ECONOMIA CIRCULAR
Startup baiana transforma rejeitos têxteis da produção em ecobags
Tecidos descartados no processo produtivo da Loygus geram negócios
Por Fábio Bittencourt

Foi com o propósito de transformar rejeito em oportunidade, “cuidando das pessoas para o planeta, e do planeta para as pessoas”, que o empresário da indústria têxtil Loyola Neto criou, em 2019, a Ecoloy. A startup é especializada na confecção da chamada ecobaggy, uma solução em forma de sacola resistente (até 30 Kg) e durável (média de cinco anos).
Loyola também é proprietário há 26 anos da Loygus, em Salvador, fábrica de camisetas promocionais, abadás, fardamentos, entre outros.
Ele conta que, 12 anos atrás, quando o filho nasceu, “tinha a certeza de que seria o herói dele”. “Mas a indústria da moda é a segunda maior poluidora do mundo, atrás apenas da petrolífera. Quinze por cento de desperdício ocorrem só no corte (dos tecidos), e esse legado me preocupava”, diz.
Spin-off
A partir daí surgiu a ideia em fazer do rejeito pequenos brindes, como sacolinhas. “Eu entendi que dentro da fábrica (de confecção) existia uma spin-off (produto ou negócio gerado dentro de uma empresa existente)”, fala Loyola.
“Hoje, a Ecoloy é muito maior que a Loygus”, fala Loyola, se referindo ao valuation, ou valor de mercado das empresas.
Essa e outras experiências ele vai contar no I Fórum Nordeste de Economia Circular, que acontece em Salvador nos próximos dias 23, 24 e 25. O evento será realizado nos museus de Arte da Bahia, Carlos Costa Pinto, de Arte Contemporânea, Geológico e Sala de Arte Cinema do Museu.
O Fórum visa debater os chamados “negócios circulares”, ou formas produtivas que atuam com a transformação de sobras diversas produzidas pelo mercado em novos produtos, em um movimento rumo aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU, explica Lídice Berman, organizadora do encontro.
Especialista em economia criativa e gestão colaborativa, Lídice conta que a “missão” da reunião é sensibilizar lideranças políticas para a pauta, além de consolidar uma cooperação técnica com o Consórcio do Nordeste, e integrar consumidores que já atuam com o conceito ESG (do inglês governança ambiental, social e corporativa), e as melhores práticas.
“O movimento levanta a bandeira da indústria criativa, como uma grande aceleradora da economia circular, que é a pauta da década mundial. A indústria, em outros países, está revendo processos e avançando no processo de transição de economia. São Paulo está avançado (nessa área)”, afirma.
Lídice destaca ainda a importância da universidade na difusão do tema, e o apoio recebido do Instituto de Geociências da Universidade Federal da Bahia (Ufba). “Que nos conecta com a Unesco por meio (da Cátedra de Sustentabilidade) Sost”, explica.
Entre os assuntos em discussão, estarão políticas públicas rumos à sustentabilidade, frisa Lídice, economia verde, descarbonização, economia solidária, design circular. “A indústria precisa parar de produzir embalagens sem reuso ou prazo de validade. Que esse item não vire lixo ou resíduo, mas se transforme em um novo produto, e pare de produzir lixo. Lixo é erro de design”.

Até mesmo a escolha dos espaços onde será realizado o evento – todos no Corredor da Vitória –, parte de uma “proposta disruptiva”, diz. “Quer coisa mais rica que os principais museus (da capital baiana). Vamos ocupar esses territórios, nos integrando ao que já existe”.
“A própria cenografia do evento é feita a partir de resíduos, em grande parte fornecida pelo Aeroporto de Salvador”, explica Lídice. “Ainda existe muita intangibilidade sobre o assunto, e a ideia é exemplificar, falar em conteúdo, mas abordar a parte prática”.
Vale ressaltar que, antes do “nascimento” da Ecoloy, Loyola Neto já buscava uma “transformação”. Participou por anos do Prêmio Fieb Indústria Baiana Sustentável, da Federação das Indústrias do Estado da Bahia, chegando a lograr um segundo lugar, em 2018. E por uma década integrou jogos de inovação, até fechar com uma aceleradora. A Ecoloy conta com diversos grandes parceiros doadores de resíduos, entre eles a BMD Têxteis, multinacional do setor.
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