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ALTAS HABILIDADES

Superinteligentes cumprem jornada em busca do autoconhecimento

Entenda o trabalho de identificação de pessoas com alto QI no Brasil e os sinais apresentados por esse público

Por Pevê Araújo

30/11/2022 - 6:00 h | Atualizada em 30/11/2022 - 9:36
Cerca de 2 mil indivíduos são identificados com o Quociente de Inteligência acima da média no Brasil
Cerca de 2 mil indivíduos são identificados com o Quociente de Inteligência acima da média no Brasil -

Identificar pessoas com altas habilidades pode ser fundamental para o desenvolvimento do indivíduo e da sociedade. Este público pode ser caracterizado como superdotado ou superinteligente. No Brasil, o trabalho de reconhecimento é realizado por grupos voluntários ligados a psicólogos especializados. Atualmente, cerca de 2 mil indivíduos são registrados com o Quociente de Inteligência acima da média, ou seja, têm um percentil 98 (quando o QI é maior que 98% da população).

É o caso de João Victor Guimarães, de cinco anos. A mãe da criança, Carol Grangeon, conta como descobriu que o filho tinha uma inteligência diferenciada. Na época, ele foi o brasileiro mais novo a entrar na Mensa, entidade internacional para pessoas com altas habilidades. O menino registrou um QI de 136 e um percentil de 99. O laudo com os resultados do teste da criança foi aprovado também pela Intertel, dos Estados Unidos.

"Os três irmãos mais velhos de João já eram muito inteligentes quando pequenos, então a gente achou que era mais um inteligente. Só que, com dois anos, ele começou a falar muitas cores em inglês, o alfabeto em inglês. Um dia, eu fui fazer uma gravação dele falando o alfabeto em inglês e descobri que ele sabia o alfabeto associando também a palavras em inglês", lembra.

João Victor Guimarães, de 5 anos, foi aprovado por duas instituições internacionais por ter inteligência diferenciada
João Victor Guimarães, de 5 anos, foi aprovado por duas instituições internacionais por ter inteligência diferenciada | Foto: Shirley Stolze | Ag. A TARDE

Aos três anos, a criança, que nasceu em Salvador, já desenhava alfabetos em diferentes idiomas, como ucraniano, russo e grego. Mesmo longe da escola por causa da pandemia, o menino seguia apresentando sinais de alta inteligência, desenhando e decorando alfabetos inteiros da Islândia, França, Espanha e Turquia. Também foi nessa idade que ele começou a ler e escrever.

Junto com o rápido desenvolvimento, vieram as dificuldades de convivência com as outras crianças. João Victor passou a apresentar ansiedade e nervosismo quando os colegas não conseguiam acompanhar o raciocínio dele, o que provocou preocupação nos pais.

"Muitas pessoas acham que a superdotação só traz coisas maravilhosas. Claro que traz muita coisa boa, mas também vem uma carga muito forte com eles. Eles são hipersensíveis, têm aversão a frustração. A gente tem trabalhado muito com ele, conversado muito. Ele está iniciando a terapia agora para poder entender melhor tudo que ele passa", conta Carol.

Na escola, ele precisou ser acelerado para o primeiro ano, sendo a criança mais nova da sala. João Victor não tinha paciência para acompanhar a repetição das coisas que ele já sabia. O coordenador da Mensa Brasil, Carlos Eduardo Fonseca, destaca que o ambiente escolar pode ser um problema para crianças de alto QI não identificadas.

"Uma sala de aula comum tende a entediar uma criança com o QI alto, com uma habilidade alta para o assunto daquela aula em si. A Mensa atua na primeira etapa disso tudo, que é nesse processo de identificação", pontua.

Diante da descoberta da inteligência diferenciada de João Victor, Carol Grangeon passou a atuar mais na área, ajudando outras mães na identificação de filhos com alto QI e conhecendo a história de outras famílias que vivem situações parecidas.

"Eu percebi que há famílias com crianças superdotadas e que não têm ideia. Às vezes, aquela criança vira problema. Às vezes, o problema está em não se entender naquele ambiente em que ele está", aponta.

João Victor desenha alfabetos de diferentes países
João Victor desenha alfabetos de diferentes países | Foto: Shirley Stolze | Ag. A TARDE

Alta inteligência e autoconhecimento

Formado em artes visuais pela Universidade de Brasília, Azriel Lima, de 30 anos, teve o QI elevado como uma descoberta recente. Ele realizou o teste da Mensa após observações de pessoas próximas de que sinais durante a infância foram ignorados.

"Tenho vários amigos com suspeita de serem superdotados por terem altas habilidades, alguns até com comprovação, mas eu achava que era só amigo deles, não que eu pudesse fazer parte desse grupo. Meus pais eram muito ausentes também, então muitos dos sinais que você poderia ter percebido no desenvolvimento de uma criança superdotada, não foram percebidos no meu desenvolvimento", aponta.

Azriel, que hoje vive em Salvador, sempre buscou respostas para os próprios questionamentos sozinho. Esta característica se intensificou na infância, quando não tinha espaço para realizar perguntas consideradas difíceis, o que atrapalhou no rendimento escolar.

"Eu sinto que muitas dessas minhas características, ao invés de serem celebradas, eram temidas, reprimidas e condenadas no meio em que eu cresci, o que me fez guardar muito para mim e pesquisar as coisas por conta própria, ser muito autodidata e buscar as informações que eu precisava sozinho. Quando eu quero aprender alguma coisa eu vou atrás, pesquiso, acabo me ensinando muita coisa", diz.

Diante das inquietações causadas pelo alto nível de interesse profundo em diversas áreas, Azriel acumula aprovações em diferentes cursos. Antes de se formar em artes visuais, ele elaborou duas versões diferentes do Trabalho de Conclusão de Cursco (TCC).

"Eu acabei sabotando muito o meu desenvolvimento. Eu tenho interesse profundo por muitas coisas. Acho que tenho pouco tempo para estudar o tanto de coisas que eu realmente tenho interesse. Também tenho suspeita de depressão desde a infância", destaca.

Azriel Lima foi aprovado no teste da Mensa após suspeita de amigos de que teria alto QI
Azriel Lima foi aprovado no teste da Mensa após suspeita de amigos de que teria alto QI | Foto: Reprodução | Redes Sociais

Descobrir que tinha uma inteligência diferenciada foi fundamental para Azriel, que passou a se conhecer melhor e se relacionar de forma mais efetiva com ambientes e pessoas. Aprovado na Mensa Brasil, ele agora busca um laudo neuropsicológico para seguir nesta jornada constante rumo ao autoconhecimento.

A Mensa Brasil

A Mensa foi fundada em 1946, no Reino Unido. O grupo voluntário tem o objetivo de identificar indivíduos com alto QI, promover um ambiente social e intelectualmente estimulante para essas pessoas e contribuir com a ciência no reconhecimento da inteligência humana e dos seus propósitos, respeitando as características e interesses de cada um.

São admitidas nas avaliações bimestrais pessoas com 17 anos ou mais e que estejam cursando ou que tenham passado pelo ensino superior.

"Os testes disponíveis são validados pelo Conselho Federal de Psicologia, aqui no Brasil, e pelo psicólogo supervisor na Mensa Internacional, que é uma governança interna nossa. Existe uma profusão enorme de testes psicométricos disponíveis, então para checar aqueles que são válidos para identificar o percentil 98, com QI acima de 98% da população, é feito esse duplo cruzamento", conta o coordenador, Carlos Eduardo Fonseca.

A entidade voluntária lidera a busca pela identificação de indivíduos com alta capacidade intelectual no país, mas os testes realizados estão disponíveis no mercado por meio dos psicólogos habilitados, únicos profissionais que podem utilizar instrumentos para avaliações cognitivas.

"A gente entra em contato com psicólogos locais, busca essa forma de criar um ambiente ideal para o indivíduo fazer o teste, existe um teste ideal ali para adultos, para quem tem 17 anos ou mais", frisa Carlos Eduardo.

Testes da Mensa Brasil são realizados em ambientes controlados
Testes da Mensa Brasil são realizados em ambientes controlados | Foto: Divulgação | Mensa Brasil

No último sábado, 26, a Mensa Brasil aplicou um teste em 19 cidades do país, incluindo Salvador. Os resultados ainda não foram divulgados.

Os adultos que conseguem passar pelos testes, encontram ambientes internos focados em diferentes grupos temáticos, que envolvem questões desde astronomia até matemática aplicada, além de debates sobre direito e política.

Atualmente, a associação possui 2.090 membros. Os dados colocam o Brasil como o país com o maior número de superinteligentes registrados da América do Sul. Em todo o mundo, o grupo possui 140 mil pessoas, sendo 50 mil nos Estados Unidos.

Segundo levantamento da Organização Mundial de Saúde (OMS), 5% da população mundial infantil é superdotada. A proporção correspondente ao Brasil colocaria o país com 2,3 milhões de crianças com alto nível de inteligência, no entanto, a maioria do público não conhece os testes e não teve a alta capacidade reconhecida.

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