MEIO AMBIENTE
Bahia se projeta como protagonista ambiental rumo à COP 30
Estado aposta em transição energética, agro sustentável e conservação florestal
Por Joana Lopo

A realização da COP 30 na Amazônia representa um marco histórico para as negociações climáticas globais, mas é também uma oportunidade sem precedentes para que a Bahia se afirme como referência nacional e internacional em desenvolvimento sustentável. Sediada em Belém, de 10 a 21 de novembro de 2025, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas marca um novo capítulo na luta mundial contra o aquecimento global — e o estado baiano quer estar no centro dessa história.
Com seus biomas estratégicos, liderança em energia renovável e um agronegócio que busca alinhar produção com responsabilidade ambiental, a Bahia desponta como um dos principais entes subnacionais a se mobilizar para contribuir com as metas globais de contenção das mudanças climáticas. Se, para o Brasil, a COP 30 é uma oportunidade de fortalecer políticas ambientais e exercer protagonismo internacional, para a Bahia, o evento é uma vitrine para apresentar seus avanços, consolidar sua posição na transição energética e atrair investimentos verdes.
Bahia na COP: representação, estratégias e desafios
A participação institucional da Bahia na COP 30 ainda está sendo desenhada, mas, segundo o superintendente de Políticas e Planejamento Ambiental da Secretaria do Meio Ambiente (Sema), Luiz Carlos de Araújo, a presença baiana será pautada por projetos em áreas-chave como restauração ambiental, agricultura familiar sustentável e transição energética.
“O estado pretende firmar parcerias, buscar cooperação técnica e apresentar propostas voltadas à agenda climática. A ideia é ampliar o reconhecimento das ações locais e atrair investimentos verdes com foco em inovação e inclusão social”, destaca Araújo.
Entre as políticas públicas já em curso, o estado destaca o Programa Estadual de Transição Energética (Protener), o Bahia Sem Fogo, voltado ao combate a queimadas, o Agente Jovem Ambiental (AJA) e os planos de convivência com a seca. O governo também tem avançado no combate ao desmatamento, na promoção da agricultura de baixo carbono e na consolidação de uma governança ambiental descentralizada e participativa.
Cerrado baiano em destaque
O município de Luís Eduardo Magalhães, no Oeste baiano, foi o único do interior do Brasil a sediar um evento preparatório para a COP 30. Realizado pela Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), o Brazil Summit Cerrado reuniu especialistas, produtores e autoridades para discutir o papel do bioma Cerrado e da agricultura sustentável no enfrentamento à crise climática.
Para o presidente da Aiba, Moisés Schmidt, o evento mostrou ao país e ao mundo que é possível aliar produtividade com inovação e conservação ambiental. “A região é uma vitrine de agricultura regenerativa e segurança alimentar, e deve estar no centro da construção de soluções climáticas globais”, afirma.
Segundo ele, a Aiba aposta em uma abordagem baseada em capacitação técnica, pesquisa e políticas públicas que incentivem boas práticas ambientais. Destacam-se ações como recuperação de áreas degradadas, uso racional da água com foco no Aquífero Urucuia, manejo conservacionista do solo, preservação de áreas de proteção permanente e rastreabilidade da produção.
Essas práticas ressaltadas por Schimidt se somam a projetos de irrigação eficiente e iniciativas voltadas para serviços ecossistêmicos e mercados de crédito de carbono. Ele ressalta, ainda, que o objetivo é influenciar políticas públicas que valorizem o produtor que preserva e inova, ampliando o acesso a financiamentos verdes e infraestrutura de governança hídrica.
Aquífero Urucuia: gestão hídrica com base em ciência
O estudo do Aquífero Urucuia, fundamental para o uso sustentável da água na agropecuária do Oeste da Bahia, representa uma iniciativa de ponta no cenário climático. Ao mapear zonas de recarga (áreas geográficas cruciais para a manutenção e abastecimento dos aquíferos subterrâneos) e limites de captação, a região se antecipa a riscos de superexploração e estabelece práticas baseadas em evidências científicas.
Esse tipo de gestão integrada, com forte componente técnico, está em total sintonia com os eixos da COP 30 — em especial, a adaptação climática, a eficiência no uso de recursos naturais e o fortalecimento da governança ambiental.
O agro baiano na vanguarda da produção sustentável
O setor agropecuário da Bahia chega à COP 30 com uma bagagem sólida de boas práticas. Segundo o presidente do Sistema Faeb/Senar, Humberto Miranda, o estado já implementa sistemas integrados de produção, como lavoura-pecuária-floresta (ILPF), promove o uso racional da água no semiárido e investe na recuperação de áreas degradadas.
“Estamos mostrando que o produtor baiano está pronto para dialogar com o mundo sobre sustentabilidade. A tecnologia, os protocolos de rastreabilidade e a responsabilidade social já fazem parte da rotina no campo”, afirma Miranda.
Projetos como o Algodão Brasileiro Responsável (ABR), ações de monitoramento socioambiental no Oeste e o incentivo à agricultura regenerativa integram o pacote de soluções que serão apresentadas na COP.
Miranda ressalta que a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) também atua para mapear práticas de baixo carbono nas propriedades e capacitar produtores por meio da plataforma Senar Play, com foco em critérios ESG. “A inovação já é realidade no campo baiano, com uso de bioinsumos, energia renovável, irrigação inteligente e tecnologias de precisão. Mas é preciso acesso a crédito e desburocratização para ampliar essa transição”, observa.
Estocando carbono e regenerando o solo
Outro destaque da contribuição baiana é o setor de base florestal, representado pela Associação Baiana das Empresas de Base Florestal (ABAF). Segundo o diretor executivo Wilson Andrade, a Bahia planta cerca de 250 mil árvores por dia, somando 700 mil hectares de florestas plantadas e outros 400 mil destinados à preservação ambiental.
“O setor já estoca 305 milhões de toneladas de CO² equivalente, e caminha para consolidar o compromisso ‘Um Pra Um’: a cada hectare plantado, outro hectare é preservado”, afirma Andrade.
Segundo ele, são oito milhões de hectares degradados no estado, e a silvicultura se apresenta como alternativa promissora para restaurar o equilíbrio ecológico e atender às metas nacionais de reflorestamento, como os 12 milhões de hectares previstos nos acordos internacionais e os cinco milhões adicionais a partir da ILPF.
O Plano Nacional de Florestas Plantadas (Plantar Florestas), coordenado pelo Ministério da Agricultura, propõe a expansão em áreas antropizadas (ambientes que foram transformados pelo homem para atender às suas necessidades e atividades) com baixa aptidão agrícola. “Essas novas áreas podem não apenas capturar carbono, mas também conservar água e solo, contribuindo para uma economia florestal sustentável”, explica Andrade.
Com isso, o diretor da Abaf observa que no momento em que o mundo busca respostas urgentes para os impactos das mudanças climáticas, a Bahia desponta como uma das vozes mais estruturadas entre os estados brasileiros.
Por meio de ações concretas, métricas de sustentabilidade e políticas públicas em operação, o estado mira na COP 30 a fim de apresentar propostas maduras e potenciais para influenciar positivamente os rumos do debate climático global.
A expectativa do estado é clara: aproveitar a visibilidade do evento para reposicionar a imagem do setor produtivo baiano no cenário internacional, fortalecer a cooperação técnica, atrair investimentos em infraestrutura verde e consolidar a Bahia como território de inovação ambiental, justiça climática e liderança na transição energética.
Com os olhos do mundo voltados para a Amazônia, a Bahia também quer mostrar que suas florestas, seus campos e seus rios estão prontos para fazer parte da solução. E que, mais do que promessas, o estado tem entregas reais a apresentar.
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