ESPORTES
"O Neymar seria um reserva na Copa de 2002", diz Vampeta
Por Diego Adans e Marcelo Machado

Extrovertido e gozador como sempre, o baiano Vampeta, campeão do Mundial de Clubes da Fifa pelo Corinthians em 2000 e da Copa do Mundo pela Seleção Brasileira em 2002, concedeu entrevista exclusiva ao A TARDE, em conversa por telefone. O ex-jogador, que atualmente ocupa a função de vice-presidente do Grêmio Osasco (SP), falou sobre a nova atividade, comentou sobre a fase de descrédito da Seleção Brasileira, cornetou o craque Neymar e ainda contou 'causos' do Papai Joel. E não se furtou a dar o seu palpite para o Ba-Vi de hoje.
O que o Vampeta tinha que os jogadores de hoje não têm?
Malandragem e humildade. Você pode até procurar, mas não acha alguém que tenha aquele jeito malandro visto, por exemplo, no Beijoca, no Dadá, no Zico, no Djalma Santos, e por aí vai. Além disso, falta humildade. Os moleques mal começaram na carreira e já tem carro importado, usam grife etc. Calma! Tudo tem seu tempo.
E o que dizer da Seleção atual do Felipão em comparação à que foi penta em 2002?
Aí é fácil falar, não é? Falta qualidade e líderes. Técnico tem, não tem jogadores. Em 2002, vou listar aqui quem tinha: Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo, Ronaldo, Kaká... esses aí todos foram melhores do mundo. Continuando... Roberto Carlos, Cafu, Lúcio, Edmilson, Edilson... Ou seja, só craques. Hoje, Felipão tenta montar um time. O Neymar, com 21 anos, é o fora de série. É muita responsabilidade. Só ele que se diferencia. É complicado.
Acha que o descrédito hoje com a Seleção é maior do que naquele tempo?
Lógico. Naquele tempo, você podia formar cinco seleções brasileiras. Em 2002, ficou uma 'leva' de grandes jogadores fora do Mundial. Não se lembra? Vou novamente citar alguns atletas: Felipe, Juninho Pernambucano, Zé Roberto, Élber, Sonny Anderson... Vários. Atualmente, não se forma uma seleção sequer. Tá complicado!
O Neymar, que é tido como o astro da geração atual, teria vaga como titular na Seleção de 2002?
Teria... no banco. Seria um bom banco. Em 2002, Neymar não chegaria nem aos pés do Ronaldinho Gaúcho, do Rivaldo ou do Ronaldo, que formavam o ataque da Seleção. O trio dos "R", como falavam na época, estava voando em campo. O Neymar ficaria quietinho, caladinho no banco de reservas.
Concorda com os críticos que dizem que o Felipão está defasado como técnico?
Não. Só por um detalhe: não há novidade no mercado. Volta e meia, a imprensa brasileira elogia o Mourinho (técnico do Real Madrid), o técnico do Barcelona (Tito Vilanova). Dizem que são grandes técnicos e tal. Aí, lhe pergunto: o que aconteceu no meio da última semana? Os dois clubes espanhóis levaram pau na Liga dos Campeões. O todo-poderoso Barça levou um sacode de 4x0 (do Bayern de Munique) e o Real também tomou um sapeca de 4x1 (do Borussia Dortmund). Quero dizer com isso que não há o cara, o técnico. O Felipão não está ultrapassado, falta jogador bom à sua disposição. Mas o que ele fez contra o Chile? Pegou os melhores atletas do Brasil. Ou seja, tem feito o certo. Ao menos, segue uma lógica de trabalho.
E você acha que podemos evoluir nessa reta final de preparação? O hexa virá?
Eu vou te falar... Se a Copa fosse fora do país, na Argentina, por exemplo, não haveria chance alguma do Brasil ser campeão. Mas confio que pelo fato de o Mundial ser aqui, em nossa casa, a torcida será o grande diferencial. Ela irá nos ajudar e seremos hexa, sim. Em geral, é o time que empolga a torcida, não é? Acho que será o inverso em 2014. A torcida vai apoiar a Seleção e venceremos.
Quais são as seleções favoritas na sua visão?
As tradicionais mesmo. Além do Brasil, é claro, Itália, Argentina, Alemanha, França, Inglaterra e Espanha.
E o Brasil como sede? Vamos pagar mico ou dar um show?
Vai dar show. Ainda não tive a chance de ir na nova Fonte Nova, no novo Maracanã, nos estádios já prontos. Mas sei que apesar de tudo, dos atrasos, da burocracia em si, está se caminhando.
Atualmente, você é vice-presidente do Grêmio Osasco. Quais as características do Vampeta dirigente?
Sou bem tranquilo. Mantenho um diálogo sadio com os jogadores. Sou audacioso, mas, é claro, tenho os pés no chão. Sei até onde posso ir. Não podemos prometer o que não podemos cumprir. Osasco é o terceiro município que mais arrecada em São Paulo. Então nosso objetivo é levar o clube à elite paulista. Estamos na segunda divisão, a A2, batemos na trave este ano. Em 2014, quem sabe não teremos sorte melhor?
Já fez alguma inovação?
Não. Não tenho tamanha autonomia. Nem sempre a minha opinião é a que vale. Ainda tem a figura do presidente. Opino, mas não mando. Além disso, sou amante das coisa antigas, do jeito antigo de conduzir o futebol.
Pode mulher na concentração?
Isso eu nunca vi no futebol. Não tem um clube que autorize isso. Caso faça, libere (a presença das mulheres), isso transformará a concentração num verdadeiro brega.
Qual sua avaliação dos dirigentes do futebol brasileiro, seja na CBF, federações, clubes...
Como tinha dito... sou um pouco à moda antiga. Gostava muito do estilo do Paulo Carneiro (ex-presidente do Vitória), do Vicente Matheus (ex-presidente do Corinthians), do Paulo Maracajá (ex-presidente do Bahia), do Mustafá Contursi (ex-presidente do Palmeiras)... Porque estou dizendo isso? Porque esses caras defendiam os clubes. Tinham malandragem, no bom sentido, é claro, de tornar o clube grande. Hoje em dia, não vejo malandragem, por exemplo, nas contratações. A entidade não é tão bem representada.
Após a queda do Ricardo Teixeira, que ficou 23 anos no poder da CBF, há críticas e denúncias ao José Carlos Marín, o atual presidente...
Vou abrir um parêntese. Aliás, os números atestam: Ricardo Teixeira foi o cara que mais conquistou títulos pela Seleção. O torcedor brasileiro tem que comemorar isso. Eu não sei o Marín, que está chegando agora, mas o Ricardo foi o maior vencedor com a Seleção. Pode ter defeitos, não sei. Mas eu vejo muito mais qualidades nele.
Se Zico e Romário fossem candidatos à presidência da CBF, quem apoiaria? Por quê?
Zico. O país todo tem admiração por ele. Além disso, tem um perfil disciplinador. Por fim, acho que faria uma dobradinha boa com o Parreira (atual coordenador técnico da seleção brasileira). Os dois são caras íntegros.
Por fala em Romário, ele faz sucesso como deputado federal. Assina embaixo?
Sim. Ele tá surfando na onda da Copa. Batendo em cima dessa tecla, dos problemas do Mundial. Está bem. Aprovo, sim, a sua atuação.
Você não se elegeu como candidato a deputado estadual em São Paulo, em 2010. Fará uma nova tentativa na política?
Não tenha essa vontade, não. Na verdade, na época, o Corinthians praticamente me impôs. Em 2010, trabalhava na base do Timão. E eles vieram com a proposta. Mas não fiz nem campanha. Sequer fui às comunidades. Não tinha a cara de pau de ir num local e pedir voto, sem ter feito nada pelas pessoas. Como experiência foi bastante válida.
Diferentemente de muitos boleiros, você parece não ser adepto das redes sociais...
É... Não sou fã de Twitter e Facebook. Não gosto de ficar teclando direto, muita exposição. Para mim, e-mail e celular já está bom demais.
Em entrevista recente, você afirmou: "o São Paulo é mesmo metidinho". Isso depois da famosa história dos bambis... Os torcedores do São Paulo já chegaram a te ameaçar?
Não. Nunca. Óbvio que os caras não gostam. Porém, eles respeitam minha opinião. Eles até me tratam bem, acredite se quiser (risos).
Por falar nisso, você irritou o Thomaz Bellucci ao dizer recentemente que tênis é esporte de bambis. Pensa mesmo isso?
Sim. Peço desculpas se ele não gostou, mas é assim que vejo este esporte.
Dizem que na sua infância, em Nazaré das Farinhas, você torcia pelo Bahia. Mas iniciou a carreira no Vitória. E aí, é tricolor ou rubro-negro?
Gosto muito do Bahia. Só não torço para o Bahia quando é Ba-Vi. Fora isso... Agora, devo muito ao Vitória. Afinal, foi o clube que me deu o empurrão na minha carreira. Amo o diabo e Deus ao mesmo tempo. Vê se pode... (risos).
Joel Santana é o atual técnico do Bahia. Ele já te treinou no Fluminense-RJ e Brasiliense. Tem algum 'causo' dele?
Sim. Quem me contou essa foi o Gilmar Fubá, ex-volante do Corinthians. Cheguei lá em 1998. Em 97, o Timão tinha perdido para o Santos na Vila Belmiro. Na volta para São Paulo, a Gaviões da Fiel, revoltada, parou e apedrejou o ônibus da delegação corintiana. Na segunda-feira, Joel reuniu o grupo no campo para falar mal do Alberto Dualib (ex-presidente do Corinthians), do Nesi Curi (vice do Timão) e do restante da diretoria. Com a velha prancheta, Joel começou: 'a culpa do Corinthians estar nessa situação, não é de vocês jogadores, não.... Só que nisso, vem caminhando, atrás dele, toda a diretoria do clube. Aí, o Marcelinho Carioca e o Gilmar começaram a fazer sinal, alertando o Joel para ele não falar mal da diretoria. Esperto, o Papai se ligou e bem alto falou: a culpa dessa situação não é de vocês jogadores, não. É da Diretoria, que contratou esses jogadores todos ruins. (risos)
E quanto ao Ba-Vi de hoje? Dê seu palpite.
O Vitória ganha.
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