MERCADO
Na crise, manter as finanças em ordem é mais importante
Gestão financeira mal planejada se tornagrande problema para o funcionamento de qualquer negócio
Por Leonardo Lima*
Por ser um dos principais pilares de toda empresa, uma gestão financeira mal planejada se torna um grande problema para o funcionamento de qualquer negócio. Apesar do otimismo inicial este ano com relação à pandemia da Covid-19, o surgimento de novas variantes e as dificuldades econômicas brasileiras podem ser desafios para muitas empresas ao longo de 2022.
Mas, para que essa gestão seja eficiente mesmo em cenários difíceis, são necessárias ações que visem fazer o controle e a análise da empresa. Luciana Buck, professora de Administração da Unifacs, sinaliza: “É algo essencial para o sucesso de qualquer negócio. O planejamento financeiro acompanha a estratégia e isso se relaciona com todas as outras áreas”.
Para conseguir um direcionamento certeiro durante a gestão das finanças, Luciana indica um ponto de atenção importante, em especial para aquelas empresas que estão no início: “Comece sabendo o quanto precisa para fazer o negócio rodar e para que se sustente enquanto ele não se paga sozinho. E dentro disso é fazer a conta de quanto precisa que o sócio colabore”.
A professora explica que muitas empresas fecham por não darem lucro e por outras questões financeiras. O empreendedor deve então se dedicar a aprender sobre o tema, porque “habilidade técnica é importante, mas os números têm que ser seus aliados, senão você se frustra”, indica Luciana. “E com o negócio já funcionando, o momento é de saber qual o melhor investimento para atingir o objetivo estratégico”.
A Clínica Spazio Concept é uma empresa de saúde voltada para a odontologia e está no mercado há cinco anos. “Sempre quebramos muito a cabeça porque não fomos tecnicamente treinados a fazer essa gestão, aprendemos com os erros muitas vezes”, conta Dylton Neto, um dos sócios da clínica. “Os investimentos na área de saúde são constantes, novos equipamentos, melhorias, ampliação, contratação, isso é muito pensado no nosso planejamento”.
Dylton avalia que a saúde financeira é o coração da empresa e, por isso, buscou fazer diversos cursos na área de gestão e administração. “Essa preocupação não pode ser apenas em dezembro e janeiro. Fazemos um planejamento anual, tem meses com mais ou menos faturamento, meses com gastos maiores, então é algo amplo, mas bem detalhado para não se perder em nenhum mês”, diz.
O sócio da clínica afirma que ter o fluxo de caixa da empresa bem definido é importante para o negócio. “Às vezes quando é pessoa física, sempre que entra dinheiro na conta ela acha que é lucro, quando na verdade tem custos grandes e tem que ter cuidado para não quebrar e acabar se dando mal”, destaca Dylton. Graças a essa visão e maturação do negócio, ele conta que sua empresa tem tido uma média de crescimento anual de 20%.
Luciana Buck concorda e ainda orienta: “É imprescindível separar o que é recurso da empresa e recurso dos sócios, não pode misturar ou termina inviabilizando o negócio. Se a empresa tem saldo em caixa não quer dizer que o sócio está rico”. Uma outra dica é a de internalizar na cultura da empresa o uso de alguma ferramenta de gestão empresarial para facilitar os processos. “São muitas informações geradas e, sem controle, você não sabe se está chegando onde quer”.
Antes, um dos métodos mais comuns na hora de definir o planejamento era o de fazer variações de cenário. Um mais otimista, outro realista e um último pessimista. A professora da Unifacs diz que hoje em dia esse modelo não se sustenta tanto. “A estratégica precisa estar flexível para se adaptar às mudanças que impactam rapidamente o negócio. Hoje o plano tem que ser no ano a ano porque são mudanças fortes no modo de consumo e no ambiente cultural”.
Despesas e custos
Rogério Teixeira é gerente regional do Sebrae em Salvador e ressalta que é preciso ser realista no processo, ainda mais em um período de pandemia. “É importante que o empreendedor considere todos os elementos de despesas e custos, fixos ou variáveis. O equívoco é colocar no planejamento o que é meramente um desejo, sem embasamento. Acaba gerando frustração”.
“O planejamento projeta se a empresa tem necessidade de um suporte, de comprar matérias-primas ou insumos sem haver furo de caixa. É entender as dívidas, considerar o que já aconteceu no passado e quais as previsões econômicas, até mesmo para negociar melhor com o fornecedor e clientes para uma ampliação de prazo de pagamento”, explica Rogério.
O direcionamento que o gerente do Sebrae dá é o de acompanhar constantemente as empresas do seu segmento em outros lugares: “Saiba qual o impacto que essa nova variante tem causado no setor, isso para ter cautela e capacidade de se antecipar. Planejamento financeiro não é estático, precisa ser modificado todas as vezes que houver necessidade". Em seu site, o Sebrae também disponibiliza gratuitamente um curso online de 15 dias com foco em ensinar gestão financeira aos empreendedores.
De qualquer forma, pode ser importante fazer um plano de emergência e se preparar. “Identifique o que vai fazer, para quais linhas de crédito pode recorrer sem impactar e prejudicar ainda mais a saúde financeira. Saiba com quais fornecedores pode negociar para que o impacto seja menor. Não tome decisões equivocadas no calor da emoção, o melhor momento de fazer o plano de emergência é antes da emergência”, afirma Rogério.
Essa visão estratégica dos recursos financeiros, principalmente em um ano com muitas particularidades, é um dos objetivos de Flávio Guimarães, sócio da loja de roupas Soul Dila. “Somos otimistas, mas não podemos ser ingênuos. Ter um planejamento eficaz faz com que a empresa funcione sem sustos e tenha metas bem claras sendo compartilhadas com todo o time”, explica.
Essa gestão é fundamental “para que cada setor da empresa entregue o melhor trabalho possível, através de indicadores de performance estabelecidos”, diz Flávio. A elaboração desses indicadores é interessante para que a gestão não saia dos trilhos. “O financeiro faz o fluxo de caixa anual, já com as previsões e assim sabemos exatamente o que precisamos para não perder o foco estratégico”.
A professora de Administração indica: “Para as empresas que estão bem de caixa, pode ser um momento de aumentar sua participação de mercado. Já empresas que não estão bem, pode ser o momento de buscar novos sócios”. Ela reforça que, mesmo com o cenário de precaução que é preciso ter este ano, 2022 pode ser uma oportunidade ou um risco depende muito do negócio e do setor, mas também da saúde financeira da empresa.
*Sob supervisão da editora Cassandra Barteló
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