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Daiane dos Santos: "esporte carece de investimento privado"

Por Diego Adans

19/09/2015 - 21:22 h
Daiane dos Santos, "esporte carece de investimento privado"
Daiane dos Santos, "esporte carece de investimento privado" -

A gaúcha Daiane Garcia dos Santos escreveu seu nome na história da ginástica artística do país em agosto de 2003. Então aos 20 anos, ela se tornava a primeira ginasta brasileira, entre homens e mulheres, a conquistar uma medalha de ouro numa edição do Campeonato Mundial. Na grande final no solo, Daiane desbancou a romena Catalina Ponor ao executar com maestria, pela primeira vez, o movimento duplo twist carpado - mais tarde, o movimento acabou homologado pela FIG (Federação Internacional de Ginástica) com seu sobrenome "Dos Santos". Na época, a medalha de ouro em Anaheim, nos Estados Unidos, ainda rendeu à equipe brasileira a inédita vaga nos Jogos Olímpicos de Atenas-2004.

Daiane ainda marcou presença em outras duas edições: Pequim (2008) e Londres (2012). Na capital inglesa, porém, ela deu adeus ao esporte. Fora dos ginásios, Daiane virou comentarista da Rede Globo e participa de dois projetos sociais: Brasileirinhos e o Furnas Educa. Foi este último que motivou a vinda dela à capital baiana. Durante a breve passagem, a ex-atleta concedeu entrevista exclusiva ao A TARDE. Falou, entre outros assuntos, sobre preconceito, as críticas que recebeu de internautas por causa do seu peso, necessidade de investimento público e privado no esporte.

Já são três anos fora das competições. Mesmo assim você não abandona a ginástica?

Isso, isso. Hoje, participo de dois (projetos): Brasileirinhos e o Furnas Educa. O primeiro é um projeto que tem ginasta e arte circense. Trabalha também um pouco de percussão com crianças entre seis anos e 17 anos de cidades e comunidades carentes de todo o país. Já o Furnas Educa é um projeto itinerante de educação ambiental. Eu e outros atletas e ex-atletas visitamos escolas da rede municipal e estadual, tentando levar consciência ambiental para as crianças de uma forma alegre, diferente, em forma de brincadeira.

Você nunca vislumbrou se tornar uma treinadora?

Não me vejo como treinadora. Não tenho esse perfil. Prefiro focar os projetos, me inspirei em meus pais. Eles sempre trabalharam com crianças carentes. Então, eu acho importante levarmos um pouco dessa oportunidade que nós tivemos a essas crianças.

Em abril, internautas criticaram bastante você nas redes sociais por causa do seu "excesso de peso". Como encarou aquela situação?

Ah... foi normal. Primeiro, eu acho que as pessoas estão acostumadas a nos ver com um corpo, o de atleta (43 kg, 1,44 m). Porém, quando a gente para de treinar, o nosso corpo não é mais o de atleta. Hoje, eu tenho o corpo de uma pessoa normal (extraoficialmente seu peso é de 53 kg). Fiquei 19 anos trabalhando diariamente, oito a nove horas. Eu mesmo estranhei a mudança do corpo. Não estou comendo muito, a própria diminuição de carga de atividade já faz isso acontecer. Então eu levo como uma situação normal.

Em entrevista à rádio Jovem Pan, você afirmou: "O preconceito não é só no esporte, é fora do esporte e deve ser levado com seriedade em todas as suas formas". Você já foi alvo de preconceito?

Só o fato de sermos negros, já nascemos com várias dificuldades. Existe, sim, o preconceito no Brasil, mesmo o país tendo 52% de pessoas negras. Nós ainda temos esses conflitos. Mas o preconceito não é só com raça, é com sexo, é com cor, tamanho... O ser humano é naturalmente preconceituoso. Mas nós todos somos iguais. Não é porque a gente sofreu com uma atitude preconceituosa, que vamos agir da mesma forma com as outras pessoas. Temos que dar o exemplo e agir com consciência. Fazer com que o preconceito, seja qual for, termine.

No Mundial de Anaheim, nos Estados Unidos, sua apresentação teve como base uma das músicas mais conhecidas do país, Brasileirinho, composta em 1947 por Waldir Azevedo. De onde surgiu veio aquela ideia?

Na verdade, Brasileirinho veio como um presente. Foi uma ideia em conjunto com o Oleg Ostapenko (treinador ucraniano de Daiane) de valorizar e homenagear a música brasileira. Na época que fiz o Brasileirinho, todas as atletas da seleção se apresentavam também com uma música nacional. O país é forte na cultura e na musicalidade. Foi uma chance de mostrarmos isso ao mundo e acho que deu certo.

Quais são suas perspectivas para a Olimpíada Rio-2016?

Poxa, eu não posso falar sobre isso porque você é da imprensa. Só posso falar sobre esse tema para a Globo, da qual sou contratada. Mas, estou confiante e esperançosa.

Até que ponto atuar em casa, com a pressão da torcida, pode ser favorável aos atletas brasileiros?

Competir em casa sempre é muito bom. Primeiro, porque a gente pode estar próximo da nossa família, da torcida. Ver as pessoas que amamos e sentir o calor do povo brasileiro. Mas, ao mesmo tempo, causa uma maior ansiedade no atleta que compete por estar em casa. Acho que a pressão sempre temos, né? De vencer, de trazer medalhas e títulos. Isso vai ser no Brasil ou fora dele. Convivemos com isso todos os dias, já estamos acostumados. Mas estar perto da torcida dá uma ansiedade maior.

Em 2016, você não competirá. Ao contrário, vai trabalhar como comentarista. Já se imagina como tal?
(risos) Bem... é diferente um pouco, né? A ginástica é um esporte técnico, então eu tenho que falar de uma forma simples. Normalmente, nós treinamos para fazer as apresentações, as competições... Mas dá um friozinho na barriga. Pois, é claro, é um pouco diferente do que eu sempre fiz. Antes eu mais atuava do que falava. Mas no geral é bom falar do esporte que eu amo para outras pessoas.

Como você avalia o atual cenário da ginástica artística no país e dos outros esportes olímpicos?
O Brasil ainda tem muito problema com a iniciação esportiva. A falta de investimento não é exclusividade da Bahia, por exemplo. Em todos os estados ainda temos dificuldades para os atletas se manterem. Em alguns esportes, ainda mais. Eu acho que já melhorou um pouco do que era antes. Hoje em dia, já tem Lei Piva, Lei do Incentivo, Bolsa Atleta ... Temos algumas fontes para os atletas conseguirem se manter. Mas é claro que ainda precisa mais. Não adianta acharmos que depende só do governo, precisamos da empresa privada, ou seja, de patrocínio para que as coisas consigam continuar evoluindo.

Não só na ginástica, mas é cada vez mais comum a presença de técnicos estrangeiros no Brasil. Você é favorável a essa importação?

Esse intercâmbio é sempre bom. Acho que nós temos uma oportunidade de mostrar tudo o que sabemos para eles e aprender um pouco do que eles sabem. Trazer um pouco de doutrinas diferentes para estarmos colocando em prática aqui. Acho que o Brasil é um país miscigenado, feito de múltiplas culturas, e trazer pessoas de fora para cá engrandece mais isso.

Já se imaginou sendo comentarista de uma competição aqui em Salvador?

(risos) Me falaram do CPJ (Centro Pan-Americano de Judô, em Lauro de Freitas). Não conheço não, mas tenho muitos amigos judocas que elogiaram o CPJ. Tenho vontade, sim, de vir para cá comentar uma competição. Se eu puder vir a Salvador comentar não só a ginástica, mas outros esportes, e ver outras competições acontecendo, sempre vou ficar feliz. Precisamos disso acontecendo para as pessoas verem os esportes, gostarem e começarem a praticar.

Como você se deparou com o acidente de Laís Souza (ex-ginasta que ficou tetraplégica)?

Para todos nós, foi uma situação muito triste, complicada. É uma lesão muito séria (torção na coluna cervical). Mas estou com bastante fé que ela vai se recuperar.

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