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82% dos estudantes brasileiros mantêm planos de intercâmbio

Com a reabertura de fronteiras, 48% pretendem viajar ainda este ano

Publicado domingo, 20 de março de 2022 às 06:04 h | Autor: Leonardo Lima*
Gisele acredita que estudar no exterior vai ajudar em sua formação
Gisele acredita que estudar no exterior vai ajudar em sua formação -

Mais do que aprender um novo idioma, fazer intercâmbio é uma ótima forma de investir na própria carreira. Com as fronteiras fechadas desde o início da pandemia da Covid-19, vários países começaram a aceitar brasileiros e a expectativa é que 2022 seja um ano de maior retomada dos programas de intercâmbios. Cerca de 48% dos estudantes que tinham o sonho de estudar no exterior antes da pandemia planejam viajar ainda esse ano, segundo pesquisa da Associação Brasileira de Agências de Intercâmbio (Belta).

De acordo com os dados da associação, 82% desses estudantes ainda planejam fazer o intercâmbio em breve e apenas 2% desistiram definitivamente. A diretora financeira da Belta, Neila Chammas, explica que na maioria dos casos “a vontade nunca deixou de existir. Pelo contrário, as pessoas em casa com mais tempo livre foram atrás de informação, mas a decisão em si está sendo mais forte desde agora meados de fevereiro”.

Neila contextualiza que além da questão de saúde, o aumento do câmbio e as dificuldades financeiras de cada família também colaboraram para que os planos fossem adiados. Na pesquisa, a Belta identificou que 58,4% adiaram a experiência por motivos financeiros, e 35,6% adiaram por preocupações sanitárias. “Vemos um 2022 muito mais forte e seguro, com a abertura de fronteiras e a vacinação aqui no Brasil, as pessoas já estão mais tranquilas para a tomada de decisão”, diz a diretora.

E por mais que o intercâmbio seja um ótimo momento para aprendizado de um novo idioma, ele não se limita a isso. “É uma oportunidade incrível de sair da sua zona de conforto e desenvolver habilidades. Hoje o que mais buscam dos profissionais são as soft skills, habilidades de adaptabilidade, sociabilidade, autocontrole. Isso está sendo mais valorizado do que a parte técnica, e o intercâmbio traz isso na prática”, conta Neila.

Esse desenvolvimento profissional foi o caso de Beatriz Neves, estudante de direito de 22 anos que fez intercâmbio na Alemanha duas vezes. Na primeira, aos 15, o foco foi aprender o idioma: “Foi um ano muito transformador para mim e quando já tinha 18 anos eu vi uma oportunidade de passar mais um ano fora e ter uma experiência profissional, de trabalho voluntário”, comenta a estudante.

“Lá eu trabalhei em um centro educacional que oferecia cursos de alemão para refugiados. Foi minha primeira experiência profissional e eu estava em outro país, foi bem intenso e me agregou em muitos aspectos”. Assim que voltou para o Brasil, Beatriz aproveitou o conhecimento adquirido e começou a dar aulas de alemão: “Eu tomei gosto e essa foi minha fonte de renda nesses últimos dois anos ne pandemia”.

Beatriz fez intercambio na Alemanha duas vezes
Beatriz fez intercambio na Alemanha duas vezes |  Foto: Rafaela Araújo | Ag. A TARDE
 

Plano profissional

E mesmo dentro da sua área, a estudante já está vendo os impactos da experiência na sua construção de carreira: “Contribuiu muito, o que eu vivi na Alemanha reflete até hoje aqui na minha vida profissional. Meu estágio é em um escritório de advocacia internacional, no processo seletivo foi importante dominar um outro idioma e eles saberem da minha experiência”, explica Beatriz.

Hoje a estudante já pensa em procurar trabalho fora do país. “Eu penso em voltar, em fazer um mestrado fora, e não necessariamente na Alemanha. Existem possibilidades de trabalho e com certeza vou estar super aberta para elas”. Beatriz aconselha para quem tem esse sonho: “Fique ligado em sites e procure bolsas de estudo, de trabalho, se planeje para se jogar nessa experiência maravilhosa”.

Gisele Sá, de 19 anos, sempre quis fazer intercâmbio e morar fora do país. Mas foi quando entrou no curso de engenharia mecânica que a universitária começou a se planejar de fato. “Foi quando eu comecei a ter um melhor direcionamento da minha carreira, do que eu queria fazer paralelo com a graduação. Um dia apareceu no Instagram uma oportunidade de aprender alemão e vi que o país é uma grande referência na área de engenharia”, conta.

Um dos primeiros passos tomados foi o de pesquisar sobre intercâmbios e aprender a língua. “O objetivo é complementar a minha formação e eu penso em ir em outro intercâmbio para trabalhar lá depois, quando tiver no fim da faculdade”, diz Gisele. Ela conta que começou sozinha a estudar a língua, mas que para se preparar ainda mais para a experiência, hoje tem aulas de alemão com Beatriz.

“Pretendo ir em março de 2023, eu pensava em 2021, mas a pandemia afetou muito. Não está na minha mente fazer intercâmbio e correr o risco de ficar em lockdown lá, então tive que atrasar um pouco meus sonhos, até para cortar gastos e ajudar minha família. Mas quando as coisas se aliviaram, tentei pensar para frente e comecei a transformar o sonho em meta”, enfatiza Gisele.

E com mais tempo planejando e pensando sobre a ida, a experiência pode se mostrar até melhor pensada para o que a pessoa deseja para seu futuro. “Principalmente se você consegue linkar com sua formação, o intercâmbio é um diferencial para colocar no currículo. Acho que está no top 1 da lista de benefícios que pode trazer para a sua carreira”, diz a estudante de engenharia.

Victor Santos, 26 anos, mora no Canadá desde janeiro de 2020, quando saiu de Salvador com objetivo de estudar cinema. Ele já havia feito um intercâmbio antes, em outra cidade no Canadá, mas para estudar inglês. “Eu gostei muito do país e vi que tinha potencial na área que eu queria atuar. Então comecei a me planejar e ir juntando dinheiro para pagar o curso, tirar o visto e comprar as passagens e roupas de frio”, lembra Victor.

“Eu vim para aqui com a ideia de morar, mas eu sabia que se voltasse para o Brasil, ter uma experiência internacional adicionaria bastante ao meu currículo. Aí em Salvador eu ainda tinha uma visão muito pequena do audiovisual, muito limitada, e estar aqui expandiu o meu olhar. Ter contato com gente de todo o mundo me proporcionou experiências que eu nunca imaginaria", afirma.

E desde que chegou no país, Victor tem investido bastante em sua profissão. Hoje ele trabalha com conteúdos dos estúdios da Warner Bros e da MGM, além de também ter dirigido projetos próprios. “O trabalho que tenho eu consegui por causa da formação canadense e porque formei network, é essa rede de contatos que te leva para frente na sua vida profissional e que te indica para trabalhos”, diz.

Pandemia da Covid-19

Quando chegou em 2020, Victor teve pouco mais de dois meses de aulas normais no Canadá, até o país fechar em lockdown devido à pandemia da Covid-19. “A gente tinha acesso a muitos equipamentos e infraestrutura e, quando tudo parou, eu me senti prejudicado porque um curso de audiovisual aqui é muito caro e eu pagava o mesmo valor e não estava recebendo o que haviam me prometido”.

“Como você ensina uma aula de cinematografia sem você estar com uma câmera de cinema, estando em uma aula online?”, pontua Victor. Apesar dos problemas, ele conta que deu tudo certo e já terminou o curso, que não deixou de ter sido uma ótima experiência. Hoje, trabalhando na área que gosta, ele já pensa em fazer outro.

Neila Chammas, diretora da Belta, ressalta que agora, no momento ainda de pandemia, quem pensa em fazer intercâmbio deve estar atento às regras de cada lugar. “O primeiro passo é saber como está sendo a entrada no país, se precisa de quarentena obrigatória, quais os trâmites, qual o custo. É ter certeza e segurança se o país está recebendo de forma tranquila os brasileiros”.

Em relação ao formato do estudo, a pesquisa da Belta indicou que a preferência de 84,3% dos estudantes é de realizar as aulas em modalidade presencial, sem aulas online. Mas Neila explica que “faz parte do papel das agências dar assessoria na decisão. E, se vamos falar de um país que está adotando a questão híbrida, nosso papel é dar as orientações corretas a todo momento. O que a gente mais quer é que vivenciem a experiência na prática", enfatiza.

*Sob supervisão da editora Cassandra Barteló

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