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12/05/2024 às 2:41 - há XX semanas | Autor: Joana Oliveira

EMPREGOS E NEGÓCIOS

Mães empreendedoras superam obstáculos com redes de apoio

Confira coluna do jornal A TARDE

Quando as  gêmeas de  Gislaine, Melyssa e Marcely, nasceram surgiu a ideia da  Mel & Mar Fantasias Infantis
Quando as gêmeas de Gislaine, Melyssa e Marcely, nasceram surgiu a ideia da Mel & Mar Fantasias Infantis -

Quando estava vivendo a licença maternidade, há 11 anos, com as filhas gêmeas no colo, Gislaine Silva soube que seria dispensada do trabalho. Focada no cuidado de Melyssa e Marcely, ela começou a fazer laços de cabeça personalizados para as recém-nascidas, o que chamou a atenção dos amigos. Antes do primeiro mês de vida das filhas, ela já vendia os adereços no Facebook. Depois, passou a confeccionar e vender saias de tutu para bebês e, a partir daí, fantasias e outras peças. Mas só foi quando as gêmeas fizeram três anos que ela decidiu abrir a Mel & Mar Fantasias Infantis, em Salvador. “Quando nasce uma mãe, nasce uma culpa. E isso se multiplica quando você decide empreender”, desabafa ela, aos 39 anos.

A história de empreendedorismo de Gislaine é um retrato da realidade das mães que abrem seus próprios negócios no Brasil. Mais de 70% delas, de acordo com o Sebrae, o fazem por necessidade e têm nisso a alternativa para conciliar a criação dos filhos com trabalho e renda. “Normalmente, os ambientes corporativos não acolhem a maternidade. Então, essas mulheres, muitas delas mães solo, passam a empreender para colocar comida na mesa”, relata Ana Fontes, fundadora da Rede Mulher Empreendedora (RME).

Na Bahia, de acordo com dados do Sebrae no estado, a maioria das mães empresárias são negras (76%) e atuam nos setores de comércio e serviços. 58% são casadas e 47% são chefes de família. Em comum, todas têm as dificuldades de ser mulher, mãe e empreendedora. Por isso, recorrem a programas de incentivo e comunidades de apoio para dar conta de todos os papeis que desempenham.

“O planejamento é fundamental. A cada noite de domingo, tenho que parar e organizar minha agenda da semana, com horários de escola, abertura de loja, atendimento a clientes e outras coisas”, conta Gislaine, que é mãe solo. Para isso, ela conta com o apoio da Aliança Empreendedora, uma comunidade online onde compartilha suas experiências, dores e conquistas com outras mães donas de seus próprios negócios, e com programas de estímulo de entidades como o Sebrae.

“Não dá para entender o empreendedorismo delas como apenas mais um CNPJ aberto no mercado. É preciso enxergar a dimensão humana desse negócio, trabalhar competências sócio emocionais, autoconfiança, ensinar planejamento, marketing, organização em redes”, explica Rosângela Gonçalves, gestora do Sebrae Delas, iniciativa que fomenta esses negócios.

O primeiro desafio é o acesso a crédito ou a investidores, já que esses, segundo as especialistas ouvidas pela reportagem, “apostam bem menos” em empresas de mulheres. Elas também são menos selecionadas para linhas de crédito de inovação ou programas de aceleração. Por isso, a RME teve que criar, há seis anos, seu próprio programa de aceleração, com foco em start-ups e outros negócios com potencial de crescimento.

Tanto nessa rede quanto no Sebrae Delas, as mães contam com iniciativas educacionais, onde aprendem desde educação financeira até como formalizar a empresa e ter acesso ao mercado. “Também ajudamos essas mulheres a recuperarem a autoconfiança, a se sentirem mais capazes”, diz Ana Fontes. Outro passo importante é a mentoria, iniciativa por meio da qual empreendedoras mais experientes se voluntariam para ajudar aquelas que estão começando. Outro pilar desse apoio é justamente a conexão em redes, o contato entre mães que vivem a mesma realidade e que podem se ajudar mutuamente.

Para Sueli Conceição, de 49 anos, fitoterapeuta e especialista em estudos etno-africanos, isso é fundamental. Ela é uma das fundadoras da associação Awa Ações Afirmativas, que fomenta a liberdade econômica da população negra. Mas, como ela mesma diz, o incentivo “era sempre para os outros”, nunca para si própria. “Fui criada em uma família de muitas mulheres empreendedoras, minha avó e minhas tias-avós eram lavadeiras e vendiam enxovais, mas fui ensinada que tinha que estudar. Então, meu sonho era ser professora universitária”, conta.

Até que, há 12 anos e depois de reprovações em concursos públicos, Sueli engravidou da sua filha e decidiu mudar sua filosofia de vida. Abriu a Iyá Omi Cosmética Natural, cujo destaque são os produtos com base na mistura de azeite de dendê e óleo de amêndoa. “Conciliar esse negócio com a maternidade é um ato heroico. O CPF se confunde, muitas vezes, com o CNPJ. Além do suporte familiar, precisei ter o convívio e apoio de outras mães empreendedoras para construir uma atuação em rede, participar de eventos e programas de aceleração. Mas isso demanda ficar muito mais fora do que dentro de casa.”

Economia do cuidado

As mulheres dedicam menos tempo aos seus negócios do que os homens. Somente 21% delas consegue destinar entre 36 e 45 horas semanais às atividades do empreendimento. Isso acontece porque “abrem mão” da empresa para cuidar do lar, dos filhos, da família. É a economia do cuidado, cada vez mais discutida, e que dá nome ao fato de que elas são responsáveis por mais de 80% das tarefas domésticas e de cuidados com terceiros.

De acordo com Rosângela Gonçalves, é essa realidade que também contribui para que as empreendedoras recebam mais nãos do que os homens ao pleitear ferramentas de crédito, ainda que elas sejam mais adimplentes que eles. “Nós não somos ensinadas, ao longo da vida, a lidar com dinheiro e economia. Têm-se ainda a ideia de que a mulher vai depender do homem, então acham que não sabemos lidar com finanças nem administrar nosso capital.”

Para Ana Fontes, esse cenário só vai mudar quando existirem políticas públicas de cuidado que valorizem esse tipo de trabalho e permitam que não só as mães, mas todas as empreendedoras tenham acesso ao mercado. O Governo Federal lançou, no último mês, o programa Acredita, voltado para microempreendedores e que conta com um eixo específico para mulheres. Ana lembra também da Política Nacional de Empreendedorismo Feminino, que a própria Rede Mulheres Empreendedoras ajudou a construir. Ela destaca, no entanto, a necessidade de uma mudança de panorama mais ampla, que tem a ver com consciência social. “Quando uma mulher empreende, ela usa o dinheiro resultado do negócio para melhorar a educação dos filhos, para melhorar o bem-estar da família, para apoiar a comunidade no entorno. Quando pode contratar, ela emprega outras mulheres. E isso cria um círculo de prosperidade”, explica. Uma prova de que quando uma mãe tem êxito toda a sociedade começa a melhorar também.

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