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Ídolo do Bahia, ex-goleiro Emerson Ferretti assume homossexualidade

Ex-jogador defendeu o Tricolor de 2000 a 2005

Publicado sexta-feira, 19 de agosto de 2022 às 12:50 h | Atualizado em 19/08/2022, 14:01 | Autor: Da Redação
Emerson decidiu falar abertamente sobre o assunto para inspirar outros atletas gays
Emerson decidiu falar abertamente sobre o assunto para inspirar outros atletas gays -

Ídolo do Bahia, o ex-goleiro Emerson Ferretti assumiu publicamente a sua homossexualidade em entrevista ao podcast do ge "Nos Armários dos Vestiários". Ele, que também já foi dirigente e comentarista esportivo na Bahia, decidiu contar a sua história para encorajar outros atletas. No relato, Emerson contou como foi esconder a sua orientação sexual durante a sua carreira. 

"O ambiente do futebol é muito hostil para um gay, muito mesmo. Eu fico imaginando quantos garotos desistiram de se tornar jogador de futebol por conta disso, por perceberem essa situação. Quantos talentos foram perdidos? O futebol perdeu, os clubes perderam, porque o ambiente realmente não ajuda. Eu segui com tudo isso, mas sofri com as consequências de seguir, era o meu sonho. Eu queria ser um jogador de futebol. Eu eu conquistei isso, só tive que que enfrentar um outro lado que é muito difícil", contou o ex-goleiro. 

Emerson foi revelado pelo Grêmio com destaque, mas após graves lesões ficou anos sem atuar com regularidade. Seu renascimento aconteceu em 1999, quando conquistou o título da Copa do Brasil com o Juventude. Em 2001, já no Bahia, ele foi eleito bola de prata como melhor goleiro do Brasileirão. No Tricolor, Emerson ficou de 2000 a 2005 e disputou 167 jogos. Também jogou por Flamengo, América-RN, América-RJ, Ituano, Bragantino e Vitória.

Hoje, aos 50 anos, Emerson decidiu falar abertamente sobre o assunto e relembrou a relação entre carreira e vida pessoal. Veja outros trechos da entrevista ao podcast do ge: 

Vida: 

"Até entender o meu processo demorou muito tempo porque não tinha contato com ninguém no mundo gay para conversar, não conversava com ninguém sobre isso. Sentia os desejos, mas não entendia direito. Quando eu entendi o que era, demorou tempo para aceitar o fato e depois ainda demorou muito tempo para aceitar me relacionar com alguém do mesmo sexo. Foi um processo muito demorado, e eu acho que o pior de tudo foi solitário. Não tive com quem dividir esse peso. Eu enfrentei tudo sozinho. Tentei entender tudo sozinho, e era uma criança, era um adolescente, sem acesso à informação".

Casar por aparência: 

"Lógico que existem gays no futebol, e muitos optam por casar. Dessa forma, eles se protegem, se enquadram num padrão que é aceito. Eles se protegem da suspeita de serem homossexuais e aí conseguem sobreviver. Só que normalmente, quando você faz isso, acaba levando uma vida infeliz, fazendo a outra pessoa infeliz. Eu optei por não casar. Optei por não enganar ninguém, por enfrentar tudo sozinho. Talvez aí também veio a fama, os comentários, porque eu nunca casei. Eu nunca aparecia com uma namorada, então esses comentários sempre surgiam. Quando tinha alguma reunião, algum churrasco de atletas que todo mundo levava a esposa, eu estava sempre sozinho. E, logicamente, os outros jogadores falavam muito, mas eu optei por enfrentar"

Impacto dos rumores sobre homossexualidade: 

"Eu parei de jogar com 35 anos, fui até o final, joguei em vários clubes. Sei que a fama me prejudicou bastante. Eu poderia até ter tido muito mais sucesso. Poderia ter feito muito mais coisas do que fiz, ter conquistado muito mais coisas. Eu acredito que é muito positiva (a carreira), principalmente por ter conseguido enfrentar tudo isso, ter sobrevivido até o final. O fato de ser gay não me parou, eu fui até o final. Mas sei de dirigentes que não me contrataram porque eu sou gay"

Exemplo para outros atletas: 

"É possível ser gay, ídolo e ganhar títulos. Dá para ser um jogador talentoso. Dá para ter sucesso no futebol. Eu cumpri minhas obrigações dignamente. Fui profissional e entreguei desempenho, isso acaba me motivando para deixar um legado fora de campo também. Falar sobre o assunto, jogar luz sobre o assunto vai fazer, com certeza, primeiro, quebrar um pouco esse silêncio que existe, porque sempre existiu gay no futebol. Só que ninguém fala, todo mundo ignora isso, faz de conta que não tem". 

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