Quariguazy espera que até dezembro só aumente. O faturamento nesta época do ano costuma disparar cerca de 20%. E esse potencial precisa ser bem aproveitado, porque no mês seguinte, em janeiro, a demanda despenca.
“Janeiro é um mês que o movimento cai em torno de 60%. Abrir o salão, nesse período, significa gastos, porque existem custos para manter ele aberto mesmo quando não há movimento. Por isso, colocamos na ponta do lápis e decidimos fechar nos dez primeiros dias de janeiro. E tem dado certo”, conta Patrícia.
E o descanso vem em bom momento, porque em dezembro o trabalho é redobrado no salão. Para atender a demanda, é uma hora a mais de expediente diariamente e um dia extra durante a semana: o funcionamento do Fios de Luz, que costuma ser de terça-feira a sábado, das 9h às 18h, passa para às 19h e abre também nas segundas. Mas é preciso também preparar o estoque do salão. Patrícia conta que já tem comprado produtos como os esmaltes de cores que costumam ter maior saída no Natal e no Réveillon. “Quando vai chegando mais perto, fica mais difícil de encontrar e o preço desses itens sobe, por isso também que não conseguimos dar desconto nesse período”, conta.
Todo esse planejamento do Fios de Luz é pensado no começo do ano e vai tomando forma no decorrer dos meses. “Como trabalhamos com agendamento, dá para ir sentindo a demanda. Eu consigo saber, por exemplo, se vou precisar de mais um profissional. E, caso precise, já tenho alguém de stand by”, explica.

Para os negócios que têm mais dificuldade de prever o movimento, a orientação do especialista do Sebrae é levar em conta tanto o desempenho dos últimos meses quanto dos último trimestre dos anos anteriores. É o que acontece na Find Camisas Leves (@eusoufind), uma confecção com loja própria de roupas para atividade física. Renan Oliveira, um dos sócios, explica que esse segmento exige antecipação, não dá para esperar a demanda. Então o planejamento começa em agosto e a produção já em outubro.
Na Find, o período de final de ano é levado tão a sério que chega a modificar temporariamente o foco da produção. Se durante o restante do ano, a prioridade é camisa personalizada para clubes esportivos, no último trimestre são os itens de proteção UV que ganham destaque na confecção e chegam a dobrar o volume de fabricação.
“A procura aumenta muito, então produzimos uma quantidade maior, com mais opções e acabamos migrando para o varejo. É um produto específico para esse época, que tem uma demanda muito grande nesse período porque é quando chega o verão e as pessoas começam a se exercitar mais”, conta Renan.
Para conseguir aproveitar todo o potencial desse período, será necessária a antecipação da compra de matéria prima, que, pela grande quantidade, vai permitir melhores negociações. Mas Renan já planeja também a contratação temporária de mais duas ou três costureiras para agregar à equipe. Para o especialista do Sebrae, esse é um momento fundamental no planejamento para as festas de final de ano, porque, segundo ele, precisa haver tempo hábil para seleção, capacitação e adaptação à cultura e dinâmica da empresa, para que não seja afetada nem a produção, no caso da Find, e nem o atendimento.
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