"Não me arrependo de nada", garante Agnaldo Liz sobre passagem no Vitória

A terceira passagem de Agnaldo Liz à frente do Vitória foi 'meteórica'. O treinador chegou com o aval do presidente Paulo Carneiro que tinha como objetivo o resgate das raízes do clube na formação de jovens atletas das categorias de base. Durante pouco mais de três meses, Liz disputou sete partidas oficiais - além de dois triunfos em amistosos de pré-temporada -, venceu três vezes, empatou duas e perdeu outras duas.

Caso os estaduais não retornem por causa da pandemia do coronavírus, o desempenho do treinador sob o comando do clube deixaria a equipe dentro da zona de classificação, em quarto lugar, com 11 pontos. Em comparativo, o número de triunfos conquistados por Agnaldo Liz neste início de temporada foi apenas uma a menos que o Rubro-Negro teve no primeiro semestre inteiro de 2019.

Apesar dos resultados considerados positivos, visto que o time disputou um torneio profissional com uma equipe composta majoritariamente por jogadores sub-23 e alguns sub-20, o desligamento do treinador e o fim da equipe de aspirantes terminou sendo inevitável, mediante às consequências causadas pelo coronavírus no calendário do futebol brasileiro.

Por meio de áudio, o presidente Paulo Carneiro justificou o desmanche como forma de diminuir as despesas. "Todo um planejamento que vinha tendo bons resultados nesse momento fica suspenso, em alguns casos comprometido [...] como não temos ideia de quando voltaremos e tenho quase certeza que não teremos as finais do estadual, resolvemos racionalizar custos. O time de aspirantes está sendo desmontado porque não podemos ficar com ele".

Em entrevista exclusiva ao Portal A TARDE, o ex-comandante da equipe sub-23 do Leão fez o balanço dessa sua terceira passagem pelo clube. Segundo Liz, ele não se arrepende de nada durante o comando e disse ter ficado "um pouco surpreso" com a notícia de seu desligamento. Confira a conversa com o treinador:

Nesses quase três meses em que esteve à frente dos aspirantes do Vitória, qual a avaliação que você faz sobre sua terceira passagem pelo clube, a segunda como treinador?

Nessa nova oportunidade que tive à frente da Vitória, fiquei muito grato de ter sido lembrado pela minha história junto ao clube. A avaliação que a gente faz é muito boa, muito positiva. Não somente para mim, em vivenciar essa reconstrução do Vitória em voltar a suas origens de formação de atletas. Espero que o clube dê sequência no retorno de suas atividades e após a passagem desse transtorno de pandemia. A gente acredita que o Vitória poderá reencontrar o seu caminho no futuro, visando sempre esse processo formador.

Teve algo que se arrepende de ter feito ou que gostaria de ter implementado, mas não foi possível?

Não me arrependo de nada. Acho que todo esse processo que planejamos desde o fim do ano passado, quando fomos contratados, foi mantido em um caminho correto. Trabalhamos de uma forma que o Vitória iria e irá colher grandes frutos no futuros em decorrência dessa qualidade da base, por todo o processo que foi iniciado, mas, principalmente, pela qualidade dos atletas. Fizemos um bom planejamento de grupo, creio que erramos em alguns poucos detalhes, mas é algo perfeitamente normal.

Você disputou sete jogos, com três triunfos, dois empates e duas derrotas. Nesse tempo, aconteceu algumas alternâncias dos atletas, seja subindo ao principal ou descendo aos aspirantes. Acredita que essas mudanças influenciaram para que os resultados não fossem melhores?

Durante esse período, tentamos em um curto espaço de tempo...porque o nosso grupo terminou se apresentando atrasado, quando comparado com outras equipes. Nosso rival, por exemplo, tinha um mês de preparação na nossa frente, enquanto as demais equipes tinham até mais. Ainda ganhamos um tempo, com o adiamento de uma semana do campeonato. Conseguimos equilibrar a equipe na parte física e técnica, utilizar todos os atletas. Jogadores que nunca jogaram uma partida como profissional e isso foi muito importante no Baiano, para criar uma maturidade. Então acredito que toda essa integração de jogadores e comissão técnica foi muito importante na construção desse objetivo.

| Foto: Letícia Martins | EC Vitória

Você trabalhou com várias jovens promessas que o Vitória espera render bons frutos no futuro - a exemplo de Figueiredo, Eduardo e Maykon Douglas. Entre os jogadores, quais te surpreenderam positivamente?

Trabalhamos com um elenco muito dedicado, garotos bastante promissores dentro do clube e também no cenário nacional e internacional. O Vitória sabe muito bem desse potencial e oportunizou eles ao profissional, apesar de muitos atletas já terem atuado na equipe principal e isso deu um bom suporte aos mais jovens na disputa de um campeonato de nível profissional. Acredito que todos deram conta do recado e ficamos muito satisfeito com o trabalho desenvolvido.

Se pudesse escolher o seu pior momento à frente do Vitória nesta temporada, qual seria?

Não diria que houve um pior momento, porque foi tudo um desafio. Início de trabalho a frente de um grande clube, acho que fazer o trabalho que foi proposto era o mais importante, essa manutenção do DNA do clube. Conseguimos em um curto espaço de tempo, fazer uma equipe bastante forte, que rodou muito e, mesmo assim, não mudou a características de jogar, fomos conscientes dos nosso valores. Tivemos bons resultados e eu creio que esse trabalho será muito importante a médio e longo prazo para o clube.

Em decorrência da pandemia de coronavírus, todos os campeonatos foram paralisados. Por consequência, o time de aspirantes foi desmontado, o que resultou no seu desligamento do clube. Como foi esse contato da diretoria com você?

Se eu estivesse na condição do presidente, eu também faria o mesmo com toda essa situação. Não havia porque manter uma comissão técnica e um grupo de aspirantes, sendo que não tem objetivo nenhum no momento. Além disso, ainda tem a questão da redução de custos. Lógico que acaba sendo pior para alguns. Fiquei um pouco surpreso, porque ninguém esperava mas acabou acontecendo. Conversei com o diretor (Alarcon Pacheco) e entendemos como algo normal do clube e 'vida que segue'.

| Foto: Pietro Carpi | EC Vitória

Quando o campeonato foi paralisado, o Vitória somava 11 pontos e ocupava a quarta colocação do Baianão, última dentro da zona de classificação. Caso o certame fosse levado adiante, quais eram as suas expectativas em relação ao time. Acreditava que dava para ser campeão?

Tínhamos um objetivo mas não conseguimos concluí-los. Nosso projeto era revelar os atletas e prepará-los, nossa expectativa sempre foi levar o clube até a decisão e, assim, tentar conquistar o título baiano, que era nosso objetivo. Sigo aqui torcendo pelo sucesso do clube e de todos que ainda estão por lá.

Como tem sido a sua rotina durante esse período de quarentena e isolamento social?

Nossa rotina é ficar confinado, estudando bastante e aproveitando para colocar as coisas em ordem. Tenho outros afazeres também, sou presidente do Sindicato dos Treinadores de Futebol de Santa Catarina e faço parte Federação Brasileira dos Treinadores de Futebol (FBTF). Estamos sempre em contato no que pudemos estar ajudando os companheiros de profissão, trocando informações e conhecimentos. Esse período também é muito bom para refletir sobre a vida e ficar mais próximo da família.

O que você projeta para seu futuro como técnico. Já existe alguma conversa em andamento?

Para o futuro a gente segue aguardando para que aconteça alguma coisa. Muito bom esse trabalho de três, quase quatro meses. O Vitória também dá uma boa visibilidade e isso é muito importante. Tivemos duas propostas de trabalho, de clubes bons e interessantes. Essas sondagens mostram que as coisas vinham acontecendo de uma forma legal e só posso agradecer ao Vitória por essa oportunidade.

*SOB SUPERVISÃO DO EDITOR NELSON LUIS