OUTRA HISTÓRIA
Bahia reencontra Ferroviário após 17 anos de viver seu pior momento
Tricolor foi goleado por 7 a 2, quando disputava o Brasileirão da Série C, em 2006
Por Daniel Farias
Há quase 17 anos, um jogo foi um golpe duro no Bahia, em um dos seus momentos mais delicados. Na Terceira Divisão nacional, o clube precisava vencer para continuar na briga pelo acesso. O adversário, o Ferroviário, até então nunca havia vencido o Tricolor. Mas o resultado foi como um pesadelo, difícil de esquecer: 7 a 2 para o time cearense.
“Lembro que acompanhei o jogo pelo rádio. Não acreditava no que estava acontecendo. Era um jogo com uma equipe que, apesar de ser muito tradicional no Ceará, uma terceira força, ninguém esperava que o Bahia sofresse uma goleada tão humilhante. Ali foi como uma pá de cal na possibilidade de acesso do Bahia e o escancaramento da situação, da crise do clube”, lembra Jayme Brandão, que na época era assessor de imprensa do Bahia, e continua no time, agora como supervisor geral de futebol.
Hoje, sua memória certamente será estimulada pelo reencontro entre Bahia e Ferroviário, às 20h30, na Arena Fonte Nova, pela segunda rodada da Copa do Nordeste. O histórico é positivo. De quatro partidas, o Bahia venceu duas, empatou uma e perdeu outra – a mais marcante de todas. “Nenhum torcedor, no pior dos pesadelos, imaginaria que isso poderia acontecer. Foi um jogo que me marcou muito e todos os funcionários também. Parecia que estava caminhando para acabar”, conta Jayme.
Na época, o repórter Paulo Simões, do A TARDE, foi até Fortaleza acompanhar o jogo e considerou inaceitável o que aconteceu em campo. Ele afirmou, contundente: “O Bahia vem se apequenando a olhos vistos, desde que se livrou do rebaixamento à Segunda Divisão em 2002. Finalmente caiu em 2003 e daí em diante seus mentores só fizeram vulgarizar o manto sagrado de um clube que finge ser o que não é”.
Na partida, o algoz foi um ex-tricolor. O atacante Sérgio Alves fez três gols e foi o grande nome do jogo. Ele atuou no Bahia em 2002, chegou a ser artilheiro, com 13 gols, e campeão da Copa do Nordeste. Mas, em pouco tempo, escolheu sair do clube, segundo o próprio, com dois salários atrasados. O que certamente apimentou o confronto na capital cearense.
Naquele mesmo ano do confronto histórico, o Bahia já havia vencido Ferroviário por 4 a 1, na Fonte Nova, na primeira fase da Série C. A equipe vinha bem na competição, chegou a liderar no início, mas depois começou a descer a ladeira até beirar o fundo do poço. “A gente ainda tinha um pouco de esperança de conseguir se recuperar. Mas os resultados negativos foram se acumulando”, pontua Jayme.
De 2006 para a fase atual, as mudanças no time são imensas. Qualquer analogia entre os dois momentos seria um anacronismo. Aquele ano representava o ápice de um processo de enfraquecimento do clube, problemas internos e estruturais, e falta de resultados em campo. De fato, o Bahia não subiu. A volta para a Segundona ocorreu apenas em 2007 e a subida para a Série A, em 2010. Atualmente, o clube tem uma das melhores estruturas do Nordeste, alta capacidade de investimento, sobretudo a partir da SAF com o Grupo City, e vem montando elenco forte.
Nesse ínterim, o Tricolor viveu altos e baixos, mas nunca chegou perto daquele 2006. Nos últimos anos, a estabilidade foi alcançada e agora busca voos mais altos.
Processo de evolução
“São momentos completamente distintos. Entrei no Bahia em 2006 e acompanhei todo o processo de evolução do clube para chegar nesse momento. Eram meses de salário atrasado, falta de estrutura, contratações ruins, fracassos em campo. E a gente vê hoje o clube com estrutura, centro de treinamento de excelência, com a SAF. E a gente trazendo atletas de nível internacional. Isso é muito gratificante. Me orgulho de ter participado de todo esse processo”, compara Jayme.
Vencer é fundamental no jogo de hoje para ocupar uma melhor posição no campeonato. O Bahia, na estreia do Nordestão, foi derrotado por 1 a 0 pelo Sampaio Corrêa. Para a partida, o técnico Renato Paiva não vai contar com o volante Rezende e o lateral Chávez, que ficaram fora do treino de ontem. Na lateral, o substituto será Ryan. No meio, o Bahia provavelmente vai entrar com Acevedo, Diego Rosa e Daniel. No ataque, deve seguir com o trio Biel, Kayky e Ricardo Goulart.
Para Jayme Brandão, a partida contra o Ferroviário certamente vai trazer as lembranças daquele momento para quem viveu. Porém, não se trata de um sentimento de revanche. “Não foi o Ferroviário que deu 7 a 2 no Bahia, o Bahia que tomou 7 a 2 do Ferroviário. A equipe estava fazendo o seu papel, jogando em casa, e aplicou a goleada”, comenta.
O que diferencia os dois jogos é o momento completamente distinto que o Tricolor vive hoje. E tem todas as condições de concretizar em triunfo essa evolução.
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