ESPORTES
Espedito Magrini, o 'Lindinho' criador do bordão 'horroroso'
Por Lucas Cunha

Para as colegas de trabalho, o narrador esportivo e apresentador Espedito Magrini, 44, é conhecido como "Lindinho", uma retribuição a cortês - e respeitosa - forma como chama as suas 'lindinhas", independente de idade ou estado civil das 'moças' em questão.
Mas, para os amantes das transmissões de futebol na Bahia, este baiano de Uauá ganhou fama com a criação do bordão "horroroso" (leia: "hooooooooo-rrrrrro-roooooooooooo-sooooooooooo!"), usado para descrever aos torcedores aquelas claras oportunidades de gol que são incrivelmente perdidas pelos jogadores durante as partidas.
"Você tem de situar o ouvinte com uma leitura daquele lance, como se fosse um monitor de TV. Por exemplo, nos jogos fora de Salvador, usávamos a Fonte Nova, dizendo que um time atacava para o Dique do Tororó, ou que a jogada é do lado onde estaria o torcida Bamor, se o jogo fosse na Fonte. E pensei: como posso traduzir um lance feio? Então me veio a ideia de falar, 'Xi, horroroso!", conta o radialista, que atualmente trabalha como narrador esportivo na Rádio FM Transamérica de Salvador e como locutor apresentador do programa de variedades "Show Da Tarde!, na Rádio AM Sociedade da Bahia.
Mas o bordão "horroroso" só chegou na sua versão final - e mais popular - durante uma das narrações durante os quatro anos que participou das transmissões dos jogos do Campeonato Baiano, realizadas pela TV Itapoan.
"O Álvaro, que é gerente de operações da TV, soprou durante o jogo: 'Cara, não bote o 'Xi'. Fale só o horroroso'. Aí pronto. Comecei a ouvir as pessoas comentando comigo na rua, os artistas que vinham no meu programa falavam disso, a TV criou o quadro 'o horroroso da semana' e até fizeram uma comunidade do Orkut. Nem conheço a pessoa, mas agradeço. Fico contente que tenha agradado tanto".
Carreira - O rádio é uma paixão de Magrini desde sua infância em Uauá, quando o flamenguista ("na verdade, sou é 'Ziquista', fã do futebol do Zico", completa) ouvia os programas da emissora carioca Rádio Globo, a única que chegava na sua cidade. "Meu irmão me contou, mais tarde, que quando eu tinha uns nove anos, eu costumava dizer que iria trabalhar dentro da rádio, achando que os locutores ficavam dentro do aparelho".
Vindo de uma família com poucos recursos, Magrini começou seu sonho de trabalhar no rádio com uma gravação caseira. "Ele tinha uns teclados que pareciam um piano, grandes. Então criei um programa de minha cabeça, com carta, pedido musical. Dei o título de Radio Horizonte para a 'emissora'. O barato era que, como não tinha como editar, já cheguei a ficar uma semana esperando tocar no rádio a música que eu queria para colocar no programa".
Devido ao trabalho do pai, um ex-militar que trabalhou como professor e segurança, Magrini se mudou para Juazeiro, onde, aos 19 anos iniciou no rádio, por meio de um emupurrãozinho paterno. "Meu pai sabia do meu sonho e levou essa minha gravação caseira, sem que eu soubesse, apresentou para a gerente da Rádio Juazeiro. Ela gostou e disse que me daria uma oportunidade. Não fui locutor, mas comecei como operador de áudio".
Após quatro meses nos bastidores, por volta do ano de 1989, Magrini aproveitou as férias de um colega locutor para assumir o seu posto. E de lá para cá são 23 anos de trabalho no rádio, primeiramente como locutor apresentador, repórter, até que, novamente por obra do destino, começou sua carreira como narrador.
"Trabalhava como repórter de campo na rádio metropolitana de Camaçari. Estava programado para fazer o jogo Bahia e Serrano, pelo campeonato baiano, e o narrador ficou com a garganta ruim. Então acabei cobrindo ele, mas claro que foi péssima a minha estreia. Nunca tinha narrado na vida. Mas continuei e busquei inspiração nos jogos que ouvia na Rádio Globo com o Jorge Curi (1920-1985), quando morava em Uauá".
Depois desta experiência, Magrini começou a, eventualmente, narrar jogos em algumas rádios que trabalhou, até começar a ter uma sequência na equipe montada pelo radialista Antonio Tillemont, na Rádio Cultura AM, que começou a se especializar na narração esportiva.
Escola - Atualmente, o "Lindinho" divide seu tempo entre as narrações esportivas e o comando do programa "Show da Tarde", na tradicional rádio AM Sociedade da Bahia, que passa de segunda a sexta-feira, das 14 às 16 horas. Magrini reconhece que o AM acabou muito abalado, especialmente devido a melhor qualidade sonora da rádio FM e ao fato de novos aparelhos, como celulares, não sintonizarem as rádios AM (só com o uso de internet). Mas, em contraponto, as facilidades das novas tecnologias tem aberto outros públicos.
"Hoje, temos ouvintes de vários estados e países pela internet, pessoas que querem ouvir notícias de sua terra. Além disso, nós temos um alcance maior do que uma rádio FM local, a depender do rádio, podemos ser sintonizados em várias partes do Brasil. E o rádio é a verdadeira escola. Vi uma entrevista recente do Léo Batista (apresentador esportivo da TV Globo), onde ele disse isso. Quem iniciou a TV no Brasil foram pessoas como ele, vindas do rádio. É onde aprendemos a improvisar, não há espaço para nada ser regravado. Quem trabalha no rádio, pode trabalhar em qualquer outra mídia".
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