Finalistas do baianão, dupla BaVi encara realidade do futebol feminino | A TARDE
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Finalistas do baianão, dupla BaVi encara realidade do futebol feminino

Portal A Tarde contou a história das jogadoras que passaram pelo preconceito à final do Campeonato Baiano

Publicado sexta-feira, 08 de março de 2024 às 08:08 h | Autor: Beatriz Amorim
Atleta do Bahia e do Vitória durante treino
Atleta do Bahia e do Vitória durante treino -

Competente. Disciplinada. Capitã. Atleta. Um conjunto de adjetivos que podem definir as homenageadas do dia: as mulheres. Neste oito de março, o Portal A TARDE trouxe mais uma vez a certeza que lugar de mulher é onde ela quiser, inclusive no campo de futebol. 

Para o Dia Internacional da Mulher, conversamos com Aila, zagueira do Bahia, e Iana Freitas, meio-campista do Vitória, que nos contaram os desafios do futebol feminino no estado, sabendo que o mesmo ainda vive cercado de preconceito. Além disso, as atletas projetaram as expectativas da temporada, buscando as melhores colocações na tabela e os títulos, inclusive do Campeonato Baiano, onde decidiram a final na edição passada. 

Meio campista de 26 anos, Iana Freitas nasceu em Salvador e criou vínculos com o futebol através do tio, que tinha um projeto esportivo e sempre lutou pela participação da sobrinha nos campeonatos e jogos. A Leoa da Barra relembrou a trajetória e os desafios que precisou encarar no início da carreira. 

“Eu iniciei jogando futebol em um projeto no meu bairro, Cidade Nova, que foi fundado pelo meu tio e tinha predominância de meninos. Era muito difícil porque só tinha eu de mulher e às vezes fazíamos viagens para disputar alguns campeonatos e muitos não queriam que eu participasse. Porém, meu tio sempre brigou muito por mim e no fim deu tudo certo, graças a Deus. Com 13 anos eu tive a oportunidade de ingressar no Esporte Clube Vitória para disputar o Campeonato Baiano de base e ter passagem por outros clubes, inclusive internacionais”, relembrou a soteropolitana. 

Aila, de 24 anos, nasceu em Rafael Jambeiro, no interior do estado, e atua como zagueira, além de carregar a responsabilidade de ser capitã do Bahia. Sua história na modalidade iniciou através do pai, que tinha um campinho no quintal de casa e sempre reunia amigos para jogar bola. 

“Meu primeiro contato com o futebol foi com meu pai lá no fundo da minha casa, que tinha um campinho e sempre reunia uma galera para jogar aos fins de semana. Então, eu sempre assistia e até participava algumas vezes”, disse a atleta. 

Aila com a faixa de capitã do Bahia
Aila com a faixa de capitã do Bahia |  Foto: Letícia Martins/EC Bahia
  

E por falar no pai, a zagueira contou sobre a relação com a família, que segundo ela, sempre deu apoio ao seu sonho de ser jogadora de futebol, mesmo com os desafios que poderiam vir. Não muito diferente são os familiares da meia rubro-negra, que, de acordo com as palavras dela, a ajudaram na caminhada até o momento atual. 

“Minha família sempre me apoiou, sempre buscou com que eu conseguisse meus objetivos”, relembrou a jambeirense. 

“Graças a Deus eu tenho o apoio da minha família, bastante incentivo da minha avó, dos meus tios, da minha mãe e com certeza isso me ajudou a chegar onde eu estou hoje”, afirmou a atleta do Vitória. 

Em um esporte que tem presença predominante de homens, seja no campo ou nas arquibancadas, o público feminino, por muitas vezes, foi diminuído e desvalorizado. Para Aila e Iana, a realidade não foi diferente, tendo em vista que sofreram preconceitos por carregarem a paixão pelo futebol no peito, sendo inspiração para muitas meninas que desejam ser atletas no futuro. 

“Preconceito a gente sempre sofre. Eu acho que não tem uma menina no futebol feminino que não relate isso. Normalmente começamos nas categorias masculinas e às vezes, quando alguém se destaca, eles não aceitam e a gente acaba sofrendo. Mas não é nada que não possa ser superado para seguir em frente”, declarou Aila. 

“Alguns meninos não queriam que eu jogasse, diziam ‘futebol não é para mulher’, mas outros tinham a opinião contrária e me ajudaram para que eu conseguisse jogar. (...) Mas, na verdade, eu não ligo para as opiniões negativas. Eu procuro não ler comentários ruins e focar nas críticas construtivas, que é o que realmente importa”, disse Iana.

Apesar dos desafios, a persistência feminina no cenário continuará, inclusive, com o auxílio das Federações e dos grandes clubes, como Bahia e Vitória. Segundo as atletas, apesar de ainda não jogarem na elite do Brasileirão, seus respectivos clubes possuem projetos com estruturas para resultarem em bons frutos no futuro. Aila afirmou acreditar que o Esquadrão irá “concorrer para ser top 1”, enquanto a Leoa garantiu que o Vitória “dá muito apoio e suporte". 

“É uma estrutura muito boa, se a gente for comparar no Brasil, é uma das melhores que a modalidade tem, eles nos apoiam bastante. É a iniciação de um projeto, né, uma reconstrução, Bahia vem reformulando a equipe. Para os próximos anos, eu acredito que vai melhorar bastante e, com certeza, concorrer para ser top 1 entre equipes femininas do futebol brasileiro”, opinou Aila. 

“O Vitória tem uma ótima estrutura, que nos dá muito apoio e suporte. Neste ano, com apoio do clube, estamos treinando forte e com muito foco para conquistar os nossos objetivos”, afirmou a soteropolitana. 

Iana durante jogo do Vitória
Iana durante jogo do Vitória |  Foto: Acervo pessoal
 

Na temporada passada, na final do Baianão, o clássico baiano bateu o recorde de torcedores, com mais de quatro mil tricolores nas arquibancadas, tendo em vista que foi torcida única. Apesar do crescimento, Aila ainda nota um afastamento do público masculino, que segundo ela, ainda destila muito ódio através das redes sociais. 

“Vem melhorando, mas a gente ainda vê muito preconceito destilado nas postagens, nos ao vivos, nas transmissões. Porém, eu posso falar aqui, pela equipe, que os torcedores do Bahia nos apoiam bastante. Na final do Baianão, a gente teve uma quebra de recorde, eles compareceram, as torcidas organizadas fizeram festa e nos incentivaram. Então, nesse ano, eu tenho certeza que, nas partidas, eles vão quebrar novos recordes e apoiar cada vez mais”, projetou a jogadora. 

Nesta temporada, o tricolor e o rubro-negro visam voltar à final do Campeonato Baiano, assim como na temporada passada, quando a zagueira Aila levou a melhor. O resultado garantiu a Série A3 (terceira divisão), à Iana, que afirmou estar preparada e ansiosa para o início do torneio. Por outro lado, a representante do Esquadrão, garantiu que a pré-temporada está sendo positiva, com foco total nos objetivos. 

“A gente vem traçando metas e treinando bastante, fazendo uma forte pré temporada para conseguir os nossos objetivos, com certeza iremos em busca do acesso à primeira divisão, mas dessa vez de maneira diferente, queremos subir para não cair mais. Depois desse objetivo iremos em busca de ser campeãs, e para isso, estamos treinando firme, para alcançar as nossas metas”, disse a mulher de aço. 

A meio-campista do Vitória relatou que o clube abriu as portas para mim quando tinha 13 anos e deu oportunidades. “Hoje eu continuo fazendo parte do clube, estamos na preparação para disputar a Série A3 com o objetivo de garantir o acesso e, para isso, estamos com foco total”. 

Com opinião em comum, Aila e Iana acreditam que é necessário ter mais investimento das Federações e dos grandes clubes, assim como dos torcedores. 

“Eu acredito que as equipes precisam dar mais apoio à modalidade, investir mais. Às vezes a gente cobra e nem o mínimo nos é dado. Nos times da Bahia, posso falar com propriedade do meu clube. As Federações precisam investir mais nas competições, o clube tem que investir mais nas atletas, na estrutura, e com certeza, com um suporte maior, a gente vai ter um trabalho melhor para conseguir grandes coisas para o estado e para a região”, opinou Aila. 

Diante dos desafios, é necessário encarar a modalidade já pensando nas gerações que virão, visando um crescimento exponencial. Assim, as jogadoras acreditam que essa seria a melhor forma de, cada vez mais, ver mulheres com orgulho de representar os times do estado. 

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